As manifestações contra o governo, nos 26 Estados e no Distrito Federal, acenderam o sinal amarelo no Palácio do Planalto. A avaliação foi a de que desta vez a imagem da presidente Dilma Rousseff ficou colada ao desgaste enfrentado pelo PT no escândalo de corrupção da Petrobras. O governo acredita ainda que o PSDB conseguiu "partidarizar" os movimentos na tentativa de fazer avançar a tese do impeachment.
Em reunião com ministros que compõem a coordenação política do governo na noite deste domingo, 16, Dilma disse considerar que a população, embora insatisfeita, não apoia iniciativas "golpistas". O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que passou o dia monitorando os atos em seu gabinete, informou que as manifestações foram pacíficas, em todo o País.
Para evitar "panelaços" e esvaziar a repercussão dos protestos, ministros foram orientados a não dar entrevistas após a reunião com Dilma, no Palácio do Alvorada, que durou duas horas. Coube ao titular de Comunicação Social, Edinho Silva, emitir um curto comentário.
Leia mais:
Argentina anuncia reforma migratória que pode afetar brasileiros no país
Vereadores de Londrina apresentam seis emendas ao orçamento do Município
Câmara de Cambé poderá aumentar número de cadeiras a partir de 2029
Vereadores aprovam projeto de lei para receber 13° salário em Cambé
"O governo viu as manifestações dentro da normalidade democrática", disse Silva. "O governo mantém sua agenda de trabalho para em breve o País voltar a crescer, gerando emprego e distribuindo renda", emendou, em post no Twitter.
A ordem do Planalto é destacar a legitimidade dos protestos e dizer que o governo tem "humildade" para admitir os erros. No diagnóstico de ministros ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo, a crise política arrefeceu, mas está longe de acabar e o governo precisa tomar cuidado para não demonstrar soberba neste momento em que os problemas na política prejudicam ainda mais a economia.
Bonecos
Chamaram a atenção de ministros, nas manifestações de ontem, os bonecos de Dilma vestida de "irmã metralha" e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com roupa de presidiário e a inscrição 13-171.
A percepção do núcleo político do governo foi a de que Dilma não conseguiu, até agora, transmitir a ideia de que a Operação Lava Jato, da Polícia Federal - responsável por desvendar um esquema de corrupção na Petrobras - vai passar o País a limpo. Ao contrário: os protestos mostraram que a operação da Polícia Federal nocauteou o governo, Lula e o PT.
Fôlego
No entanto, na reunião de ontem, ministros disseram que Dilma acertou, nos últimos dias, ao sair do Planalto para defender sua gestão e apontar para os riscos de uma ruptura nas regras do jogo.
Com a popularidade em queda livre, Dilma só ganhou fôlego nos últimos dias após fazer acordo com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que divulgou a "Agenda País" e desviou o foco da crise e do ajuste fiscal - isolando o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Além disso, a presidente esteve no Maranhão e na Bahia, na semana passada, para inaugurar obras. Não foi só: tomou café da manhã com empresários, jantou com senadores aliados e integrantes do Judiciário e se reuniu com representantes de movimentos sociais dois dias seguidos.
A estratégia vai continuar, nos próximos dias. Em conversas reservadas, ministros dizem que Dilma errou no passado ao não dialogar com os vários segmentos da sociedade e também com aliados do PMDB. "Mas agora a ficha caiu", contatou um de seus auxiliares. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.