O artigo 301 do Código Penal diz que "qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito". Há cinco meses, o comerciante Joel de Paula, de 35 anos, viu um homem tentando furtar um carro estacionado na Avenida Higienópolis, no centro da cidade. No impulso, não pensou duas vezes; partiu para cima do criminoso e conseguiu detê-lo até a chegada da polícia. O ato de coragem, no entanto, pode ter lhe custado a vida.
Como na época o comerciante foi ameaçado de morte pelo criminoso, a possibilidade de uma vingança é uma das hipóteses levantadas por familiares de Joel de Paula, que foi assassinado na noite de domingo, quando chegava em casa, no Jardim Nova Londrina, na zona norte de Londrina. Na tarde daquele dia, João estava com a mulher e os três filhos na casa de um de seus empregados, José Abel Godoy, de 52 anos, no Jardim Bandeirantes (zona oeste). Era a festa de aniversário da filha de Godoy. Por volta das 20 horas, de Paula se despediu e foi embora. Pouco minutos depois, Godoy recebeu a notícia que ele havia sido baleado.
De acordo com as vítimas, quando o comerciante, que era dono de dois estacionamentos no centro da cidade, entrou pelo portão, foi dominado por dois homens armados. Eles haviam revirado toda a casa, o que indica que procuravam por algo específico, provavelmente a arma, uma pistola calibre 380 de propriedade do comerciante, que estava com ele. Ainda segundo familiares, no momento que de Paula fez menção de entregar a arma, um dos bandidos colocou a arma no filho do meio da vítima, um menino cadeirante de 10 anos. "Nessa hora ele se desesperou e disparou contra um deles", contou Godoy.
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Durante a troca de tiros com o primeiro assaltante, Alex Garcia, que também morreu no local, de Paula foi alvejado no peito, no rosto e na perna. Antes de morrer, caído, ele ainda conseguiu balear Dorival Pereira Barbosa, que foi encaminhado em estado grave para a Santa Casa de Londrina, onde passou por cirurgia e permanecia internado até a noite de ontem.
O Instituto de Criminalística da Polícia Científica periciou a casa e contabilizou mais de 30 tiros disparados, entre marcas nas paredes e estojos abandonados. A esposa e os filhos do comerciante não se feriram.
INVESTIGAÇÃO
O delegado responsável pela investigação, João Batista Reis, informou que três pessoas haviam sido interrogadas até ontem. Reis também confirmou que o comerciante tinha registro da arma que portava. Segundo ele, os dados preliminares apontam para um latrocínio, mas que novas linhas poderão ser seguidas após os depoimentos dos familiares, que devem ocorrer nos próximos dias. Um dos familiares disse à reportagem da FOLHA que na ocasião em que Joel deteve o rapaz que furtava um carro, o criminoso teria jurado se vingar.
Um Palio verde, abandonado próximo ao local do crime indica a participação de outros comparsas. Segundo o delegado, essa suspeita também será investigada. Vizinhos confirmaram terem ouvido os disparos, mas com medo, preferiram não comentar o assunto. Reis reforçou a recomendação para que ninguém reaja em caso de assalto. "Raramente um criminoso age sozinho, o que diminui as chances de sucesso em uma investida contra eles. A vida não tem preço e deve vir sempre em primeiro lugar", adverte.
Até o início da noite desta ontem, os familiares do comerciante aguardavam a liberação do corpo por parte do Instituto Médico-Legal (IML). O corpo seria velado na Igreja Luz do Mundo, no Conjunto João Paz (zona norte) e enterrado às 15 horas desta terça (13), no Cemitério Parque das Allamandas.