O Ministério Público Federal (MPF) em Paranaguá denunciou os 19 tripulantes do navio MV SEREF KURU, de bandeira maltesa, por tortura, racismo, e tentativa de homicídio. A tripulação é acusada abandonar o camaronês Wilfred Happy Ondobo em alto-mar. O crime aconteceu em junho deste ano. A denúncia foi protocolada na Justiça Federal de Paranaguá no dia 10 de agosto.
O camaronês entrou clandestinamente no navio no Porto de Douala (Camarões). Em depoimento, Ondobo afirmou que foi agredido verbal e fisicamente, além de ter sido privado de sono e mantido em uma pequena cabine, antes de ser obrigado a sair do navio, em mar aberto. O homem permaneceu à deriva em um pallet (estrutura de madeira usada no transporte de cargas) por cerca de 11 horas, até ser resgatado por um navio que vinha do Chile. O fato teria ocorrido a aproximadamente 8 milhas náuticas (quase 15 quilômetros) da costa brasileira.
Ondobo contou, em depoimento, que permaneceu escondido por oito dias até que sua comida e água acabassem. Quando foi descoberto, disse que levou chutes no peito e tapas no rosto, chegando a ficar desacordado. Segundo ele, um dos agressores disse que "não gostava de preto" e que para ele "todos são animais". Ao longo da viagem, o clandestino recebia duas refeições diárias e, à noite, alguns tripulantes batiam na porta e na janela para evitar que ele dormisse. Depois de 11 dias no navio, por volta das 19h, o camaronês recebeu uma lanterna e 150 euros da tripulação e foi obrigado a sair do navio.
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Em um primeiro momento, a tripulação do navio negou que tivesse ocorrido qualquer episódio envolvendo um clandestino a bordo. No entanto, em buscas e apreensões realizadas a pedido do MPF e autorizadas pela Justiça, foram arrecadados vários elementos que indicam a presença do camaronês no navio, tais como a compatibilidade da descrição de detalhes do interior da embarcação e, ainda mais contundente, a localização e apreensão de uma fotografia que a vítima escondeu com objetivo de comprovar sua permanência no local.