O cardeal arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, pode ser a surpresa do conclave que, nos próximos dias, começa a escolher no Vaticano o futuro papa. Essa é a opinião do especialista em religião Daniel Alvarez, da Universidade Internacional da Flórida.
Segundo Alvarez, a ascendência alemã de Scherer "o conecta à Europa", o que fortaleceria sua posição para ser escolhido para assumir o pontificado.
O especialista acredita que um embate entre os que querem reformar a administração da Igreja Católica e os que querem manter o status quo estaria pautando a eleição.
Leia mais:
Prefeitura de Cambé abre PSS para contratação de agentes de combate às endemias
BR-376 é bloqueada após deslizamento de terra em Nova Esperança
Detran disponibiliza página de estatísticas para consultas sobre veículos
Prefeitura de Apucarana faz limpeza em escolas atingidas pela chuva
Um exemplo do embate identificado pela analista se deu na quinta-feira, quando o jornal italiano La Repubblica publicou uma entrevista com um dos ''corvos'', uma gíria para delator em italiano e uma alcunha para os que participavam do grupo que vazou informações do Vaticano, no caso conhecido como Vatileaks.
Um relatório da situação, que mostraria escândalos financeiros e sexuais, teria motivado a renúncia de Bento 16 e estaria pautando as discussões sobre o novo papa.
Outro suposto exemplo da tensão na Igreja foi percebido um dia antes, quando jornalistas aguardavam ansiosos declarações dos cardeais americanos, que vinham concedendo uma série de entrevistas coletivas diárias sobre o processo de escolha do próximo papa, mas a coletiva acabou sendo cancelada de última hora.
O Vaticano vetou as entrevistas dos cardeais. Pouco depois, os religiosos americanos emitiram uma nota de duas frases que se limitava a dizer que tinham um ''compromisso com a transparência''.
Confira a entrevista.
BBC Brasil - Os cardeais vão unidos para a Capela Sistina ou há divisões internas?
Daniel Alvarez - Creio que há conflitos internos. Há um grupo que quer a suspensão de altos funcionários e até de cardeais que por décadas operaram sob uma cultura de corrupção, cumplicidade de silêncio e encobertamento de sacerdotes pedófilos. Cito por exemplo Rioger Mahoney, Bernard Law (ambos dos Estados Unidos), Sean O’Brady (Escócia), Castrillón Hoyos (Colômbia), Angelo Sodano e até Tarcisio Bertone (ambos italianos). Também querem que o relatório submetido a Bento 16 se torne público. Destaca-se o cardeal Cristoph Schönborn, de Viena, que em 1998 bateu de frente com Angelo Sodano, por este não querer investigar o cardeal emérito de Viena, Hans Hermann Groër, por abuso de menores. Ele defende abertamente o fim da cultura do acobertamento.
BBC Brasil - Qual é o outro grupo?
Alvarez - O outro grupo é formado por quem quer manter o status quo, quem quer imunidade a críticas e represálias aos mais altos funcionários da igreja. O candidato que eles menos querem como papa é Schönborn.
BBC Brasil - Qual é o papel do Vatileaks na eleição do novo papa? Isso preocupa os cardeais?
Alvarez - Claro que sim. Eles temem que as revelações (contidas no relatório) os incluam e tudo indica que o vazamento de informações vai continuar. As revelações expuseram a crise no Vaticano e esta crise não é uma invenção da imprensa liberal ou italiana.
BBC Brasil - Além do conteúdo do bombástico do relatório, o que mais divide os cardeais?
Alvarez - Primeiro a falta de transparência nos assuntos do Vaticano e na conduta da Cúria, incluindo as finanças e a gestão do Banco Vaticano. Segundo, a disposição de alguns de remover dos cargos padres pedófilos e até cardeais que os protegeram (os padres). Terceiro, a eleição de um papa africano ou da América Latina. O último continente tem 40% dos católicos e é pouco representado no colégio cardinalício. A maioria dos cardeais, 62, são europeus. Por fim, o tema do celibato, o papel da mulher na igreja e o uso de anticoncepcionais também são temas de divisão.
BBC Brasil - Alguma aposta sobre quem será o novo papa?
Alvarez - Angelo Scola, de Milão, seria o favorito de Bento 16 e de muitos. Schönborn parece ser o papa de que a igreja precisa urgentemente. Mas Odilo Scherer, de São Paulo, pode ser a surpresa do conclave. Sua ascendência alemã o conecta à Europa. Marc Oullet, do Canadá, também não pode ser ignorado. Ele fala espanhol, viveu muitos anos na Colômbia e isso o ajudaria. Tem laços europeus, latino-americanos e norte-americanos.