Em depoimentos prestados no âmbito da operação Lava Jato aos procuradores da força-tarefa do Ministério Público Federal (MPF) e a delegados da Polícia Federal (PF), os executivos Júlio Camargo e Augusto Mendonça Ribeiro, da empresa Toyo Setal, confirmaram o pagamento de propina a agentes públicos no valor de R$ 32 milhões envolvendo duas obras realizadas na Refinaria Getúlio Vargas (Repar), em Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC). A suspeita do MPF de corrupção na Repar, no âmbito da Lava Jato, foi revelada pela Folha de Londrina em abril.
Os dois firmaram acordo de colaboração premiada no final de outubro, e os conteúdos das delações foram utilizados pelo MPF para embasar os pedidos das novas prisões da operação Lava Jato, entre sexta-feira e sábado.
Tanto Augusto quanto Júlio detalharam que pagaram ao menos R$ 154 milhões em propina a pessoas apontadas como operadores do PT e do PMDB dentro da Petrobras. O suborno foi usado para garantir que empreiteiras executassem obras em pelo menos sete projetos (entre eles as obras na Repar) e também na obtenção de duas sondas de perfuração.
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Segundo trechos dos depoimentos, houve pagamento de cerca de R$ 20 milhões em propina ao diretor de Serviços da estatal, Renato Duque, para ganhar a licitação para a realização da construção de uma unidade na Repar, no ano de 2009. O projeto foi executado pelo consórcio Interpar, formado pelas empresas Toyo-SOG (Setal), Mendes Júnior e MPE Engenharia. Conforme os depoimentos, havia sido acertada uma propina de R$ 12 milhões, entretanto, mais tarde, elevou-se o valor do suborno em mais R$ 8 milhões por conta da assinatura de um aditivo à obra.
O consórcio responsável por esta obra contratou uma das empresas de Júlio Camargo, a Auguri Empreendimentos, para oficializar o pagamento da comissão correspondente à intermediação do negócio. Além da Auguri, o executivo da Toyo operacionalizava pagamentos de propina por meio de mais duas empresas abertas por ele (Treviso Empreendimentos e Piemonte).
Camargo admitiu que ele mesmo pagou, no exterior (transferência para contas indicadas), a propina a Duque e também a Pedro Barusco, gerente da Petrobras e subordinado de Duque.
Indagado se os representantes das empresas envolvidas no consórcio sabiam do pagamento de vantagens indevidas, Camargo salientou que "era uma regra do jogo conhecida por todos". Augusto reforçou que o contrato referente a esta obra da Repar foi fechado após "duras negociações", e que ou as empresas "pagavam ou a consequência era grande". Ou seja, perderiam espaço dentro do cartel responsável por grandes obras em todo o País.
O outro empreendimento dentro da Repar era a obra da unidade de recuperação de enxofre, retificação de águas ácidas, tratamento de gás residual e das subestações, também em 2009. Conforme detalham os delatores, houve mais uma vez pagamento a Renato Duque, e desta vez, o consórcio CCPR-Repar, composto por Camargo Corrêa e Promo Engenharia, pagou R$ 12 milhões em propina. A solicitação da propina, conforme Júlio Camargo, partiu de Pedro Barusco, agindo em nome de Duque. E, assim como já havia ocorrido em relação à outra obra, o pagamento de vantagem indevida se deu a maior parte no exterior, "em contas indicadas por Duque e Barusco, sendo uma delas numa instituição financeira na Suíça".
A reportagem apurou que Pedro Barusco já teria negociado um acordo de delação. Diferente do ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, ele não teve a prisão decretada durante a sétima fase da Lava Jato ao se antecipar e ter mostrado estar disposto a colaborar com as investigações.