O cabo Luiz Antonio Jordão e o soldado Afrânio de Sá - militares citados em inquérito como mandantes de grampos comerciais e de escutas clandestinas no Palácio Iguaçu - serão ouvidos amanhã, às 14 horas, na CPI da Telefonia, criada pela Assembléia Legislativa. A convocação para os depoimentos foi feita ontem, na primeira reunião da comissão, proposta inicialmente para apurar irregularidades na telefonia fixa e móvel do Estado. Os deputados aprovaram ainda, por unanimidade, as convocações do coronel Luis Antonio Borges Vieira (secretário-chefe da Casa Militar) e dos técnicos em telefonia Gilberto Maria Gonçalves (ex-funcionário do Palácio Iguaçu) e João Batista Cordeiro (instalador da empresa de telefonia GVT e preso em flagrante no início do mês fazendo grampo em uma distribuidora de petróleo).
A intenção dos deputados é apurar as denúncias levantadas pelo cabo Jordão, em entrevista exclusiva à Folha, de grampos telefônicos em diversos gabinetes de secretários de Estado e em campanhas eleitorais. Na entrevista, concedida no domingo passado, Jordão disse ter conhecimento de que Gonçalves tinha uma sala de telefonia no quarto andar do Palácio Iguaçu e que foi preso por diversas vezes dentro e fora de campanhas políticas. O motivo seria grampos telefônicos.
O próprio Gonçalves teria contado episódios envolvendo a campanha de reeleição do governador Jaime Lerner, quando teria sido montada uma operação "de guerra" para evitar que jornais apócrifos do PMDB fossem distribuídos no interior do Estado. "O grampo é crime e uma irregularidade no setor de telefonia. Temos denúncias de funcionários da Telepar Brasil Telecom envolvidos em grampos. É nossa obrigação investigar", destacou o deputado estadual Angelo Vanhoni (PT).
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A CPI aprovou ainda por unanimidade um requerimento pedindo a segurança do cabo Jordão, do soldado Afrânio de Sá e do advogado criminalista Peter Amaro de Sousa 24 horas por dia. Jordão está fora do Paraná. O escritório do advogado foi alvejado com 12 tiros anteontem. Os deputados solicitaram ainda o envio dos inquéritos policiais do 3º Distrito Policial de Curitiba e do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope) para municiar os parlamentares para a tomada de depoimentos.
O Ministério Público - a exemplo do que aconteceu na CPI Estadual do Narcotráfico - deverá acompanhar os trabalhos. Foi pedida ainda uma força-tarefa (composta por integrantes do Serviço Reservado da Polícia Militar - P-2) para auxiliar nas investigações. "Quero deixar claro que não estamos incriminando ninguém. Temos indícios, depoimentos graves e precisamos investigar", justifica o deputado Augustinho Zucchi (PSDB).
O presidente da CPI das Telecomunicações, Tony Garcia (PPB), garantiu que a comissão irá até o fim nas investigações dos grampos telefônicos. "Esta CPI não vai ser laranja, pode ter certeza. Não vou fazer o jogo de ninguém, nem do Palácio Iguaçu", prometeu.
Apesar de ter sido citado por diversas vezes na entrevista de Jordão, o secretário especial da Chefia de Gabinete do Governador, Gerson Guelmann, não foi convocado. O deputado estadual Algaci Tulio (PTB), relator da CPI, disse que ele será chamado para prestar esclarecimentos no momento certo. "Todos que foram citados serão convocados, inclusive o Guelmann. Não vamos perdoar ninguém", afirmou.
Ele lembrou ainda que poderão ser chamados os ex-secretários de Administração Maria Elisa Paciornik e da Fazenda Giovani Gionédis. "Eles poderão ser ouvidos em sessão secreta, caso prefiram. Mas é importante que sejam ouvidos", argumentou Tulio, ao lembrar que o caso dos grampos iniciou com uma briga entre os dois ex-secretários em 1999.