O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que vai desmontar a "farsa do mensalão" quando deixar o governo, em janeiro de 2011. O desabafo de Lula foi feito durante café da manhã com o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, na quinta-feira, no Palácio da Alvorada.
Abatido pelo escândalo do mensalão, em 2005, Dirceu foi o petista mais assediado na reunião do Diretório Nacional do PT. Fez muitos elogios à presidente eleita, Dilma Rousseff, criticou a formação do blocão no Congresso - integrado por cinco partidos (PMDB, PP, PR, PTB e PSC) - e disse que Lula vai cuidar da reforma política no ano que vem.
"Se o Supremo Tribunal Federal me absolver, a Câmara me anistia", afirmou Dirceu, com a expectativa de ser julgado até novembro de 2011. Deputado cassado pela Câmara no rastro do mensalão, ele havia antes presidido o PT durante oito anos, de 1995 a 2002.
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Lula afirmou que, assim que deixar o Palácio do Planalto, vai atuar para a aprovação da reforma política - empacada no Congresso. Toda vez que se refere à crise do mensalão, ele diz que seu governo foi vítima de "cerco político" e de "golpe".
Chegou a afirmar, em 2005, que foi traído. Até agora, porém, não disse quem o traiu nem como pretende agir para provar que o escândalo não passou de caixa dois de campanha, como alega.
Turbulências
Em conversa com Dirceu e com vários interlocutores, nos últimos dias, Lula também garantiu que não vai interferir no governo de Dilma. Está, porém, muito preocupado com a situação internacional, embora avalie que o Brasil tem condições de resistir às turbulências que possam acontecer na economia. A resolução aprovada ontem pelo Diretório Nacional do PT afirma que "o partido e o governo deverão dedicar especial atenção à evolução da situação internacional, dominada por grandes incertezas no plano econômico e político, dos quais a ‘guerra cambial’ é apenas um dos sintomas".
Além de cuidar da reforma política e de viajar pela América Latina e pela África, Lula quer se dedicar à articulação política no PT. O presidente ficou muito contrariado com a tentativa do PMDB de pressionar Dilma, sob o argumento de que era preciso definir o comando da Câmara e do Senado.
O apetite do PMDB de Michel Temer (SP), vice-presidente eleito, rondou a reunião de ontem do diretório nacional petista. Apesar de não ter participado do comando da campanha de Dilma, Dirceu costurou acordos nos Estados com o PMDB, mas tomou o cuidado de não dar palpite sobre a cota do PT no futuro governo. "Não queremos hegemonismos e apoiamos o PMDB de forma irrestrita nos Estados", garantiu o ex-ministro, que concluiu: "Mas quem decide os ministérios é a presidente". (com informações do jornal O Estado de São Paulo)