O ex-deputado José Dirceu (PT-SP), réu no processo do "mensalão" no Supremo Tribunal Federal (STF), disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve se recolher quando deixar o governo. Em entrevista à Rádio Bandeirantes AM, Dirceu apostou que Lula sairá de cena a partir de 1º de janeiro para dar autonomia à presidente eleita Dilma Rousseff.
"Ele vai se recolher. Ele tem um papel no mundo, ele vai continuar viajando, ajudando os partidos de centro-esquerda no mundo a crescer", afirmou. Entre os papéis que devem ser desempenhados por Lula, além de "conselheiro" de Dilma, o ex-deputado do PT de São Paulo afirmou acreditar que ele se dedicará a uma fundação própria, atenderá a demanda do exterior pela "experiência" como ex-presidente e se ocupará à implementação da reforma política.
Dirceu lembrou que, no domingo (31), durante as comemorações da vitória da presidente eleita, Lula preferiu recolher-se a "ofuscar" a festa. "Nós já temos uma ideia do que ele será como ex-presidente", disse. De acordo com o ex-deputado do PT, Lula teve o mesmo comportamento ao deixar a presidência nacional do partido, em 1995, quando assumiu a liderança do partido. "Ele saberá encontrar seu papel", concluiu.
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Falando de Portugal por telefone, o ex-deputado manifestou confiança na liderança de Dilma. "Ela vai ter firmeza para tomar decisões com equilíbrio e diálogo, como o presidente Lula ensinou", previu. Ele aproveitou para criticar a oposição ao comparar os discursos do presidente americano Barack Obama, derrotado na eleição parlamentar, e dos tucanos, derrotados na eleição presidencial. Para Dirceu, faltou humildade ao PSDB em "estender a mão" aos vitoriosos, como fez Obama hoje.
Quando questionado sobre quem seria o "José Dirceu de Dilma" no próximo governo, ele tergiversou. "Arrisco dizer que não haverá outro Zé Dirceu". Sobre a possibilidade de Antonio Palocci ocupar a Casa Civil, Dirceu negou que se oponha à nomeação do colega de partido para a função. "Palocci é importante em qualquer função. Ele tem competência e capacidade política", argumentou.
Inocência
Durante a entrevista, disse que nos últimos cinco anos longe de cargos públicos não se afastou do meio político e reclamou de ter sido transformado em "bandido do dia para a noite". "Espero que o Supremo me julgue segundo os autos, segundo as leis do País. Sou inocente e sei que não há nada nos autos que me leve à condenação", ressaltou.
Perguntado sobre sua participação no próximo governo, o petista disse que servirá ao País em qualquer circunstância. "Estarei à disposição do meu partido ou do governo no que me for solicitado." No entanto, ele disse aguardar o julgamento do STF para voltar "plenamente" à vida política e que ainda precisa provar à parte da sociedade de que não é bandido. "Eu tenho de convencer o País do contrário", afirmou.