"O Brasil é campeão do mundo em partos cesarianos", afirma a epidemiologista Silvana Granado Nogueira da Gama, da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) da Fiocruz. Foi essa a constatação que motivou o trabalho de seu grupo de estudos na investigação dos fatores médicos, econômicos e culturais que levam às altas taxas de partos operatórios no país, sobretudo em serviços privados.
O estudo foi composto de entrevistas e consultas aos prontuários de 437 grávidas. Para selecionar as instituições participantes, o critério foi, além do grande volume de partos, a clientela heterogênea das unidades, que atendem mulheres de diferentes classes sociais, faixas etárias e níveis de escolaridade.
Em relatório encaminhado à Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), a equipe da Fiocruz relatou que, embora 70% das gestantes não tenham manifestado preferência pela cesariana no início da gravidez, 90% delas tiveram esse tipo de parto. A justificativa para a mudança incluiu principalmente complicações como hipertensão, circular de cordão e alto peso do feto.
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Para detectar a real necessidade de parto operatório, os pesquisadores contaram com a avaliação independente de dois obstetras, que, caso divergissem, discutiam o caso para chegar a um consenso. A análise apontou que 91,8% das indicações de cesáreas foram inadequadas, de acordo com as observações no prontuário das pacientes.
"Essas taxas não parecem se relacionar a fatores exclusivamente médicos, mas também a questões socioeconômicas e culturais", explica Silvana.
Segundo a pesquisa, entre os motivos para a opção pela cesariana estão o medo de sentir dor no parto normal - apesar da anestesia peridural -, a preferência do parceiro, o histórico familiar, a experiência de partos anteriores e o desejo de ligar as trompas.
A pesquisadora alerta ainda que a literatura médica assinala a possibilidade de complicações maternas e neonatais associadas à realização de cesarianas sem indicações obstétricas reais.
Fonte: Agência Fiocruz