Depois de um mês de recesso, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Cachoeira retomou nesta terça os trabalhos sem muito sucesso. Os dois depoentes, entre eles Andressa Mendonça, mulher do contraventor Carlos Cachoeira, optaram por ficar em silêncio e nada revelaram à CPI. A sessão só ficou movimentada depois que a senadora Kátia Abreu (PSD-TO) desafiou Andressa a apresentar o dossiê que teria contra ela.
A ameaça de Andressa à senadora ocorreu há uma semana, depois que a mulher de Cachoeira foi denunciada por chantagem a um juiz federal e obrigada a pagar uma fiança de R$ 100 mil. Na ocasião, segundo Kátia Abreu, a mulher do bicheiro teria afirmado possuir um dossiê contra a senadora, inclusive com fotos. Andressa teria dito que a senadora "não saía da casa de Cachoeira e teria pedido dinheiro para a campanha".
À CPI, a senadora afirmou também que recebeu ameaças em seu gabinete de um telefone público localizado em Taguatinga, cidade a 20 quilômetros de Brasília. "É uma tentativa de me amedrontar. Não tenho medo dela e de seu comparsa", disse a senadora, ao informar que protocolou uma interpelação contra Andressa em Goiânia. "Carminha e Max só na TV. Não vão jogar meu nome no lixão", completou Kátia Abreu, numa referência à novela "Avenida Brasil", da Rede Globo. "Mentirosa e cascateira", acusou a senadora, no momento em que Andressa deixou em silêncio a sala da CPI, recusando-se a responder qualquer pergunta.
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Diante do fracasso dos depoimentos marcados para esta terça, integrantes da Comissão estão convictos de que a "CPI está indo para o buraco". "Parece que a CPI está nos estertores, se esvaindo em sangue", resumiu o senador Pedro Taques (PDT-MT). Além de Andressa, Joaquim Gomes Thomé Neto, acusado de ser um dos responsáveis pelas escutas telefônicas que favoreceriam os negócios de Cachoeira, também ficou em silêncio. "Estamos investigando uma organização criminosa e, por isso, quanto mais o tempo passa, mais a organização se fecha. Mas não são só os depoimentos que são o centro de nossa investigação", minimizou o relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG).
Preocupada com o esvaziamento da CPI, a cúpula da Comissão pretende elaborar uma agenda de depoimentos daqui até o primeiro turno das eleições municipais. Uma das propostas é agendar os depoimentos de Luiz Antonio Pagot, ex-diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura (DNIT), e de Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, na primeira quinzena de setembro. Ex-presidente da Dersa, empresa que administra as obras rodoviárias no Estado de São Paulo, Paulo Preto é ligado ao PSDB e, segundo Pagot, teria pressionado pela liberação de verbas do DNIT para obras do Rodoanel em São Paulo. Parte dos recursos teria sido usada para abastecer um suposto caixa dois de campanha. A pressão teria ocorrido em 2009.
Com esses depoimentos a CPI espera conseguir dividir os holofotes com o resultado final do julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que dará a sentença para os 38 réus acusados. O relator Odair Cunha pretende apresentar seu relatório final na terceira semana de outubro, antes do segundo turno das eleições. O prazo final de CPI está previsto para 4 de novembro.