O governo está preocupado com a possibilidade de o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes empurrar para fevereiro a tramitação do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, ainda que diversos ministros do STF defendam decisão rápida sobre o trâmite rápido.
Próximo ao PSDB, Mendes sinalizou a intenção de "pedir vista" na ação que questiona o rito do afastamento de Dilma, causando apreensão no Palácio do Planalto, que trabalha para se livrar o mais rápido possível desse processo.
A ameaça foi vista por auxiliares da presidente como "o pior dos mundos". Um dia após conversa entre Dilma e o vice Michel Temer, a desconfiança entre ambos permanece no Planalto. Embora tenham estabelecido um pacto de civilidade para consumo externo, nos bastidores uma guerra fria movimenta o governo.
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Temer vai se encontrar nesta sexta-feira, 11, com Mendes, em São Paulo, em inauguração de uma filial de um instituto do qual o ministro é sócio. Para interlocutores de Dilma, o vice adotou uma agenda de quem defende a deposição. Na noite de anteontem, depois de um diálogo formal com a presidente de 50 minutos, Temer circulou com desenvoltura em um jantar de confraternização na casa do líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE).
Não foram poucos os convidados que observaram a satisfação do vice. "Ele está pronto para assumir, se necessário for", resumiu o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES).
A estratégia acertada no Planalto, porém, consiste em não alimentar as divergências entre Dilma e Temer. "Os relatos que tive da conversa entre os dois são positivos. Sem nenhum tipo de otimismo falso, não vejo estremecimento", disse o ministro Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo).
Para Dilma, não há muito a fazer para recompor a aliança. A presidente precisa do PMDB para enfrentar o impeachment, mas a ala dissidente do partido, ao lado do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), está ganhando força. Em conversas reservadas, petistas dizem que Temer "joga junto" com Cunha.
Ministros do PMDB pressionam deputados para reverter votos dados a Leonardo Quintão (MG), que assumiu a liderança da bancada no lugar de Leonardo Picciani (RJ), aliado de Dilma. Os ministros Marcelo Castro (Saúde) e Celso Pansera (Ciência e Tecnologia) podem até reassumir os mandatos na Câmara para dar apoio a Picciani. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.