Começo de ano letivo é sempre uma preocupação a mais para os pais, que têm que arcar com a tão temida lista de material escolar. Enquanto nas famílias mais abastadas o problema se divide entre conseguir comprar todos os itens que tragam o personagem da hora e não ser explorado pelo comércio, nas classes média e baixa a questão se resume mesmo ao custo. Em muitos casos, os pais não têm a mínima idéia de onde irão tirar dinheiro para comprar os cadernos, mochilas e livros para os filhos.
Para piorar a situação, a maioria dos materiais escolares teve aumento de preços em relação ao ano passado, segundo pesquisa divulgada há poucos dias pelo Procon do Paraná. Acostumados a driblar dificuldades, os pais fazem o que podem para diminuir o impacto das despesas escolares. Na última terça-feira, a dona de casa Marcia Moreira Busignani da Cunha saiu de casa com os filhos de 11 e seis anos para tentar comprar os itens das duas listas. Para diminuir os gastos, a família que se mudou no final do ano de Maringá para Londrina resolveu colocar os dois filhos em escola pública.
''Desta vez a despesa deve ser menor. No ano passado gastamos cerca de R$ 300,00 com os livros e mais uns R$ 200,00 com a lista de materiais. Minha filha quis tudo do Sítio do Pica-Pau Amarelo. Este ano estou intercalando os itens de marca com outros mais baratos'', disse Marcia, que esperava gastar uns R$ 100,00 só com os materiais básicos, como lápis, canetas, cadernos, borracha.
Uma das dicas de quem quer economizar é não levar os filhos para a maratona de compras (eles sempre se rendem aos apelos dos personagens preferidos da TV).
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Foi o que fez Geane Alves Aguilera que, pesquisando preços, também conseguiu reduzir as despesas em relação ao ano passado, quando gastou em torno de R$ 280,00, sem contar as apostilas do colégio particular (R$ 45,00 a cada bimestre com cada uma das duas filhas). As compras de material básico este ano ficaram em R$ 170,00. Os uniformes em R$ 108,00. ''Não priorizo os materiais de marca'', diz Geane.
A empresária Edileusa Rocha pensa diferente. Ela tem consciência dos modismos que reinam nas papelarias e, por consequência, nas salas de aula. Mas diz que em determinados casos prefere pagar mais caro para garantir a qualidade. ''Este ano preferi comprar tudo do jeito que eles queriam, porque assim fico tranquila para o resto do ano. Quando a gente faz opção por itens mais baratos, tem que ficar repondo o ano inteiro.'' Só com os itens de papelaria (incluindo duas mochilas) ela calcula ter gasto R$ 350,00. E ainda faltam os livros da filha (R$ 190,00).
Edileusa observa que é difícil fugir dos apelos dos filhos, principalmente em se tratando das escolas particulares, onde o poder aquisitivo é maior. ''Muitas vezes é um desfile de moda. Existem mães que incentivam os filhos a se exibir. E os que não tem a mochila, o caderno, a caneta com o personagem do momento, acabam ficando excluídos.''
Os filhos da personal trainer Gisela Jalikji Cury sempre têm os seus desejos atendidos na hora de escolher a marca ou modelo dos materiais que vão acompanhá-los no ano letivo. Um privilégio que não sai barato: Gisela calcula ter gasto em torno de R$ 200,00 com cada um dos filhos maiores (10 e oito anos) só repondo cadernos, mochilas, estojos e canetas. Mas os mais caros são os livros: aproximadamente R$ 500,00. Mais os uniformes (cerca de R$ 100,00), a personal calcula uma despesa que beira a casa dos mil reais com cada filho. ''Não tem jeito, é preciso renovar tudo a cada ano. Eles exigem a mudança'', justifica.
Uma realidade bem diferente da vivida pela família de dona Luiza Delesma, cinco filhos, moradora do Jardim Monte Cristo (zona oeste). Ela bem que gostaria de poder aproveitar mais itens já utilizados pelos filhos no ano passado, mas só uma mochila e os uniformes serão reaproveitados. ''Ainda não sei como vou comprar tudo. Sou viúva e das 10 pessoas da casa só meu genro está fazendo uns bicos. A gente tem que se virar para pôr de comer dentro de casa.''
Situação parecida vive Vilma Santos Costa, 8 filhos, moradora da invasão Novo Amparo 2 (zona leste). Entre os muitos problemas do dia-a-dia, está a falta de dinheiro para comprar material escolar e uniformes. Em época de chuva, quando para sair do lugar é preciso enfrentar muito barro, faltam também sapatos para os filhos. Dias atrás, dona Vilma preocupava-se com a volta às aulas: ''No ano passado meu marido estava fazendo uns bicos e deu pelo menos para comprar caderno para as crianças. Este ano não sei o que vou fazer.''