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Acusações

Gravação causa terremoto político na Venezuela

BBC Brasil
21 mai 2013 às 09:36

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O cenário político venezuelano voltou a ficar agitado com a divulgação de uma gravação em que um popular apresentador da TV estatal acusa o presidente da Assembleia Nacional, o militar chavista Diosdado Cabello, de estar envolvido em um esquema de corrupção e também em um plano de conspiração para derrubar o governo do presidente Nicolás Maduro.

A fita foi mostrada pelo deputado opositor Ismael Garcia, integrante da coalizão de oposição Mesa de Unidade Democrática, à jornalistas em Caracas. De acordo com a oposição, a gravação teria sido feita pelo próprio apresentador chavista para ser entregue ao líder cubano Raúl Castro.

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Com duração de mais de uma hora, Silva faz um desabafo a seu interlocutor - segundo a oposição, um agente do serviço secreto cubano - dando detalhes sobre brigas internas no governo e sobre supostos planos desestabilizadores.

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O apresentador, Mario Silva, que dirige o polêmico programa La Hojilla ("A Lâmina" em tradução livre), disse que a gravação é uma "montagem bem feita" do Mossad e da CIA, agência de inteligência israelense e norte-americana, respectivamente.

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Mesma ferramenta
Não está claro como a gravação com a suposta voz de um dos personagens do chavismo mais odiados pela oposição foi parar nas mãos da coalizão opositora Mesa de Unidade Democrática.
Durante anos, Silva se encarregou de "desmascarar" planos de conspiração da oposição em seu programa de TV através de escutas telefônicas. Agora, a oposição se utiliza da mesma ferramenta para expor o que parecem ser indícios da ferrenha luta travada nos bastidores do chavismo após a morte de Hugo Chávez.


"Há tecnologia para mostrar se essa gravação é autêntica ou não", afirmou o analista político Steve Ellner à BBC Brasil. "Enquanto isso, a oposição utilizará essa gravação para anular os resultados eleitorais e questionar a legitimidade do governo", acrescentou.

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No áudio apresentado pela oposição, se escuta a voz atribuída à Silva, marcada por um eco, porém, quando raras vezes o suposto agente cubano fala a gravação se torna inaudível. No resto da gravação somente se escuta "aham" e "uhum" que viria do suposto agente cubano. "Um cubano que diz 'vaina' (gíria venezuelana para definir 'coisa'). Como é isso?", questionou Silva ao desvincular-se das acusações.


Na gravação, a voz atribuída ao apresentador diz que um grupo liderado por Diosdado Cabello teria um plano para tornar a gestão de Maduro "ingovernável", e assim criar as condições para que o presidente seja submetido a um referendo revocatório do mandato presidencial em dois anos.
"Está numa armadilha(...), a armadilha está em todos os grupos de poder (do chavismo)", teria afirmado Silva. "Maduro está obrigado a colocar a Diosdado contra a parede", diz a gravação que tem duração de uma hora, atribuída a Mario Silva.

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Na conversa, Mario Silva daria detalhes de problemas entre o presidente Nicolás Maduro e o ministro de Defesa Diego Molero, um distanciamento que seria alimentado pela primeira-dama Cilia Flores. Silva diz que Flores estaria de olho em movimentos de Molero para promover um golpe de Estado. Ao mesmo tempo, Silva diz que Chávez colocou Molero à frente da pasta de Defesa "por algo", indicando que o antecessor de Maduro, o presidente morto Hugo Chávez, não confiava em outros generais que estariam alinhados a Diosdado Cabello.


No diálogo com o suposto membro do serviço de inteligência cubano (G2), Silva comenta que há um grupo de oficiais nas Forças Armadas - liderados por Cabello - que pretendem desestabilizar o governo de Maduro, fazendo alusão a um golpe de Estado. O grupo estaria em silêncio, até então, para evitar serem qualificados como "traidores", segundo a voz atribuída a Mario Silva. "Estive a ponto de dizer: Maduro, há uma conspiração em processo (...), mas não sei que reação ele poderia ter", diz a gravação.

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Silva supostamente diz na gravação ainda que Diosdado se beneficia do poder político que exerce sobre órgãos estatais de arrecadação para favorecer o acesso a dólares a empresas privadas que seriam de propriedade de Cabello. "Quando falamos da desvalorização da moeda (o bolívar), o principal problema era a fuga de divisas através de empresas fantasmas, umas e outras vinculadas a Diosdado Cabello por meio de Cadivi (Comissão de Administração de Divisas)", afirma a voz atribuída a Silva.


'Divisão no governo'
O analista político Mervin Rodriguez disse à BBC Brasil que a oposição tentará capitalizar essas eventuais contradições para mostrar que "há divisão no governo".
A seu ver, dependendo da abordagem jurídica dada às denúncias, a base política de apoio de Maduro pode fragilizar-se. "Se houver demandas em tribunais, a popularidade do presidente pode ser afetada", afirmou.

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O caso "Mario Silva Gate", como está sendo chamado pela imprensa local, vem à tona em uma semana complicada para Maduro, em meio a uma severa crise de abastecimento de alimentos que o levou a pedir ajuda do Brasil e de outros vizinhos.


Minutos após a divulgação da conversa, Maduro apareceu em um ato público acompanhado do ministro de Defesa e de outros membros do alto escalão do Exército. Ao elogiar o trabalho dos militares no combate a insegurança, Maduro não comentou diretamente as denúncias da oposição, porém, fez alusão ao cenário político conturbado. "Vocês são donos do futuro (...) que ninguém baixe a guarda, ao contrário, levantem a guarda à mentira, à manipulação, à intriga", afirmou Maduro diante de um grupo de cadetes.


No final da noite da segunda-feira, Diosdado Cabello qualificou como um "show" as denúncias da oposição. "Quiseram fazer uma festa, mal organizada, com porta-vozes desprestigiados. Isso os deixa no desespero", afirmou à jornalistas, logo após participar de uma reunião com Maduro, no palácio de governo.

A oposição por sua vez disse que a "novela", como ela própria qualificou o episódio, continuará e que haverá um novo capítulo.


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