O ex-vereador Gerson Araújo (PSDB), que chegou a ser prefeito de Londrina nos meses finais de 2012, está sendo acusado de improbidade administrativa em ação ajuizada na segunda-feira (9) pela Promotoria de Defesa do Patrimônio Público.
Os atos ilícitos teriam sido praticados justamente no período em que foi chefe do Executivo, após a cassação do mandato de Barbosa Neto (PDT) e renúncia do vice Joaquim José Ribeiro: na condição de prefeito, juntamente com seu então chefe de Gabinete, William Polaquini Godoy, Gerson teria feito supostamente declarações falsas para pressionar antigos proprietários a venderem o terreno para a Construtora Iguaçu do Brasil, empresa que deu calote em centenas de clientes. Também são requeridos na ação, distribuída à 1ª Vara da Fazenda Pública de Londrina, a empresa e seu sócio, Carlos Alberto Campos de Oliveira, além de Godoy.
Gerson, que teve o mandato de vereador cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em julho de 2015, Godoy e Oliveira já respondem por este mesmo fato na esfera penal. Em denúncia protocolada em novembro do ano passado, o ex-vereador e seu assessor são acusados de estelionato e falsidade ideológica e o empresário, de estelionato. A denúncia já foi recebida pelo juiz da 2ª Vara Criminal, Delcio Miranda da Rocha.
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Conforme as investigações do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), braço do Ministério Público (MP), enquanto o tucano era prefeito, Godoy, chefe de Gabinete, manteve contato com a representante dos donos de um terreno localizado na Avenida Henrique Manzano (zona norte) e informou falsamente que a área seria desapropriada para ali edificar-se uma Vila Olímpica e, por isso, seria avaliada por valor muito menor do que o de mercado. Ainda de acordo com o MP, o ardil foi fundamental para que os proprietários aceitassem vender a área para a Iguaçu do Brasil por R$ 26 milhões a serem pagos em 24 vezes. Porém, nunca receberam as parcelas.
As investigações também apontaram que de volta ao Legislativo, em fevereiro de 2013, Gerson e seu assessor teriam feito requerimento em papel timbrado da Câmara no qual solicitavam ao Executivo que declarasse de utilidade pública a área que já havia sido comprada pela Iguaçu do Brasil. Consta que nunca foi a intenção da dupla levar tal documento ao prefeito, mas, apenas ajudar a Iguaçu do Brasil a levar vantagem sobre os vendedores da área.
"Esse requerimento, produzido pelo assessor parlamentar, por ordem do então vereador Gérson Araújo, destinava-se, em caráter de exclusividade, a ser utilizado pela Construtora Iguaçu do Brasil Ltda., para fins de motivar a redução dos valores avençados na compra e venda", escreveu o promotor Renato de Lima Castro. De fato, o documento foi anexado na ação de revisão de cláusulas do contrato de compra e venda movida pela Iguaçu contra os antigos donos.
O advogado de Gerson não foi localizado ontem. Em entrevista concedida à FOLHA em setembro de 2014, quando o caso começou a ser investigado, o ex-vereador negou ter praticado qualquer ato ilícito. Disse que soube do telefonema de Godoy para a representante dos donos do terreno somente meses depois e defendeu seu então assessor. Sobre o requerimento de desapropriação da área, afirmou que nunca foi enviado ao Executivo e disse acreditar na possibilidade de que uma cópia tenha sido furtada de seu gabinete.
O advogado de Godoy disse que desconhecia a ação e preferiu não fazer comentários e o defensor de Oliveira, cujo escritório é em Maringá, não foi localizado.