A tecnologia trouxe inquestionáveis benefícios para a vida do homem moderno. Seja na medicina, informática, comunicação, telecomunicações ou facilitando nosso dia a dia.
Ocorre que algumas pessoas não conseguem limitar o uso dessa tecnologia em suas vidas e o efeito acaba sendo contrário: ao invés de serem beneficiadas, essa pessoas passam a ser prejudicadas. É o caso, por exemplo, de pessoas que se "viciam" na internet. Começam usando o computador por algumas horas, todos os dias, e quando menos esperam se flagram dependentes do equipamento e de tudo que a web pode oferecer. Essa relação de dependência pode ocasionar diversos problemas físicos, emocionais e comportamentais. Têm pessoas que até mesmo "piram" se não tiverem acesso ao computador por um dia.
Preocupados com essa comportamento nocivo, pesquisadores e entidades, como universidades e associações, passaram a pesquisar e oferecer tratamento para o que vem sendo chamado de tecnoestress, o estresse causado pela tecnologia.
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Uma dessas entidades é a International Stress Management Association - Isma/Brasil, associação sem fins lucrativos que atua em 12 países com o objetivo de pesquisar o estresse e sensibilizar o poder público e o empresariado sobre a necessidade de melhoria na qualidade de vida dos trabalhadores.
Segundo Ana Maria Rossi, presidente da Isma/BR, a entidade realizou em 2005 uma pesquisa com 1,2 mil homens e mulheres sobre o tecnostress, 60% dos entrevistados declararam ter alguma sequela por causa do problema. O site da Isma disponibiliza um teste gratuito de nível de stress, confira no www.ismabrasil.com.br.
Ana Maria Rossi responde a seguir, as principais dúvidas sobre o tema.
O que é o tecnostress?
É o estresse causado pela tecnologia e pode ser muito amplo. Por exemplo, pelo uso excessivo da tecnologia, a complexidade, a não-familiaridade, o não-conhecimento, a ambição ou a necessidade frequente de atualização dos programas. Pessoas mais inflexíveis e que gostam menos da parte tecnológica têm um grande estresse com as mudanças.
Como é feita a pesquisa sobre o problema?
Realizamos testes com instrumentos que são validados no Brasil e então enviados para os participantes. No caso da nossa pesquisa, foram encaminhados para profissionais, as pessoas responderam e fizemos uma análise estatística para interpretar a resposta deles.
Quais os principais sintomas do tecnostress?
As pessoas nem sempre se identificam como tendo o tecnostress. Ela pode avaliar se teve alguma alteração no uso da tecnologia, se não tinha algum sintoma e apareceu de repente, por exemplo, se dormia super bem e começou a ter insônia, ou dor cabeça, passou a se isolar dos amigos, se os mais próximos começaram a cobrar a participação nas coisas do dia-a-dia. Outra coisa importante também é se a pessoa começar a mentir a respeito do uso do computador, por exemplo, passa três horas e diz que ficou duas.
Pode-se considerar esse comportamento como uma dependência?
Sim, é uma dependência que pode ocasionar diversos problemas físicos, emocionais e comportamentais. Têm pessoas que se não tiverem acesso ao computador piram. Em aviões é comum gente desesperada, ansiosa para dar uma última olhada nas mensagens do celular ou então fazer uma ligação. Isso é uma dependência
Como prevenir e tratar?
É importante conhecer o seu comportamento, querer mudar e estabelecer ações. Porque às vezes a pessoa passa 10 horas na frente do computador, está afetando a qualidade de vida; família e amigos estão se afastando. Mas é o que gosta de fazer, então não há razão para mudar. Pelo menos não que a pessoa identifique como tal. Depois vem a parte da intervenção, é preciso estabelecer limites, baseado em como está afetando sua vida. Por exemplo, checar o e-mail duas vezes por dia, navegar na internet em horários definidos, e ter algum mecanismo de gratificação para que o esforço valha a pena. Mas a solução não cai do céu, vai exigir um autodiagnóstico e um autoplanejamento.
Quais as principais fontes do tecnoestress?
Em primeiro lugar o notebook, depois celular, computador e bip. Mas há outros aparelhos também. Atendi uma senhora que ficou desesperada porque havia um evento na Espanha que queria gravar, um sobrinho dela acertou todo o equipamento, teria de apertar um botão apenas e na hora ela se atrapalhou e apertou o botão errado, desarmando tudo. A mulher começou a chorar desesperada, frustada.
Mesmo os de menor poder aquisitivo podem sofrer de tecnostress?
Sem dúvida. O celular é hoje uma das principais fontes. Ele virou um instrumento de trabalhador braçal; o pedreiro, a faxineira usam para se comunicar com os clientes. Acredito que as pessoas de poder aquisitivo maior estão na faixa do notebook e do blackberry.