A polícia da Espanha acredita que uma planta amazônica, que provoca alterações de consciência e perda de memória, pode estar relacionada a cerca de 15% dos casos de estupros registrados na capital, Madri, neste ano.
A planta, conhecida como saia branca e zabumba no Brasil, tem como principío ativo a substância escopolamina e entrou no mercado europeu por meio da Espanha, onde é chamada de burundanda ou droga dos estupradores.
"Estamos investigando muitos casos de estupros de mulheres que recordam ter consumido uma substância que desconhecem e só recordam o que aconteceu antes e depois", disse a porta-voz do serviço de atenção a mulheres da polícia municipal de Madri, Ester Zarátegui.
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"Na maioria das vezes, seus casos se perdem em registros clínicos genéricos porque são situações delicadas, que nem sempre são denunciadas, implicam humilhações e vergonha. Agora, por meio de exames de sangue e análises psicológicas, estamos constatando o aumento de crimes com agressões mediante o uso da escopolamina, possivelmente em torno de 15% neste ano", explicou.
Bebidas - Processada, a planta tem a aparência de um pó branco, inodoro e de sabor amargo. Normalmente, ela é consumida em bebidas, misturada com álcool ou café. Também é encontrada em versão spray para ser inalada ou borrifada em líquidos.
"Basta de cinco a dez gramas para conseguir o efeito tóxico e sedante. A droga é absorvida pelo canal gastrointestinal, atingindo o sistema nervoso central e periférico. Em caso de alta dosagem, pode ser mortal", disse a doutora Laura Bernal, representante da Associação Espanhola de Toxicologia.
O efeito da burundanda começa com ressecamento da boca. A produção de saliva diminui rápido, a visão fica turva e depois surgem convulsões, taquicardia, hipertensão arterial, dilatação de pupilas, dificuldades para engolir e falar, cegueira transitória, retenção de urina e a pele fica avermelhada pela vasodilatação cutânea.
Entre uma e duas horas depois de ter consumido a droga, a vítima entra em estado quase inconsciente, tornando-se submissa. Ao se recuperar, o que acontece de forma espontânea, ela não é capaz de lembrar o que aconteceu.
Na América do Sul, inclusive no Brasil, oficialmente desde os anos 50, a escopolamina serve como base de remédios anti-espasmódicos para combater cólicas e dores abdominais. A planta já é a segunda maior causa de intoxicações na Colômbia, onde começou sendo usada em rituais de cura.
Policiais espanhóis ouvidos pela BBC Brasil disseram ter conhecimento de que investigações feitas sobre o uso da droga no Brasil estariam relacionadas à prática de cirurgias ilegais e tráfico de drogas.