A informação sobre a trajetória da Aids no Brasil é uma ferramenta valiosa para a gestão e pesquisa em saúde. Em função disso, uma parceria entre o Programa Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde, o Centers for Disease Control and Prevention Global Aids Program Brazil e o Centro de Informação Científica e Tecnológica (Cict) da Fiocruz criou o Sistema Nacional de Monitoramento em Aids (MonitorAids) (http://157.86.8.37/frames.htm), que facilita o acesso dos profissionais de saúde e demais interessados a indicadores da doença no Brasil, como a cobertura de testes de HIV em gestantes, o percentual de infecção dos recém-nascidos além dos gastos do governo.
O MonitorAids cruza dados de Sistemas de Informações do PN-DST/Aids; de inquéritos, como a Pesquisa de Conhecimento, Atitudes e Práticas na População Brasileira (PCAP-BR, 2004) do Ministério da Saúde, além de outras fontes oficiais, traçando uma análise do panorama atual da epidemia do HIV/Aids no país.
Dados do monitoramento mostram que, em 2004, 96% das gestantes brasileiras realizaram pelo menos uma consulta pré-natal. Porém, o teste de HIV, recomendado pelo SUS, só foi solicitado para 75% das grávidas. Das mães que fizeram o exame, 35% não souberam o resultado antes do parto. Vale lembrar que esse diagnóstico evita a transmissão materno-infantil. Segundo o MonitorAids, a estimativa da transmissão do vírus de mãe para filho é de 7% com desigualdade entre as regiões. Enquanto no Sul, o numero é de 6%, no Nordeste, chega a 15%.
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Em relação aos gastos com a doença, o MonitorAids aponta a oscilação dos recursos. Se em 1997, foram investidos R$ 379 milhões, dois anos depois, o valor chegou a R$ 1,1 bilhão e, em 2002, a verba destinada ao tratamento e prevenção da Aids foi de R$ 800 milhões.
O sistema foi desenvolvido pelo Programa Nacional de DST e Aids (PN-DST/Aids), Centro de Informação Científica e Tecnológica (Cict) da Fiocruz e a instituição internacional Centers for Disease Control and Prevention e programa Global Aids Program Brazil.
Comportamento sexual dos brasileiros
No MonitorAids, também é possível colher informações sobre os hábitos dos brasileiros. De acordo com o sistema, 95,9% da população, com idade entre 15 e 54 anos, reconhece o uso do preservativo como forma de prevenção. Porém, apenas 38,4% dos indivíduos sexualmente ativos da mesma faixa etária informam terem se protegido na última relação sexual. Mas este número muda com relação aos homossexuais masculinos com idade entre 15 e 49 anos. Entre esse grupo, o uso regular de preservativo sobe para 44,4%.
Os indicadores apontam que mais de um milhão de brasileiros (1,1% da população), com idade entre 15 e 49 anos, fazem ou fizeram uso de drogas injetáveis, fato que aumenta a possibilidade de infecção por hepatite e HIV, caso as seringas sejam compartilhadas.
O sistema aponta, que para 15,2% dos brasileiros, o uso compartilhado de talheres e copos pode levar à infecção por HIV. Outro dado preocupante é que 14% da população entende que o uso de banheiros públicos é um foco de transmissão. No entanto, 67,1% dos brasileiros demonstraram saber corretamente dos riscos.
A doença no Brasil
A epidemia de Aids estoura mundialmente nos anos 80. Quando o vírus era pouco conhecido e de difícil tratamento, a doença foi atribuída a alguns grupos considerados de risco: homossexuais, bissexuais e receptores de sangue. No Brasil, o perfil dos portadores de HIV era o mesmo e a Aids se concentrava, principalmente, no Rio de Janeiro e São Paulo, além de outras metrópoles do Sul e Sudeste.
Na década seguinte, a transmissão heterossexual do vírus aumentou, devido ao crescimento do número de usuários de drogas injetáveis (UDI), em sua maioria homens, que contaminavam suas parceiras. A epidemia se alastrou por todos os estados, ainda que primordialmente nas cidades de médio porte (200 a 500 mil habitantes), sobretudo no Sul e no Centro-Oeste.
Após a década de 90, a sociedade assiste ao que os especialistas chamam de "heterossexualização" do HIV, resultando num crescimento expressivo de casos entre as mulheres. Esse fato pode ser justificado pelas relações extraconjugais, sejam elas entre homens ou com profissionais do sexo, além dos UDIs. A expansão da epidemia entre os heterossexuais tem causado problemas como o aumento de casos de crianças infectadas por transmissão materno-infantil. Hoje, a "heterossexualização" do HIV disseminou a doença por todo o território nacional.