Saint’Clair Assis Silva foi um homem cuidadoso com a esposa. Londrinense, era fã de Bruce Springsteen e de Pearl Jam. Também tinha uma coleção de moedas desde o ano de 1870. Perito em matemática, cursou engenharia, mas trabalhava como analista de programação.
Raquel Cardozo Silva, sua companheira, conta que o conheceu quando tinha 14 anos. Ela havia se mudado de São Paulo para Londrina e estudava no Colégio Mãe de Deus. Saint’Clair costumava passar tempo na biblioteca municipal. Mais velho que Raquel, conheceram-se porque ela havia se perdido no caminho de volta para casa e ele a ajudou a encontrar o endereço. Depois disso, ficaram amigos e encontraram-se durante todo o ano. "Tomávamos caldo de cana nas tardes", lembra Raquel.
"Sam", como era carinhosamente chamado, mudou-se para o Rio de Janeiro para entrar na escola de aviação. Ele queria ser piloto. Formou-se, mas não exerceu a profissão. Raquel só foi encontrá-lo anos depois, quando ela estava na faculdade de direito. "O escritório onde eu fazia estágio prestava serviço para a empresa do pai dele e nos reencontramos."
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"Meu primeiro e único namorado", conta Raquel. "O homem mais culto e erudito do planeta, ensinou tudo que sei." Ele a ensinou a dirigir, por exemplo. Raquel lembra que era divertido já que ele tinha a formação de piloto.
Casaram-se em 2010. A família tinha dois cachorros: Tobias e Saul.
Em 2014, Raquel adoeceu e perdeu os movimentos. A atenção e o cuidado de Sam foram partes do tratamento. Foram dois meses em que ela apenas movia a cabeça e Sam a ajudava a se vestir, a comer, a tomar banho e a pentear o cabelo. "Ficava muito brava porque ele não conseguia fazer meu cabelo do jeito que queria, e ele ria e dizia que iria fazer um curso de cabeleireiro para cuidar dos meus cabelos", comenta, lembrando que Sam se esforçava muito assistindo vídeos no YouTube para aprender a arrumar seu penteado.
"O dia em que voltei a andar ele dizia ‘luz na passarela que lá vem ela’, e eu com aquelas muletas horrorosas. Seus beijos eram analgésicos e suas orações minhas forças", recorda.
O zelo também veio de Raquel, quando Sam adoeceu. "Ele tinha depressão. Eu tocava 'Wonderful Tonight', do Eric Clapton, e músicas do Tchaikovsky para ele no piano, e isso ajudava ele a dormir", lembra. "Sentirei a falta dele todos os dias."
Saint'Clair Assis Silva, 9 de outubro de 2017, aos 47 anos.
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