Quase 30 anos depois, o desaparecimento e a morte de Evandro Ramos Caetano, em 1992, em Guaratuba, no litoral do Paraná, ganharam repercussão com uma série de oito episódios desenvolvida pela Globoplay, plataforma de streaming do Grupo Globo. O trabalho dos diretores Aly Muritiba e Michele Chevrand é fruto do podcast Projeto Humanos, do jornalista Ivan Mizanzuk, que ultrapassou 9 milhões de downloads. Além das telinhas, o caso também repercute em desdobramentos no meio jurídico.
Uma das novidades foi a extinção da ficha criminal de Beatriz Abagge, uma das sete pessoas acusadas de matar Evandro. Ela é filha de Aldo Abagge, prefeito da cidade na época, e de Celina Abagge, que também chegou a ser detida pelo suposto crime. Em resumo, a decisão do último dia 2 de junho da juíza da Vara Criminal de Guaratuba, Marisa de Freitas, elimina qualquer antecedente de Beatriz. A única pendência era justamente ao possível assassinato. Segundo o Ministério Público, a então acusada teria encomendado o homicídio de Evandro.
Detidas em 92, Beatriz e Celina passaram por um primeiro júri em 1998, mas foram absolvidas. Anos depois, em 2011, após o julgamento ter sido anulado, apenas a filha foi submetida novamente ao Tribunal, quando acabou condenada a 21 anos e quatro meses em regime fechado. Em 2016, pela mudança no entendimento do STF (Supremo Tribunal Federal) da prisão em segunda instância, um mandado de detenção foi expedido. Porém, como já tinha cumprido parte da pena, o Tribunal de Justiça do Paraná concedeu perdão de pena a ela.
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Em entrevista à FOLHA, o advogado Samir Mattar Assad, que defende a Abagge, descreveu que o despacho da Justiça de Guaratuba tem efeitos extrajudiciais. "Coloca um ponto final nessa história. A Beatriz nunca se envolveu em outro delito, e a juíza considerou isso. Ela recentemente concluiu o curso de Direito e passou no exame da OAB, mas está impedida de exercer a advocacia por força da própria entidade. Com a inocência reforçada pela magistrada, creio que o órgão pode mudar de posição e, assim, dar essa autorização", explicou.
"É uma condenação"
Procurada pela reportagem, Beatriz Abagge criticou a posição do OAB. "É mais uma forma de dizer que eu sou culpada. Culpada do quê? Eles (OAB) devem rever seus conceitos porque estou, mais uma vez, sendo punida. Nunca fui criminosa. Todo mundo me conhece, vivo em uma cidade pequena (ela é funcionária pública da Prefeitura de Guaratuba). Nem multa de trânsito tenho. Sempre agi conforme a lei", salientou.
Para a juíza, Beatriz demonstrou "possuir trabalho honesto e juntou documentos que levam a crer que apresentou bom comportamento público e privado". A reportagem pediu manifestação da OAB, que ainda não retornou o pedido. Ela e a mãe ficaram conhecidas como as "Bruxas de Guaratuba", nome dado pela imprensa porque o Grupo Águia, setor pertencente à Polícia Militar do Paraná, e o Ministério Público acreditaram piamente que Evandro Caetano havia sido assassinado em um ritual.
Aldo Abagge sempre disse que a família era inocente. Ele morreu enquanto Celina e Beatriz estavam detidas, mas mãe e filha puderam acompanhar os últimos dias de vida do político no hospital. Elas foram acusadas junto com Osvaldo Marcineiro, Vicente de Paula Ferreira (que morreu na prisão em 2011 por conta de um câncer), Davi dos Santos Soares, Aírton Bardelli e Francisco Sérgio Cristofolini.
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