Depoimentos de testemunhas de acusação na auditoria da Justiça Militar reforçam a tese de que o coronel Luiz Fernando de Lara, ex-comandante da Polícia Militar (PM) do Paraná emprestou dinheiro por conta própria para o diretor da empresa Power Brands, George Pantazis. De acordo com os depoimentos, dados na tarde de segunda-feira, o empréstimo de R$ 350 mil foi feito no dia 19 de abril de 1999. No entanto, os integrantes do Conselho Financeiro da Polícia Militar só tiveram conhecimento do valor emprestado no dia 12 de julho do mesmo ano.
O caso das jaquetas coreanas importadas foi revelado em matérias do Folha, em outubro de 1999. A importação foi questionada por membros da PM e pelo Ministério Público pois havia sido feita sem autorização. O caso resultou no afastamento do então comandante da PM, coronel Luiz Fernando de Lara.
O juiz auditor José Carlos Dalácqua, que acompanha o processo, contou que os depoimentos foram bastante tumultuados. A audiência, que começou por volta das 9 horas, só terminou às 19 horas. "Todas as testemunhas da acusação disseram que as normas da compra foram contrárias ao que diz o regulamento da corporação. Teremos que ouvir os demais depoimentos para chegarmos a um juízo definitivo de valores", afirmou.
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O coronel Ivo Matkowski foi o primeiro a prestar esclarecimentos na audiência. Ele negou que o Departamento Financeiro tivesse tido conhecimento do empréstimo feito à empresa Power Brands e garantiu que Lara e Pantozis tinham ligações amistosas.
As ligações amistosas foram reforçadas no depoimento do coronel Olavo Bortolini. Ele afirmou que o coronel Lara chegou a viajar para a Grécia ao lado de Pantazis. Bortolini disse ainda que na ocasião do empréstimo, não havia qualquer compra de jaquetas programada. A compra teria ocorrido apenas em outubro de 1999.
"Não foi um adiantamento. Foi um empréstimo, já que quando houve a liberação dos recursos, não havia qualquer compra planejada", garantiu. Ele afirmou ainda que o dinheiro emprestado jamais voltou aos cofres da Polícia Militar.
O coronel Walter Cardoso de Aguiar reforçou ainda que houve uma reunião no dia 9 de agosto para definir a compra de jaquetas. Ele teria pedido para que fosse através de licitação. Mas o coronel Lara teria solicitado que a compra das jaquetas fosse imediata e através da Power Brands, que já teria recebido um adiantamento.
A versão de Lara foi confirmada pelo coronel Valdemar Kretschemer, que exerceu o cargo de Chefe do Estado Maior e tinha ligações pessoais com o então comandante. Ele declarou que existia a intenção do comando em comprar 17 mil jaquetas e que os R$ 350 mil teriam sido entregues como um adiantamento. "Foi um sinal da compra, uma garantia da transação", disse. Apesar de acreditar em empréstimo, Kretschemer afirmou que não foi avisado sobre os valores repassados antes do mês de julho.
Também foi ouvido na audiência o ex-diretor da Associação da Vila Militar (AVM), coronel Elpídio Artigas Filho. Ele afirmou que não foi consultado sobre quotação de valores para a compra de jaquetas. O coronel garantiu que a AVM teria condições de fazer e entregar as jaquetas desde que fosse estipulado um prazo.
Tanto Lara como Pantazis negam qualquer irregularidade no ato da compra das jaquetas. Em entrevista à Folha em junho do ano passado, Pantazis reclamou que estava sendo perseguido, além de ser um "bode expiatório" dos promotores que abriram o processo.
Em depoimento à Justiça Militar, em setembro do ano passado, o coronel disse que foi alvo de um complô de coronéis adversários que disputavam o cargo de comandante-geral da PM.
Uma nova audiência na Auditoria Militar foi marcada para o dia 14, onde serão ouvidas as últimas testemunhas de acusação.