Em nova tentativa de evitar que a candidatura do senador Aécio Neves (PSDB) à Presidência ganhe impulso em São Paulo, a presidente Dilma Rousseff decidiu fazer um afago ao candidato do PT, Alexandre Padilha, e manter o esforço de aproximação com o candidato do PMDB, Paulo Skaf, ambos postulantes ao governo paulista.
O temor do governo e da cúpula do PMDB é que a campanha de Padilha fique estagnada, quadro que contribuiria para a vitória do governador Geraldo Alckmin (PSDB) no primeiro turno, beneficiando Aécio no maior colégio eleitoral do País.
A estratégia de um palanque duplo em São Paulo abre espaço para Dilma fazer propaganda ao lado de Skaf, influente no meio empresarial. A presidente tem registrado maior rejeição em São Paulo do que em outros Estados e a associação a Skaf visa diminuir a resistência do eleitorado paulista.
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Skaf tem feito de tudo para não aparecer junto com Dilma, sob o argumento de que a imagem dela está desgastada. Neste sábado, 26, o peemedebista deu mais uma mostra que quer ficar longe da presidente. Em uma agenda de campanha em Franca, no interior do Estado, repetiu que está descartada a possibilidade de abrir palanque para a presidente. "Entendo assim, muito claramente: o PT é um adversário nosso assim como o PSDB. Em relação a palanque duplo, isso confunde o eleitor."
Além da distância de Dilma, a campanha do peemedebista se ressente do fato de Padilha ter chamado Skaf de "candidato-patrão". "Não atacamos nunca a campanha de Padilha. As agressões partiram do PT", afirmou o ex-governador Luiz Antonio Fleury Filho, coordenador da campanha de Skaf. Embora diga que não vai propor nenhum pacto de "não-agressão", Fleury reconhece que o adversário de petistas e peemedebistas no Estado é o mesmo: Alckmin.
Dilma aparecerá em campanha ao lado de Padilha, que foi ministro da Saúde em seu governo e com quem fechou na semana passada a primeira agenda casada em São Paulo, no início de agosto. Ela foi aconselhada pelo marqueteiro João Santana a não deixar a canoa do PT afundar sem socorro.
A coordenação da campanha de Skaf também está preocupada com a estagnação de Padilha. A avaliação interna é que se o petista não atingir dois dígitos nas pesquisas de intenção de votos, com patamar acima de 15%, os candidatos da aliança que sustenta Dilma no plano federal não conseguirão forçar o segundo turno em São Paulo.
Nesse cenário, nem Skaf nem Padilha teriam chances e Alckmin venceria a disputa ainda na primeira rodada, fortalecendo o palanque de Aécio. Aliados de Dilma e de seu candidato a vice, Michel Temer, de um lado, e de Skaf, do outro, admitem reservadamente que é preciso que Padilha cresça para ajudar a presidente no Estado.
Em 2010, Dilma foi derrotada pelo candidato do PSDB à época, José Serra. Ele obteve no primeiro turno 780 mil votos de diferença e, no segundo turno, 1,8 milhão. Em outubro, Aécio espera obter no Estado vantagem de pelo menos 2 milhões de votos na etapa inicial com a escolha do senador paulista Aloysio Nunes como vice numa chapa "puro sangue" e contar com o apoio de Alckmin e Serra, ex-desafeto e agora candidato ao Senado.
Coordenadores de campanha de Dilma avaliam que é necessário ter um "tercius", um terceiro candidato com boa captação de votos no Estado. E olham para o retrovisor para ancorar a análise. Em 2010 e 2006, os candidatos do PT tiveram mais de 30% dos votos. Mas, o terceiro colocado na disputa teve apenas cerca de 5%. O resultado foi a eleição, já em primeiro turno, dos tucanos Alckmin e José Serra, respectivamente. Em 2002, 1998 e 1994, quando houve segundo turno, os terceiros colocados tiveram, no mínimo, cerca de 15%.
Distensão
Caciques peemedebistas nacionais e estaduais reconhecem que é preciso melhorar a relação entre as duas campanhas em São Paulo para ajudar tanto na corrida ao Palácio dos Bandeirantes como ao Palácio do Planalto.
"É preciso distensionar a relação", afirmou o deputado federal Edinho Araújo, o primeiro vice-presidente do partido no Estado. Dirigentes nacionais do PMDB, porém, dizem que Skaf não tem jogo de cintura. "Ele precisa ganhar um bambolê, como aquele que demos para a Dilma quando ela era ministra da Casa Civil", brincou, reservadamente, outro deputado federal do partido.
Michel Temer, candidato à reeleição na chapa de Dilma, pediu a Skaf para não criar problema, mas ele ainda resiste. Dilma quer um tempo no programa político de TV de Skaf, a partir do dia 19 de agosto. O peemedebista terá a maior exposição no bloco de propaganda eleitoral, com quase 6 minutos, e ainda poderá aparecer 161 vezes ao longo da programação. Candidato à reeleição, Alckmin terá o segundo maior tempo, com 4 minutos e 51 segundos e 131 inserções diárias. E Padilha, em terceiro, com 4 minutos e 22 segundos e mais 117 inserções.
A avaliação na direção da campanha petista é que primeiro se precisa lavar a "roupa suja" nas relações estaduais para depois, se for possível, usar o tempo de ambos na TV. O objetivo de Dilma é tentar aparecer em parte do programa de Skaf e de Padilha para elevar sua exposição em São Paulo e reduzir a rejeição no Estado. Institutos de pesquisa já apontam que a presidente seria derrotada em São Paulo em disputas no segundo turno contra Aécio ou contra o candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos.