As escutas telefônicas feitas pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), com autorização do juiz da 3ª Vara Criminal de Londrina, Juliano Nanuncio, revelam que o empresário Luiz Abi Antoun, parente do governador Beto Richa (PSDB), seria o verdadeiro dono da Providence, empresa de Cambé que ganhou contrato emergencial de R$ 1,5 milhão para dar manutenção à frota oficial do Estado. A tese é defendida pelo Ministério Público (MP), que apresentou denúncia contra sete pessoas implicadas na Operação Voldemort, e na qual também acusa Abi de ser o líder da organização criminosa.
Também fariam parte do esquema Ismar Ieger, espécie de "testa de ferro" de Abi; o advogado João Carlos Lucca; o empresário Paulo Roberto Midauar, do ramo de combustíveis; Roberto Tsuneda, sócio em uma das três empresas que estão em nome de Abi, e Ernani Delicato, o ex-diretor do Departamento de Transporte Oficial (Deto), órgão da Secretaria Estadual de Administração onde foi realizada o procedimento de contratação da Providence, além de um policial militar.
As escutas foram feitas entre novembro de 2014 e 16 de março deste ano, data em que cinco integrantes da organização foram presos. Ao longo das semanas, os investigados se demonstram cada vez mais desconfiados de estarem sendo monitorados. Trocam números de telefone e optam por conversas pessoalmente.
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Em várias ligações, o dono de fachada da Providence, Ieger, revela que Abi tinha medo de que a sociedade fosse descoberta. No entanto, o empresário frequentava a oficina e o próprio Ieger se apresenta como sócio de Abi.
Em conversa com sua esposa, no dia 23 de janeiro, Ieger relata que além de um coronel da Polícia Militar, Abi estava na oficina e estava bravo. "É porque tem muita gente desconfiando da gente", conta.
Em dezembro de 2014, Ieger se mostra incomodado com um funcionário indicado possivelmente por Abi que "não sabia fazer nada". Seu advogado, Lucca, que demonstra ligação próxima com Abi, aconselha Ieger a esperar uma reunião com o empresário.
Em 16 de janeiro, Ieger identificou-se como sócio de Abi ao solicitar da Sercomtel agilidade em pedido de portabilidade dos serviços de telefone e internet. A telefônica tem como vice-presidente Eloíza Pinheiro Abi Antoun, mulher de Abi e sócia dele em pelo menos uma empresa. Ieger reclamava da demora na prestação do serviço e, mais ao final da conversa, mencionou a sociedade com Abi.
Em outra conversa telefônica, em 15 de fevereiro, é o próprio Abi que demonstra quem dá as ordens na Providence. Reclama com Roberto Tsuneda, seu sócio na empresa KLM, que não consegue acessar as câmeras de segurança da firma. "Pois é, eu não consigo acessar lá, as câmeras da firma cara. Não sei o que houve com o telefone, será que está errado o IP, alguma coisa... Vê se está conseguindo daí". Em 22 de janeiro Abi ligou para Ieger e solicitou as senhas do sistema de câmeras de segurança, o que pressupõe um sistema remoto de acesso.
Também há telefonemas que revelam que as contas da Providence eram pagas por Abi, por meio de seus intermediários, como Tsuneda. No dia 4 de fevereiro, Tsuneda avisa Abi que Ieger demandava a quitação de algumas contas da oficina. Abi autoriza os pagamentos. No mesmo dia, uma funcionária da Providence liga para Ieger dizendo que Tsuneda estava na oficina querendo saber o número de sua conta "para fazer o depósito".
Os réus negam envolvimento na fraude. O advogado de Ieger, Mauro Martins, voltou a afirmar que seu cliente é, de fato, o dono da Providence e não "um laranja" atuando em nome de Abi, conforme sustenta o Gaeco. Quando à participação na fraude, o advogado disse que ainda não leu a denúncia. O advogado de Lucca, Elizandro Pellin, disse que o caso de seu cliente – também advogado – "é uma clara confusão entre o exercício regular da profissão de advogado com um fato delituoso". O advogado de Midauar, Maurício Carneiro, negou que seu cliente tenha intermediado a negociação entre o Deto e Ieger e classificou a denúncia como uma "criação fática". O advogado Gabriel Martin, que defende Tsuneda, também negou qualquer participação delituosa de seu cliente, mas evitou detalhes afirmando também que não leu a denúncia. Os advogados de Abi, Luiz Carlos Mendes, e de Delicato, Bruno Vianna, alegaram não ter tido acesso à denúncia e evitaram fazer qualquer declaração.