A PF (Polícia Federal) de Londrina deflagrou, na manhã desta quarta-feira (30), a Operação Ventríloquo, para combater fraudes envolvendo empréstimos consignados contratados com documentos falsos em nome de beneficiários do INSS. Cinco mandados de busca e apreensão foram cumpridos, dos quais três em Londrina e dois em Ibiporã (Região Metropolitana de Londrina).
Segundo o delegado Joel Moreira Ciccotti, responsável pela investigação, o grupo criminoso é organizado em diferentes níveis e já causou um prejuízo de, pelo menos, R$ 830 mil. “Há desde líderes que coordenam todo o esquema e ficam com a maior parte dos valores, até pessoas que emprestam contas bancárias ou acompanham idosos às agências da Caixa Econômica para abrir contas e contratar os empréstimos fraudulentos”, explicou.
De acordo com a PF, a organização criminosa identificava beneficiários da Previdência Social e produzia documentos falsos com os dados dessas pessoas, incluindo fotos de quem iria se passar por elas. Com esses documentos, os golpistas abriam contas bancárias em agências bancárias de diferentes cidades e, poucos dias depois, contratavam empréstimos consignados. O dinheiro era creditado nessas contas e imediatamente transferido para outras contas e sacado, dificultando o rastreamento.
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“Essas operações eram feitas em série. A mesma pessoa usava a própria foto em vários documentos falsos, com nomes diferentes. Esse padrão ajudou a PF a identificar que se tratava de um mesmo grupo operando em diversas cidades”, afirmou Ciccotti.
Em várias cidades
A investigação da PF em Londrina identificou, desde 2024, seis golpes aplicados em Sarandi (região metropolitana de Maringá), dois em Jaguapitã (região metropolitana de Londrina), um em Apucarana (Centro-Norte) e dois em Cornélio Procópio (Norte Pioneiro). Entretanto, de acordo com Ciccolli, a suspeita é que os envolvidos tenham ampliado a área de atuação para o Norte Pioneiro e até os Campos Gerais.
Para executar a fraude, pessoas — principalmente idosos em situação de vulnerabilidade — eram aliciadas para participar do golpe, muitas vezes por vizinhos ou conhecidos. “Elas recebiam uma pequena quantia para ir até a agência bancária, abrir a conta e permitir que o empréstimo fosse feito. Depois disso, sumiam”, explicou o delegado.
O nome da operação, “Ventríloquo”, vem do fato de que os envolvidos, com menos idade, levavam as pessoas aliciadas, passando-se por parentes, como sobrinhos, e falavam por eles nas agências.
A PF também identificou envolvidos que emprestavam contas bancárias para receber os valores. Parte dessas pessoas teria conhecimento do esquema e recebido comissões em troca.
Já os verdadeiros titulares dos benefícios previdenciários, segundo o delegado, são vítimas. A Caixa Econômica, responsável pelos empréstimos, acabava arcando com os prejuízos, já que os segurados contestavam as operações que não haviam autorizado. Em outros casos, ao identificar a fraude, a própria instituição restituía os valores.
Prisões anteriores e novas provas
Uma das principais investigadas já havia sido presa em flagrante no ano passado, quando tentava aplicar o golpe ao lado de uma idosa, em uma agência em Cornélio Procópio. Ela responde em liberdade, mas, foi detida novamente, na última sexta-feira (25) agindo de forma semelhante em Piraí do Sul (Campos Gerais) – no dia seguinte, foi colocada em liberdade.
Durante as buscas desta quarta-feira, foram apreendidos documentos falsos e celulares com sinais de que haviam sido formatados diversas vezes — o que, segundo a PF, reforça a suspeita de que os aparelhos eram repassados pelo grupo para uso temporário pelas pessoas que aceitavam participar dos golpes.
“Em um dos casos anteriores, identificamos um celular que praticamente não tinha dados. A perícia indicou que ele já havia sido formatado diversas vezes. Hoje, encontramos mais aparelhos com as mesmas características”, revelou o delegado.
Crimes mais graves
A PF trabalha agora para aprofundar a responsabilização criminal dos envolvidos. Inicialmente, o inquérito apurava crimes de estelionato. No entanto, com os novos elementos, há indícios de organização criminosa, lavagem de dinheiro e falsificação de documentos públicos.
“A estrutura do grupo vai além de simples golpes isolados. Há uma divisão de tarefas, movimentações coordenadas de valores e um claro padrão de atuação. Dependendo do que for apurado a partir dos materiais apreendidos, os envolvidos poderão responder por crimes mais graves”, disse Ciccotti.
Um ponto ainda sem resposta na investigação é como os dados dos segurados do INSS chegaram às mãos dos criminosos. O delegado não descarta que possam ter sido obtidos de forma ilícita, mas afirmou que, até o momento, não há indícios de vazamentos internos em instituições como o INSS ou a Caixa Econômica Federal.
“Nós precisamos entender como essas informações foram parar com o grupo. Isso está sendo investigado. Há uma possibilidade de que exista um nível acima dentro da organização, formado por pessoas que detêm acesso privilegiado a esses dados. Mas ainda é cedo para afirmar qualquer coisa”, destacou.