Um mês depois de confirmar a sua rejeição à presidente Dilma Rousseff (PT), com 26 votos – dos 30 possíveis – pela admissibilidade do processo de impeachment, a bancada paranaense na Câmara dos Deputados aposta na reaproximação política com o governo federal, comandado interinamente pelo presidente Michel Temer (PMDB). A euforia é a mesma do início do governo petista, cuja coligação contava com PMDB, PSD, PP, PR, PROS, PRB, PDT e PC do B. Apenas os dois últimos mantêm apoio a Dilma.
Com mais da metade da equipe ministerial formada por congressistas, reduzindo o espaço para os "notáveis", o peemedebista iniciou a gestão negociando espaço em troca de apoio partidário e animou os deputados. Parlamentares ouvidos pela reportagem afirmaram que a precária articulação política do PT junto aos congressistas vinha resultando em constantes derrotas nas principais votações para o Planalto, culminando com a admissão do impeachment.
O deputado federal e coordenador da bancada do Paraná, Toninho Wandscheer (Pros), informou que vai pedir audiência com o presidente para apresentar as demandas emergenciais. "Acho que o relacionamento com a União será melhor, o Temer tem uma facilidade muito maior de diálogo", disse. "Entre as principais pautas estão as obras paradas. Em balanço parcial, com base em dados do Tribunal de Contas, temos quase R$ 400 milhões em construções que não chegaram ao fim. Isso é terrível, interfere diretamente na vida dos municípios, onde ficam esses canteiros de obras", informou Wandscheer.
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Esta semana, logo após a posse de Temer, o governador do Paraná, Beto Richa (PSDB) convocou entrevista coletiva para anunciar o seu apoio ao interino e repetir que o Estado foi "perseguido pelo PT nos últimos anos". Os partidos que estão na base do tucano na Assembleia Legislativa (AL) do Paraná e que têm deputados em Brasília também dão respaldo ao peemedebista. Contudo, o argumento é criticado por Wandscheer. "Acho que todos os governadores se sentiam perseguidos, afinal não têm dinheiro no governo federal." O deputado federal João Arruda (PMDB), que coordenou a bancada até março, também discorda da perseguição, afirmando se tratar de "uma falácia do governo estadual".
Quanto ao protagonismo político do Paraná no novo governo, ele preferiu cautela. "É difícil fazer essa análise agora, neste início da gestão, a administração dele (Temer) ainda sofre as influências daquilo que acontece no Senado (onde tramita o processo de impeachment). Mas é evidente que existe uma diferença em relação ao que ocorria nos últimos momentos do governo Dilma, onde a base de apoio foi desaparecendo por causa das grandes dificuldades de relacionamento."
Embora Temer tenha levado para o núcleo do governo personagens paranaenses, como o assessor especial Rodrigo Rocha Loures e o deputado federal Ricardo Barros (PP) para o Ministério da Saúde, Arruda explicou que essa negociação ocorreu entre partidos, sem direcionamento estadual. "Neste caso, embora seja importante para o Paraná a presença de Barros na equipe ministerial, não foi uma ação negociada com a bancada estadual e sim diretamente com o PP".
Segundo o deputado estadual Tercílio Turini (PPS), cujo partido está na base dos dois governos, Beto e Temer, "agora as condições políticas melhoraram bastante para o Paraná". "O relacionamento do governo Dilma com o governo de Beto Richa era de conflito, mas agora esse argumento não vale mais e a administração estadual também terá que mudar o discurso e a ação, afinal não dá para dizer que estará sendo perseguido por uma gestão federal que tem a participação ativa do PSDB, inclusive em ministérios", analisou Turini.
Já o coordenador estadual da Rede Solidariedade, Eduardo Reiner, não vê qualquer avanço na nova gestão de Michel Temer, que começou alimentando o mesmo fisiologismo visto anteriormente no governo federal. "Não haverá mudança no protagonismo do Paraná. O cenário é o mesmo, pois o Ricardo Barros, hoje com o Temer, já estava no apoio ao governo da presidente Dilma e tudo ao mesmo tempo em que permanece no apoio do governador do Beto Richa (PSDB) aqui no Paraná." Reiner lembrou que no governo petista também havia paranaenses. "Tivemos vários paranaenses, como a Gleisi Hoffmann, na Casa Civil, e Paulo Bernardo como ministro das Comunicações, e isso não fez diferença", falou o coordenador da Rede, partido que defende novas eleições e cobra a cassação da chapa Dilma/Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).