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Vai encarar?

Monte Everest: R$ 270 mil e 3 anos para subir a fila

Murillo Ferrari - Agência Estado
02 jun 2019 às 11:12

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- Pixabay
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Desde 1953, quando o neozelandês Edmund Hillary e o sherpa Tenzing Norgay chegaram pela primeira vez ao cume do Monte Everest, cerca de 5 mil pessoas já repetiram o feito e conquistaram o topo do mundo, a 8.848 metros de altitude. Mas, mesmo com todo o avanço tecnológico, a escalada continua sendo extremamente perigosa.


Em seis décadas, mais de 300 pessoas morreram - 11 delas neste ano - em expedições que fracassaram em razão do clima, de avalanches, tempestades, mas também por erros de planejamento, que podem resultar, por exemplo, na falta de oxigênio.

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Especialistas ouvidos pelo jornal O Estado de São Paulo estimam que, para reduzir os riscos, são necessários, em média, três anos de preparação e investimento de R$ 270 mil - incluindo R$ 45 mil entre cursos e testes práticos em locais de menor exigência técnica e R$ 40 mil de equipamento. Além disso, a jornada ao topo do Everest propriamente dita, que dura cerca de 50 dias, não sai por menos de R$ 185 mil, já incluindo o transporte até o Nepal, a taxa de R$ 43 mil (US$ 11 mil) paga ao governo para obter a permissão de escalada, a logística necessária nos acampamentos de apoio e a companhia de um guia local - um sherpa. Para alguns, o gasto em tempo e dinheiro é maior.

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O empresário Francisco Amaral, de 39 anos, decidiu mudar seu estilo de vida sedentário e se empenha desde 2015 em concretizar a aventura. "Desde a escola, tive muito contato com a natureza, com trilhas e trekking. Quando resolvi cuidar de mim e buscar novos desafios, veio a ideia do Everest. A primeira coisa que pensei foi: preciso me preparar", afirmou.

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Desde então, passou a treinar, recuperou condicionamento físico, investiu na formação técnica - com cursos de escalada em rocha e em neve - e comprou equipamento. Fez subidas em locais mais acessíveis - no Equador, na Bolívia e na África - e foi, gradualmente, aumentando a dificuldade. Nesse processo, ele calcula ter gastado pelo menos R$ 155 mil. "É uma estimativa. Não considerei mensalidade de academia, personal trainer, alimentação adequada, entre outros fatores", disse.


Em comparação com o começo da preparação, ele perdeu cerca de 10% de seu peso. "Treino seis vezes por semana, 2 horas por dia. Faço fortalecimento muscular, trabalho aeróbico e cardiopulmonar", conta Amaral, que pretende subir o Everest entre abril e maio de 2020. "O último passo deve ser em setembro, quando tentarei escalar o Manaslu (oitava montanha mais alta do mundo, com 8.156 metros, também no Himalaia)."

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Até a base do Everest (a 5.380 metros), Francisco terá a companhia da mulher, Daniela. "Para mim, não faria sentido fazer isso se ela não estivesse junto", disse. Depois, ela volta ao Brasil, onde esperará com os três filhos do casal a chegada de Amaral ao cume. "Vou tentar chegar ao topo, mas com a segurança em primeiro lugar. O montanhismo tem de ser um meio de vida, não um meio de morte."


Na fila

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Uma foto com centenas de alpinistas enfileirados na chamada "Zona da Morte" do Everest, congestionados a mais de 8 mil metros de altitude, chamou recentemente atenção para os riscos em uma jornada altamente perigosa. Carlos Santalena, que já subiu três vezes até o topo, diz que a situação é reflexo de uma questão mais profunda: o controle de quem é autorizado a escalar o Everest que, segundo ele, fica mais a cargo das agências de turismo do que do governo do Nepal.


"Hoje, com toda a tecnologia que temos, é muito mais fácil reconhecer com antecedência as janelas de bom clima para tentar (chegar) ao cume", diz Santalena, ao explicar porque essa não é uma justificativa plausível para o engarrafamento.

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Para ele, dificilmente a situação será alterada pelo governo do Nepal - de onde parte a maioria das expedições - em razão do prejuízo que a restrição causaria. Segundo o New York Times, considerando todos os aspectos econômicos envolvidos, a escalada do Everest proporciona US$ 300 milhões por ano em receitas ao país, um dos mais pobres do mundo.


"Falta ao Nepal impor um crivo e não permitir que qualquer pessoa que pague possa escalar o Everest, além de ser ativo na decisão sobre as datas que cada agência deve ter para levar as pessoas ao topo, com base nas informações climáticas", diz.

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Entre outras mudanças que Santalena cita como positivas estão a implementação de um limite de permissões por temporada, com sorteio, se houver mais interessados, além da exigência de comprovação de escalada em outras montanhas com mais de 8 mil metros.


A Associação de Montanhismo do Nepal também defende que o governo fiscalize se os montanhistas cumprem pré-requisitos antes de receberem a permissão de escalada. "O governo deve criar políticas rígidas para impedir que alpinistas inexperientes tentem escalar o Everest", afirmou ao NYT Santa Bir Lama, presidente da entidade.


Lama também acusa as agências que oferecem pacotes de estarem mais preocupadas com o lucro do que em garantir que as regras de segurança sejam cumpridas e cobra que o governo passe a emitir as autorizações com meses de antecedência - e não dias, como ocorre hoje -, para que os montanhistas tenham tempo de se preparar.

Na quarta-feira, porém, durante evento para celebrar a primeira escalada ao topo do Everest, funcionários nepaleses disseram não haver nenhum plano para limitar as escaladas. Segundo Gokul Prasad Baskota, ministro da Comunicação, o congestionamento não é causado pelo excesso de permissões, mas sim em razão da falta de treinamento de alguns montanhistas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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