Milhares de pessoas participaram de manifestações a favor e contra o fechamento do canal privado de televisão RCTV, no domingo (27), na capital da Venezuela, Caracas.
A emissora, o canal privado mais antigo e popular do país, não teve sua licença renovada e saiu do ar à meia-noite do domingo. Poucos segundos depois, apareceu na tela das televisões o logo da TEVES, uma emissora que tem patrocínio estatal.
O presidente venezuelano, Hugo Chávez, assumiu em um pronunciamento que todas as emissoras do país tiveram que transmitir, a responsabilidade pela decisão.
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"Esta estação de TV se tornou uma ameaça ao país, então decidi não renovar a licença porque era a minha responsabilidade", disse ele, segundo a agência de notícias Associated Press.
"Liberdade"
Funcionário da RCTV se abraçaram e gritaram "Liberdade!", antes de baixar a cabeça e oraram em prantos durante os últimos minutos da emissora no ar.
"Vida longa para a Venezuela. Nós vamos voltar em breve", disse um apresentador antes que o hino nacional fosse entoado e a tela indicou o fim das transmissões.
A RCTV ainda poderá ser vista em cabo, mas ter perdido a freqüência para transmissão pública vai privar a empresa da maior parte de sua audiência.
Ocupação
Manifestantes pró-Chávez se reuniram em frente ao Ministério das Comunicações para celebrar o evento.
"Concordo com o que está acontecendo", disse uma mulher à BBC. "Temos que apoiar nosso presidente. Eles foram longe demais e não o respeitaram. Foi demais."
Na frente da emissora, manifestantes contrários à decisão disseram que Chávez está cerceando suas liberdades individuais.
O Diretor-Geral da RCTV, Marcel Granier, disse no domingo que a decisão de Chávez seria ilegal.
"Não perdemos a esperança de que antes da meia-noite o presidente aja sensatamente ele ainda tem a oportunidade de corrigir este comportamento abusivo, arbitrário e ilegal", disse ele.
A polícia chegou a usar canhões de água, gás lacrimogêneo e disparar balas de borracha para dispersar alguns manifestantes que atiravam pedras contra os policiais.
Em várias partes de Caracas, partidários de Chávez comemoraram com fogos de artifício o fechamento da emissora, a única que se alinha à oposição e tem alcance nacional.
Polêmica
A RCTV está no ar há 53 anos e é o canal privado mais antigo e de maior audiência da Venezuela.
Desde seu anúncio, a decisão do presidente tem provocado polêmica e muitos protestos.
Na quinta-feira (24), Chávez ridicularizou as críticas feitas pela União Européia e pelo Senado americano contra a medida.
Na sexta-feira (25), o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) da Venezuela determinou que equipamentos e infra-estrutura da emissora RCTV sejam colocados à disposição da Comissão Nacional de Telecomunicações (Conatel).
A Conatel poderá, de acordo com a Justiça, conceder o uso do equipamento para outro operador. Esse operador deverá ser a Televisora Venezolana Social (TEVES), recentemente criada pelo governo de Hugo Chávez para ocupar a freqüência atualmente utilizada pela RCTV com uma programação classificada como de "serviço público".
Com essa decisão judicial, a TEVES poderá cobrir grande parte do território venezuelano desde suas primeiras horas de transmissão.
A TEVES lançou programas que Chávez disse que refletiriam melhor a sociedade venezuelana, inclusive um filme sobre o herói da independência Simon Bolívar.
O governo entrou com recursos da ordem de US$ 4 milhões para o lançamento da nova emissora.
A oposição venezuelana disse que a decisão judicial de sexta-feira representa a expropriação dos equipamentos de transmissão de um canal privado de televisão.
Fonte: BBC Brasil