Em discurso no Plenário nesta segunda-feira (14), o senador Fernando Collor (PTB-AL) defendeu o comparecimento à CPI do Cachoeira do jornalista Policarpo Júnior, chefe da sucursal da revista Veja em Brasília, do dono da publicação, Roberto Civita, e do procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Segundo o senador, tem existido uma "celeuma" com a possibilidade de convocação do procurador-geral e do jornalista.
Para Fernando Collor, o trabalho da comissão precisa de um foco, já que a CPI tem propósitos difusos. Segundo o senador, que é membro da CPI, o depoimento de Gurgel seria importante, pois a comissão tem como base as investigações e as denúncias do Ministério Público.
"O procurador-geral seria a pessoa mais indicada para dar uma noção geral sobre os inquéritos", defendeu o senador.
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‘Ameaça velada’
Collor disse que ficou surpreso com a reação "despropositada" de Roberto Gurgel, ao negar imediatamente seu comparecimento à CPI. O senador também disse que "causa estranheza" o relato de Gurgel feito a alguns parlamentares que o visitaram, como uma espécie de "ameaça velada" aos congressistas. Collor ainda classificou como "duvidosa e nebulosa" a atuação do procurador-geral e da subprocuradora-geral Cláudia Sampaio Marques, esposa de Gurgel, na operação Vegas.
"Agora, torna-se imprescindível a presença de Gurgel na comissão. Aqui na CPI, o procurador-geral é insubstituível, ao contrário do seu papel junto ao Supremo Tribunal Federal (STF)", afirmou o senador.
Para Collor, se o objetivo é investigar as práticas criminosas de Cachoeira, todos os que têm relação ilegal com o bicheiro devem ser investigados, independentemente do cargo. O senador também disse que esta CPI não deve cometer as mesmas ilegalidades de outras comissões, como o cerceamento de defesa e do contraditório e o uso de manobras ilegítimas.
Policarpo
Para Fernando Collor, o jornalista Policarpo Júnior é uma testemunha-chave no processo. O senador disse que é preciso saber até que ponto sua atividade jornalística em relação a Cachoeira ficou limitada ao contato com a fonte.
Collor afirmou que, há quase uma década, Policarpo Júnior tem estreitas relações com Cachoeira. O senador lembrou que o jornalista já testemunhou a favor de Cachoeira, em uma representação que envolvia o nome do empresário no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, em janeiro de 2005. Na ocasião, ele acusava parlamentares de tentarem extorqui-lo, em decorrência das investigações da CPI da Loterj, da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro.
Segundo o senador, não houve reação negativa quando o jornalista depôs a favor de Cachoeira na Câmara dos Deputados. Assim, não deveria haver "temor" com o possível depoimento de agora.
"Será que não teria sido melhor para o Brasil se o jornalista e seu veículo não tivessem ajudado o contraventor? Até que ponto uma fonte criminosa tem que ser coberta pelos meios? Onde estão os limites em proteger uma fonte e preservar sua rede de contravenções? A liberdade de imprensa está se transformando em libertinagem da imprensa?", questionou Collor.
Civita
O senador endereçou duras críticas à revista Veja e disse já usado a tribuna para denunciar "fatos vergonhosos desses que se julgam paladinos da moral". Segundo Collor, um ministro do STF já foi procurado por um emissário da revista com uma proposta indecorosa. A ideia era o ministro condenar Collor no STF em troca de destaques na revista.
"Em nome da verdade, desafio o chefe-maior desse grupelho, Roberto Civita, para comparecer à CPI e falar das relações que sua revista e alguns de seus jornalistas mantêm com o crime organizado", propôs o senador.
Collor fez questão de se declarar contrário ao controle dos meios de comunicação e disse que nunca cerceou a liberdade de imprensa. Segundo o senador, seu desejo é que a CPI funcione a contento, viabilizando a punição dos envolvidos e permitindo que o jornalista e seu veículo revelem a relação que possuem com criminosos.