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Reforma agrária?

''Janeiro quente'' do MST já tem 34 áreas invadidas

Agência Estado
17 jan 2011 às 07:56

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O capataz Carlos Eduardo dos Santos, de 30 anos, estava no curral ordenhando uma vaca girolanda quando avistou o comboio de carros, motos e Kombis avançando pasto adentro, às 7h50 de ontem, em Presidente Bernardes, no Pontal do Paranapanema, extremo oeste do Estado de São Paulo. Ao ver as bandeiras vermelhas içadas sobre os carros, interrompeu o serviço, pegou o balde de leite e gritou para a esposa: "Ligue para o patrão e avise que o MST está aí de novo".


A Fazenda Guarani é uma das 31propriedades rurais invadidas ou bloqueadas por acampamentos na região durante o fim de semana pelo grupo do Movimento dos Sem-Terra (MST) liderado por José Rainha Júnior. Em todo o "janeiro quente", a jornada do movimento para cobrar a reforma agrária invadiu 34 áreas e três repartições públicas.

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A reportagem flagrou a invasão da Guarani. O comboio com 16 veículos - carros, motos e peruas - e 50 pessoas, partiu do acampamento Zé Maria, pegou a SP-563 e se deslocou até a porteira da propriedade. Os sem-terra arrebentaram o cadeado do portão. Dois quilômetros à frente, sob algumas árvores, o comboio parou e colocou no capim tudo o que havia dentro e sobre os carros - bambus, arames, lonas, colchões, panelas, garrafas PET e até barracas de montar.

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Um grupo muniu-se de enxadões e cavadeiras e começou a montar os barracos. Outro improvisou um fogão. O gado, assustado, correu para o outro lado do pasto enquanto o coordenador Cícero Bezerra de Lima começava a distribuir tarefas.

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Segundo ele, a fazenda tem cerca de 500 hectares e já foi considerada devoluta pela Justiça. "Está em processo de desapropriação, mas a demora é grande. Dá para assentar umas 30 famílias aqui." O sem-terra Hélio de Souza, de 60 anos, e sua mulher Maurize, de 58, erguiam um barraco de lona preta. O casal vive em acampamentos desde 2003. "A gente não conseguia mais pagar aluguel."


As irmãs Elisângela Júlio dos Santos, de 27 anos, e Juliana, de 21, foram incumbidas de vigiar a porteira. Uma inovação, já que a tarefa é usualmente confiada a homens de aparência truculenta. "É a vez das mulheres, não vê a Dilma?", justificou Juliana, que já fez curso de modelo. Os pais das moças são assentados ali perto, no assentamento São Jorge, há 14 anos. Na casa, moram seis filhos adultos e oito crianças. "Quatro são meus filhos e agora estamos lutando para termos o nosso cantinho", contou Elisângela.

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Duas viaturas da Polícia Militar chegaram uma hora depois. Os policiais anotaram as placas dos veículos e pediram os documentos dos invasores, mas ninguém entregou. Os nomes que forneceram foram anotados.


O capataz disse que, para o dono da fazenda, Nilson Rigas Vitalle, já é rotina registrar boletim de ocorrência e entrar na Justiça com pedido de reintegração de posse. "Estou aqui há 11 anos e perdi a conta de quantas invasões foram, sei que mais de dez."

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A propriedade invadida continua produtiva, diz. "São 800 bois em engorda." Santos disse que, em algumas ocasiões, os sem-terra foram violentos e fizeram estrago, mas não quis dar detalhes. "À noite, quem fica aqui com eles sou eu e minha família."


Rainha disse ter mobilizado mais de 5 mil pessoas. Pela sua contabilidade, em 8 das 31 áreas, os sem-terra acamparam do lado de fora. Foi o que ocorreu na vicinal de acesso à usina Alcídia, do grupo ETH, em Teodoro Sampaio. Foi ali que as amigas Rosineide do Espírito Santo, de 40 anos, e Cláudia Rodrigues Oliveira, de 35, iniciaram a vida de sem-terra. As duas trabalham como faxineiras na cidade e diaristas no campo e querem um lote.

Para o presidente da União Democrática Ruralista (UDR), Luiz Antonio Nabhan Garcia, os números do MST estão superfaturados. Rainha diz que o proprietário demora a saber da invasão. "Muitos estão na praia, de férias." Até ontem, a PM não tinha dados sobre todas as ações.


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