Indiciado por estelionato pelo Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado (Gaeco) no final do mês passado, o ex-vereador Gérson Araújo (PSDB) não terá a conduta investigada pela Câmara Municipal de Londrina. Procurado pelo Bonde nesta segunda-feira (2), o presidente do Legislativo, Professor Fabinho (PPS), garantiu que a Casa está aberta para responder quaisquer questionamentos do Gaeco e da Justiça, mas descartou que abrirá um processo para apurar as práticas cometidas pelo tucano enquanto ele era parlamentar. "Estamos à disposição e abertos para receber, se for o caso, uma representação por parte da sociedade ou dos próprios vereadores pedindo pela apuração do caso", destacou, lembrando, também, que o tucano teve o mandato de vereador cassado em julho deste ano e, por isso, não tem como a Comissão de Ética da Câmara investigá-lo. "Ele já deixou o cargo e não pode responder a processos disciplinares", completou.
Um dos fatos citados pelo Gaeco no inquérito já apresentado ao Ministério Público (MP) teria sido praticado por Araújo enquanto ele era vereador, em março de 2013. De acordo com as investigações, o tucano confeccionou, à época, um requerimento que previa a desapropriação de uma área adquirida pela construtora Iguaçu do Brasil, suspeita de lesar dezenas de famílias com a venda de imóveis que sequer chegaram a ser construídos em Londrina. "O documento, não apresentado na Câmara de Vereadores, foi utilizado pela construtora para fazer pressão contra a família que havia sido proprietária do terreno", contou o delegado Alan Flore ao Bonde em entrevista no final do mês passado.
O terreno em questão, ainda conforme o delegado, só foi vendido pela família para a Iguaçu, em outubro de 2012, após interferência do então assessor de Araújo, William Godoy, também indiciado pelo Gaeco por estelionato. Na época, o tucano era prefeito interino de Londrina e Godoy, então chefe de gabinete do Executivo, teria ligado para os proprietários e dito que o município tinha a intenção de construir uma Vila Olímpica na área. "Ele estimulou os proprietários a venderem o local (à Iguaçu) para evitar um possível processo de desapropriação", observou Flore.
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A área em questão fica localizada em frente ao Autódromo Internacional Ayrton Senna, na zona norte de Londrina. A Iguaçu chegou a iniciar algumas obras no local, mas os trabalhos foram paralisados logo após as denúncias de fraude contra a construtora virem à tona, no início de 2013.
Vale lembrar que Araújo nega as acusações de forma veemente. O ex-vereador confirmou que assinou o documento, mas não o apresentou no Legislativo por achá-lo "sem sentido nenhum". "A minha equipe recebeu a demanda, fez o requerimento e eu assinei. No entanto, sempre fazia uma revisão de todos os documentos e esse não foi protocolado", alegou ao Bonde logo após o indiciamento.
Segundo o tucano, alguém, que ele não soube informar quem, entrou na sua sala escondido e "tirou um xerox do requerimento". Ele garantiu, ainda, que não possui nenhuma relação com a Iguaçu do Brasil. "Não tem nada a ver. Nunca tive contato com ninguém da empresa. Só ouvi falar dela pela imprensa, e muito mal inclusive", disse.
O ex-assessor de Araújo, por sua vez, assumiu, em entrevista à Folha de Londrina, que ligou para os proprietários da área descrita no inquérito do Gaeco. "Fui atrás para descobrir de quem era (o terreno), mas não houve interesse da proprietária. Foi uma conversa rápida. Passou quinze dias, ela me retornou com interesse em fazer negociação com a prefeitura, mas não havia estudo algum", disse Godoy, negando que agiu com o objetivo de beneficiar a Iguaçu do Brasil.