Um Lamborghini Urus ostentado nas redes sociais da advogada e influenciadora Deolane Bezerra, presa nesta quarta-feira (4) no Recife, foi central para a descoberta de seu envolvimento em uma suposta organização criminosa que atua em jogos ilegais e lavagem de dinheiro e que teria movimentado quase R$ 3 bilhões.
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A Justiça de Pernambuco manteve a prisão da advogada após audiência de custódia nesta quinta-feira (5), um dia após sua detenção em operação da Polícia Civil. Procurada, a defesa de Deolane não se manifestou até a publicação. No dia da prisão, ela declarou ser vítima de perseguição e injustiça.
O carro, de cor roxa e adquirido no segundo semestre de 2023, pertencia anteriormente à empresa Esportes da Sorte, apontada como principal agente no esquema investigado. A casa de apostas virtual fundada na capital pernambucana com atuação em todo país tem no time de embaixadores Deolane Bezerra.
Desde quarta, a influenciadora e sua mãe, Solange Bezerra, estão detidas na Colônia Penal Feminina do Recife. Elas são apenas 2 dos 19 alvos da operação.
O Lamborghini, adquirido pela influenciadora através de sua empresa Bezerra Publicidade e Comunicação LTDA por R$ 4 milhões, foi revendido pouco tempo depois, o que chamou a atenção dos investigadores.
A reportagem teve acesso à decisão judicial que autorizou os mandados e contém detalhes do suposto esquema revelado pela operação Integration.
Ao autorizar os mandados de busca e prisão, a juíza Andréa Calado da Cruz disse que as medidas precisavam ser aplicadas com urgência para evitar que "os investigados se desfaçam dos bens produto do crime ou adquiridos com recursos obtidos por meios criminosos".
"Há indícios suficientes do cometimento do crime de lavagem de capitais", diz a magistrada.
A respeito da compra e venda do veículo, a juíza aponta que tal atividade "sugere uma tentativa de ocultar e disfarçar a origem ilícita dos recursos" e que a "a compra e venda rápida de um bem de alto valor é um método clássico de lavagem de dinheiro".
Em seu depoimento à polícia na manhã de quarta, Deolane confirmou que recebia dinheiro da casa de apostas por meio de contratos publicitários, segundo foi revelado pelo Jornal do Commercio e confirmado pela reportagem.
Entretanto, ela negou seu envolvimento em crimes de lavagem de dinheiro. O CEO da Esportes da Sorte, Darwin Henrique da Silva Filho, é um dos outros alvos de mandado de prisão da operação, mas não foi localizado pela polícia. Sua defesa afirmou que ele iria se entregar nesta quinta, mas até a publicação isso não havia ocorrido.
O pai dele, Darwin Henrique da Silva, dono da banca de bicho Caminho da Sorte, também teve mandado de prisão expedido. De acordo com o advogado da família, Pedro Avelino, ele não pretende comparecer ao chamado das autoridades.
MÃE DE DEOLANE MOVIMENTAVA DINHEIRO PARA EMPRESA LIGADA A BET
A mãe de Deolane, Solange Bezerra, também é suspeita de integrar o esquema. O inquérito aponta que ela recebia e remetia quantias "acima de sua capacidade financeira, com alta fragmentação nas contrapartes e rápida evasão de recursos, além de valores frequentemente arredondados na unidade de milhar sem justificativa encontrada para tal".
Dentre as somas transferidas, valores de R$ 10 mil, R$ 15 mil e R$ 20 mil aparecem com frequência.
O dinheiro movimentado pela mãe de Deolane era destinado à empresa Pay Brokers Cobrança e Serviço, também investigada da operação, e à Pixs Brasil Cobrança e Serviço, que pertence a um dos sócios da Pay Brokers.
É aqui que, mais uma vez, a relação entre a família Bezerra e a Esportes da Sorte se estreita, de acordo com a polícia. A empresa comandada por Darwin Filho recebeu quase R$ 10 milhões da Pay Brokers entre março de 2022 e março de 2023, apontam os investigadores.
Esses valores, como indicam os documentos da investigação obtidos pela reportagem, foram destinados às apostas realizadas através da plataforma Esportes da Sorte, que, inclusive, fornece opções de cassino ao vivo, como Fortune Tiger, o "jogo do tigrinho".
Entre os suspeitos de envolvimento no esquema de transações financeiras estão também uma irmã e um irmão de Darwin Filho. Todas essas movimentações financeiras revelaram padrões suspeitos, como os depósitos fracionados, que levantaram a hipótese de lavagem de dinheiro.
O último balanço divulgado pela Polícia Civil de Pernambuco na tarde desta quinta-feira diz que 10 dos 19 mandados de prisão tinham sido cumpridos até então, além dos 24 mandados de busca e apreensões.
Os valores apreendidos totalizam R$ 439.869 em espécie, 2.153 dólares em espécie (cerca de R$ 12.146,15), 5.819 euros em espécie (cerca de R$ 36.372,34) e 6.310 libras esterlinas em espécie (cerca de R$ 46.567,80).
Também foram apreendidos duas aeronaves e dois helicópteros avaliados em R$ 127 milhões, cinco automóveis de luxo avaliados em R$ 24,4 milhões; 37 bolsas femininas de luxo, 76 anéis, 17 joias de diversos modelos e 16 relógios de luxo.