O cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio de 76 anos assume o papado tendo nos últimos anos cobrado maior justiça social na América Latina e combatido a adoção de uma lei que autorizava o casamento entre pessoas do mesmo sexo no seu país. O papa Francisco nasceu em 17 de dezembro de 1936 em Buenos Aires. O arcebispo da capital argentina será o primeiro latino-americano e o primeiro jesuíta a comandar a Igreja.
"Parece que meus irmãos cardeais foram quase até o fim do mundo (para escolher um papa)", disse ele, em tom de brincadeira, à multidão na praça de São Pedro em seu primeiro discurso.
De acordo com relatos, Bergoglio disputou voto a voto a cadeira de papa com o então cardeal Ratzinger no último conclave e somente sua renúncia à disputa possibilitou a eleição do cardeal alemão.
Um artigo publicado à época pela revista italiana Limes disse que Joseph Ratzinger foi eleito com 84 votos e seu único rival foi Bergoglio.
Leia mais:
Louis Vuitton lança coleção para pets com casinha de cachorro a R$ 340 mil
Justiça de Hong Kong reconhece direitos de moradia e herança para casais do mesmo sexo
Homem que nasceu no dia do naufrágio do Titanic morre aos 112 anos
França pede 20 anos de prisão a marido de Gisèle Pelicot, dopada e estuprada por dezenas de homens
Idade
No entanto, especialistas já não o viam como um favorito para ser o sucessor de Bento 16 devido à sua idade. Aos 76 anos, ele é somente dois anos mais novo do que Joseph Ratzinger na época de sua eleição em 2005.
A decisão dos cardeais de elegê-lo pode se justificar pelo fato de que Bergoglio agrada tanto os conservadores quanto os reformistas da Igreja, já que é visto como ortodoxo em temas sexuais, por exemplo, mas também defensor de mudanças, como no tocante à justiça social.
"Vivemos na parte mais desigual do mundo, a que mais cresceu, mas a que menos reduziu a miséria", ele teria dito em uma conferência de bispos latino-americanos em 2007, segundo o National Catholic Report.
"A distribuição injusta dos bens persiste, criando uma situação de pecado social que clama aos céus e limita as possibilidades de uma vida plena para tantos de nossos irmãos." Por ser jesuíta, também não se espera que Bergoglio encabece reformas de grande impacto. Os membros da ordem professam a "obediência cega" e o não questionamento às decisões da Igreja.
Polêmicas
O cardeal é considerado da ala "moderada" da igreja latino-americana. No entanto, sua relação com o governo argentino de Néstor e, em seguida, Cristina Kirchner, foi marcada por críticas duras. O ex-presidente Néstor Kirchner chegou a classificar o cardeal como um "expoente da oposição".
A presidente Cristina Kirchner procurou uma reaproximação com a igreja e a diminuição das tensões com o cardeal, mas ambos se enfrentaram em 2010, quando tramitava no Congresso um projeto de lei que permitia o casamento de pessoas do mesmo sexo.
Bergoglio, segundo o jornal La Nación, caminhou diante de uma manifestação contra o casamento gay e enviou uma carta a todos os sacerdotes, pedindo que se falasse em todas as missas sobre o "bem inalterável do matrimônio e da família".
Na época, o cardeal disse que o projeto de lei era "um ataque destrutivo aos planos de Deus". Em abril de 2010, uma investigação do jornal argentino Página 12 publicou cinco depoimentos que o apontavam como colaborador da repressão durante os governos militares na Argentina. A informação parecia haver sepultado sua possibilidade real de se tornar papa.
Simplicidade
Jorge Mario Bergoglio é técnico em química e filho de um funcionário de estrada de ferro. Ele foi nomeado cardeal pelo papa João Paulo 2º em 2001 e é tido como um sacerdote aberto e simpático. "Em favor de Bergoglio está sua atitude pastoral, como eles dizem na Igreja - seu relacionamento com as pessoas", disse Leandro Pastor, um professor de filosofia da Universidade de Buenos Aires, que conhece o cardeal há mais de 30 anos.
"Ele é um homem muito simples. É muito austero. E também acho que é um homem inteligente e muito bom comunicador." Segundo seu porta-voz, Guillermo Marco, andar de metrô e de ônibus e realizar missas em lugares simples eram hábitos que ele cultivava em Buenos Aires. O bispo Eduardo Garcia, também de Buenos Aires, o definiu como "humilde" e "preocupado com os pobres".
"Ele é assim também no cotidiano. Ele é um pastor, que sabe comunicar o que pensa e em defesa dos pobres, dos mais humildes. Ele tem uma serenidade típica de um pastor, agora o pastor dos pastores. Todos aqui nos emocionamos até às lágrimas quando o nome dele foi anunciado", disse após o anúncio do Vaticano."
"A forma como ele falou, nas suas palavras como papa, foram exatamente as que dizia aqui. Que rezemos por todos e por ele." A saúde pode trazer problemas para o novo papa. Durante mais de 20 anos, ele vive com somente um pulmão funcionando, que diz estar em "boa forma".