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Quase 11 mil brasileiros no exterior não conseguem voltar para casa em meio à pandemia

Flávia Mantovani - Folhapress
24 mar 2020 às 09:20
- Pixabay
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Com o fechamento de fronteiras terrestres e aéreas decretado em vários países em meio à pandemia de coronavírus, milhares de turistas brasileiros se viram sem voo de volta, sem poder sair do hotel por causa da quarentena e sem saber quando poderão voltar para casa.

A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), que lançou um formulário online para cadastrar brasileiros que tinham passagem comprada para retornar, mas não conseguem por causa das restrições, recebeu até o fim da tarde desta segunda-feira (23) quase 11 mil cadastros de pessoas nessa situação.

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O objetivo do formulário, afirma o órgão, é "oferecer um diagnóstico de onde estão essas pessoas para facilitar esse trâmite junto ao Ministério das Relações Exteriores, empresas aéreas e autoridades de aviação dos demais países".

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Já o Itamaraty divulgou ter registro de 6.000 pessoas que procuraram ajuda consular para a repatriação, das quais metade conseguiu voltar para casa até agora.

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Entre os países com mais brasileiros nessa situação, segundo o cadastro da Anac, estão Portugal, Peru, México e África do Sul. Nos locais onde há mais turistas, eles se reúnem em grupos de WhatsApp, se organizam para ir às embaixadas ou aos aeroportos para obter informações e trocam dicas de hospedagens e estabelecimentos que ainda estão abertos para comprar comida.


Muitos estão ficando sem dinheiro e há gente dormindo dentro do aeroporto. Nas redes sociais e nas conversas que alguns tiveram com a Folha, a maioria reclama de não obter informações com as companhias aéreas e com os consulados e embaixadas.

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O Itamaraty, por sua vez, criou um grupo para gerir a crise e diz que tem negociado com os governos que fecharam as fronteiras ou o espaço aéreo –por exemplo, o do Peru– e com as companhias aéreas, para que abram voos extras.


Também afirma que está dando assistência aos brasileiros que se encontram nessa situação, com especial atenção a casos de pessoas doentes ou com outros problemas mais sérios. De fato, alguns deles relataram à Folha terem recebido contatos e ajuda de embaixadas e consulados.

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Já saíram voos de repatriação de países como Peru, Marrocos e Portugal. O órgão afirma que suas representações continuam trabalhando "incansavelmente" para repatriar os brasileiros, mesmo quando precisam funcionar em regime diferenciado por causa das regras de quarentena determinadas pelos governos de cada país.


O ministério não está arcando com os custos das viagens, "inclusive por falta de previsão legal", afirma. Questionado se planeja fretar aviões comerciais ou usar aviões da FAB (Força Aérea Brasileira), respondeu que está focado em "garantir o retorno dos brasileiros usando voos comerciais disponíveis", mas que pode considerar outras opções, "dependendo da evolução dos acontecimentos".

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Enquanto isso, alguns brasileiros gravam vídeos de apelo, para ver se conseguem despertar a atenção para seus casos. Muitos dizem que quando saíram de viagem não esperavam que a situação fosse se agravar a esse ponto.


No Peru, os que estão fora de Lima, especialmente em Cusco, tiveram dificuldade para conseguir hotéis que ainda aceitam turistas, já que a maioria fechou por causa da quarentena decretada pelo presidente Martín Vizcarra no último domingo (15).

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Desde a terça-feira (17), comércios não essenciais tiveram que parar as atividades e as fronteiras terrestres e aéreas do país foram fechadas, com exceção apenas aos voos negociados por representações diplomáticas. Os turistas relatam alta de preço nas poucas hospedagens que restaram e nos preços de alimentos. O país tem 395 casos confirmados e cinco mortes.


Em Lisboa, um vídeo ao vivo mostrou vários brasileiros no aeroporto internacional, tentando remarcar voos que foram cancelados. Eles afirmam que as poucas passagens disponíveis para o Brasil estão sendo vendidas por preços que chegam a R$ 14 mil.

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O depoimento de brasileiros que não conseguem retornar:


Lisboa (Portugal)


"Minha família conseguiu ir embora no dia 19 e meu voo estava marcado para o dia 20. Mas cancelaram e tive que comprar outra passagem. Jogaram meu voo para o dia 1º de abril, sem me dar nenhuma explicação. Desde então estou na espera, dormindo no aeroporto. Nos últimos dias, houve situações sérias aqui. Pessoas de 60, 70 anos dormindo no chão do aeroporto, sem amparo. A polícia ameaçou nos expulsar à meia-noite, com um frio de 10º C lá fora. Um casal embarcou com a filha de três anos, mas não deixaram eles entrarem no voo com o cachorro da família. Tiveram que abandoná-lo lá. Acabei fazendo alguns amigos aqui. Todos voltaram e agora estou sozinho."
Rafael Muniz, 32, microempreendor


Cusco (Peru)


"Estou com minha esposa e meu filho de 11 anos. Ele tem retração no tímpano, fez duas cirurgias no ouvido e vem sofrendo dor e outras consequências da altitude. Era para voltarmos no dia 19, mas agora não sabemos quando conseguiremos ir. Teve um voo de repatriação e nosso nome estava na lista divulgada pelo governo brasileiro. Mas chegando no aeroporto, não estávamos na lista da companhia aérea. Tem gente aqui com câncer, com remédio no fim. O Itamaraty fala uma coisa, a embaixada fala outra, a companhia aérea outra. A cidade está sitiada, tem muita gente sem dinheiro. Tinha duas israelenses que estavam tranquilas, disseram 'nosso país vai nos buscar onde estivermos'. Com a gente não está sendo assim."
Marco Antônio Evangelista, 50, delegado


Gaborone (Botsuana)

"Vim fazer trabalho humanitário na Zâmbia, mas por problemas de violência local, nos mandaram para Botsuana. Agora não consigo sair daqui. Sou ítalo-brasileira, nascida no Brasil, mas moro há dois anos em Turim. Estou apenas com meu passaporte italiano e agora ninguém entra na Itália. O passaporte brasileiro ficou na minha casa, estou tentando fazer outro na embaixada, mas não sei se vou conseguir. Éramos cinco mulheres no meu grupo e todas já voltaram para seus países. Aqui ainda não tem muitos casos, mas é uma questão de dias. E a estrutura do sistema de saúde é zero. Preciso me apressar."
Lucy Mazera, 49, doutora em serviço social


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