Há 30 anos, o Chile vivia um de seus mais sombrios dias. Em 11 de setembro de 1973, morria em Santiago do Chile o presidente Salvador Allende.
A data marcou o fim do sonho da construção de uma nação socialista e o início de uma das mais ferozes ditaduras da América Latina, sob o comando do general Augusto Pinochet.
Allende, cercado pelas tropas golpistas, preferiu o suicídio a render-se. Seus últimos momentos de resistência e agonia foram testemunhados por poucos, entre eles, Oswaldo Puccio, atual embaixador do Chile no Brasil.
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Em um depoimento emocionado, o chileno relembra aquele dia que o transformou em um prisioneiro político. Pelas décadas que se seguiram, ele viveu no exílio, perseguido, como tantos outros, pelo regime militar.
Na madrugada do golpe, ele acompanhava o pai - secretário particular de Allende - até o palácio presidencial. Puccio, na époco um jovem estudande de direito de 20 anos, presenciou bem de perto a resistência do líder socialista.
"Foi uma manhã muito tensa, na busca de uma última solução política para o conflito. No início o presidente não acreditava que o general Pinochet estivesse envolvido no golpe. Allende acreditava em sua lealdade", conta.
Mais tarde, as pessoas foram indo embora seguindo a recomendação presidencial. Prevendo a impossibilidade de uma vitória, Allende disse que não queria que ninguém se sacrificasse.
"Sobraram 40 pesssoas. Recebemos capacetes, fuzis e metralhadoras. Muitas foram assassinadas depois pelos militares. Foram horas de resistência e aí vieram os bombardeios aéreos", relembra o embaixador.
Num último gesto, Allende tentou obter dos chefes golpistas que a Força Aérea parasse de bombardear os bairros pobres de Santiago, onde havia muitos partidários do governo.
"Meu pai e dois ministros saíram para dialogar e foram presos. Pouco depois, o presidente se suicidou no seu gabinete, sentado na cadeira presidencial".
O embaixador foi preso junto com outros defensores do palácio que tinham sobrevivido. Acabaram condenados à morte, pena que acabou não sendo aplicada.
Expulso do país, Puccio ficou oito anos no exílio e voltou ao Chile em 1984, incorporando-se à direção clandestina do Partido Socialista. Foi o porta-voz do partido nos últimos anos da ditadura.