A Delegacia de Estelionato e Desvio de Cargas iniciou ontem as investigações de suposto crime de calúnia e injúria que teria sido cometido pelo Fórum de Luta por Trabalho, Terra, Cidadania e Soberania do Paraná contra o governador Jaime Lerner (PFL). O inquérito foi aberto com base na denúncia-crime feita anteontem pelos advogados do governo. Eles classificaram o texto e as caricaturas que aparecem nos jornais - apreendidos por agentes da Receita Estadual - como crime de injúria por ter "o objetivo de ridicularizar, achincalhar, humilhar e atentar contra a honra do governador".
O delegado responsável pelo inquérito, Armando Marques Garcia, disse que as investigações e depoimento de testemunhas deverão ser concluídas no prazo máximo de 30 dias. Ontem, o delegado determinou a apreensão do restante dos jornais. São 96 mil no total. Anteontem foram apreendidos cerca de 17 mil.
A jornalista Léa Okseanberg, que assina o texto e a edição do material, vai depor hoje, às 15 horas, na Delegacia de Estelionato e Desvio de Cargas. Ontem, ela depôs espontaneamente à CPI da Telefonia da Assembléia Legislativa. A jornalista suspeita que a apreensão só foi possível graças a grampos.
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Léa disse que nada tem a esconder. "Tudo o que está no jornal foi fruto de uma pesquisa que fiz na imprensa", afirmou, contando que tem todos os recortes guardados e pretende colocá-los à disposição da polícia. Os jornais apreendidos traziam o chamado "Mapa da Corrupção", fazendo ligações entre Lerner, o ex-prefeito de Londrina Antonio Belinati (sem partido), o ex-secretário de Estado da Fazenda Giovani Gionédis (PSC), o ex-secretário de Segurança Cândido Martins de Oliveira, entre outros. Nos dados parciais sobre a corrupção no Paraná, aparecem denúncias de desvios financeiros em diversos segmentos políticos. "Apenas coloquei os dados parciais da corrupção. Se eu fizesse um relatório de verdade da corrupção no Estado, teria que escrever um livro", ironizou Léa. A jornalista adiantou que vai processar o governo do Estado por danos morais.
Os advogados da Central Única dos Trabalhadores (CUT-PR), onde o material foi apreendido, estiveram durante toda a manhã de ontem acompanhando os passos do inquérito policial. Eles pediram uma cópia da solicitação de investigações por parte do governo do Estado e devem entrar com ações judiciais. Existe a alegação de que a carga tenha sido violada pelo Estado antes de ser encaminhada para a Delegacia de Estelionato e Desvio de Cargas. "Com que direito eles abriram nossa carga? É muito estranho", analisou a advogada Mirian Gonçalves.
O Fórum de Luta por Trabalho, Terra, Cidadania e Soberania vai fazer hoje uma manifestação às 10 horas na Boca Maldita contra a apreensão dos jornais.