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Maringá

Psicólogo grava crime de racismo em briga por vaga de garagem

Luís Fernando Wiltemburg
Grupo Folha
13 ago 2018 às 21:11
- Reprodução/Shutterstock
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Um psicólogo de Maringá registrou boletim de ocorrência por racismo após ele e sua irmã serem ofendidos por uma vizinha, no condomínio onde moram, no bairro Cidade Nova. Apesar de as ofensas terem ocorrido no sábado (4), o registro só foi feito nesta sexta (10) para garantir a segurança dos dois. As ofensas foram gravadas pela vítima e estão disponíveis nas redes sociais.

No áudio de cerca de dois minutos, a vizinha reclama para alguém que o pneu da bicicleta invadia sua vaga de garagem. "Eu vou chamar ele de 'diferente', ele vai saber o 'diferente' o que é", diz a voz feminina no áudio. Ela também utiliza a palavra "preto" em contexto ofensivo, compara negros a macacos, diz que "eles [negros] foram escravos" e que, ao lembrar do sofrimento que foi, não deveriam mais procriar. Ainda afirma que não tem convivência com os irmãos porque "não gosta de pretos".

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A confusão que culminou nas ofensas racistas começou por um imbróglio entre Lucas Dias Gabriel e sua irmã com a vizinha semanas antes da gravação. Ele, que cursa mestrado na UEM (Universidade Estadual de Maringá), e sua irmã são usuários de bicicleta, que eram deixadas na garagem e acorrentadas ao pilar que separa o espaço do local de estacionamento da vizinha. O artifício de segurança foi adotado enquanto não adquirem pinos de metal para pendurar os veículos de locomoção.

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No domingo retrasado, ao chegar no condomínio onde mora, Gabriel foi avisado que a vizinha estava exaltada e que, "se não quisesse ouvir as ofensas, seria melhor não ir para a garagem". Porém, de casa, era possível ouvir gritos da vizinha. Nesta ocasião, conseguiu gravar com o aparelho celular parte das ofensas raciais proferidas.

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O psicólogo conta que pensou muito até decidir registrar o BO, mas decidiu fazê-lo depois de ouvir a gravação, para resguardar sua própria segurança e a da irmã. "Se ela tem coragem de dizer tudo o que disse, não sabemos o que mais pode fazer. O racismo estrutura nossas relações sociais e o [ato] dela é apenas um em toda a estrutura que permite que tenhamos um candidato à Presidência da República que legitima isso. Até para registrar o BO, houve dificuldade em identificar se é racismo ou injúria racial", conta.


A reportagem não conseguiu contato com a vizinha de Gabriel.

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Situação recorrente


Esta não é a primeira situação de racismo pela qual passou Gabriel. "Esta foi a primeira vez que consegui gravar, mas a gente entende o deboche que existe, seja no ônibus, na faculdade, nos hospitais... Minha vizinha é enfermeira e deve atender pessoas negras", ressalta.

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Professora do Departamento de Ciências Sociais e diretora cultural da UEM, Marivânia Conceição Araújo concorda que as agressões racistas, verbais ou físicas, são cotidianas.


Ela, que também faz parte, junto com Gabriel, do Neiab (Núcelo de Estudos Interdisciplinares Afro-Brasileiros), identifica dois movimentos relacionados ao racismo atualmente: o primeiro é o empoderamento dos negros que trouxe para o debate este tipo de crime, promovendo a reflexão, as denúncias e punições; e também os que reagem a esta ação. "A situação dos racistas no nosso país é muito cômoda e corriqueira. Quando elas se sentem na iminência de serem punidas, começam a espernear, a se sentirem aviltadas. Parece uma discrepância, mas o que a gente vê é uma reação porque não pode mais xingar, não pode mais fazer piada com preto", analisa a cientista social.

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Preconceito de gênero


A sede do Neiab também foi palco de preconceito no fim de julho. Uma foto da vereadora carioca Marielle Franco, assassinada em 14 de janeiro com seu motorista, exposta na mostra "As Várias Formas de Genocídio da Mulher Negra", foi rabiscada com a frase "Lésbica foi um mal (sic) exemplo". A exposição mostrava imagens de 21 mulheres negras que foram assassinadas nos últimos anos. O autor do ato de vandalismo não foi encontrado.

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DESLIGAMENTO – Solidária com os jovens que passaram por essa violência e com os estudantes negros que sofrem discriminação racial dentro e fora da Universidade, a Reitoria da UEM se reuniu no último sábado (11) para dar apoio aos envolvidos e definir algumas ações de combate a qualquer manifestação de natureza discriminatória, racista ou de apologia ao racismo dentro da Instituição.


Tão logo a Reitoria tomou ciência do ocorrido e da violência sofrida pelo estudante e sua irmã, identificou que a agressora fazia parte da rede de credenciados do Hospital Universitário de Maringá e, imediatamente, ordenou seu desligamento. A UEM espera que o fato lamentável seja investigado e que a responsável por essa atitude criminosa seja devidamente punida conforme prevê a lei.

Por princípio, a Reitoria da Universidade repudia de modo veemente todas as formas de racismo e tem buscado combater essa prática dentro da Instituição com a criação da Comissão de Ações Afirmativas, por meio do acolhimento das denúncias que chegam através da Ouvidoria e que são encaminhadas para o tratamento cabível e do apoio aos grupos e coletivos que atuam no enfrentamento a essas questões. A UEM possui também diversos projetos, programas e núcleos de pesquisa e extensão em direitos humanos.


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