Brasileiros, americanos, turcos, filipinos, sul-africanos. Estes são alguns dos que apontam para os políticos nacionais como a sua maior preocupação, quanto à origem e propagação de fake news, notícias falsas.
É o que constata o relatório deste ano do Instituto Reuters, da Universidade Oxford, sobre o consumo de jornalismo digital em 40 mercados.
Montado a partir de uma pesquisa YouGov realizada em janeiro e fevereiro, junto a 80 mil consumidores de notícias pela internet, o estudo vem se firmando como retrato de referência para o jornalismo global.
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No ano passado, acrescentou a África do Sul, primeiro país do continente, e agora o Quênia, além das Filipinas, mas o seu foco maior ainda está na Europa, com 24 dos 40 mercados. Inclui Hong Kong, mas não a China toda.
Responsável principal pelo levantamento, Nic Newman, ex-BBC, evita comparações diretas entre os 40, dadas as diferenças de acesso digital e a concentração de parte das amostras em áreas urbanas, mas enfatiza os resultados sobre desinformação.
Na média global, 56% dos entrevistados se disseram preocupados com o que é verdadeiro ou falso nas notícias que leem. E isso foi antes de a pandemia do novo coronavírus tomar conta da cobertura mundial.
Vistos separadamente, a exemplo do que já mostrava o relatório do ano passado, os brasileiros são os mais preocupados com fake news (84%), o que é creditado ao uso mais disseminado e intenso que fazem de mídia social.
O país tem a característica, que divide com poucos, como a Malásia, de se preocupar mais com serviços de mensagem quando se trata de notícias falsas, no caso, WhatsApp, do que propriamente com o Facebook, citado na maioria dos demais.
Outro fator que influi na maior preocupação "é a natureza polarizada da política brasileira recente", afirma Newman. "De maneira geral, as pessoas se preocupam mais com desinformação em países onde há mais polarização, Brasil, Estados Unidos, Filipinas."
Mas o mais significativo do levantamento é a responsabilização de políticos –abrangendo também o governo e os partidos. Na média de todos os mercados, 40% se dizem mais preocupados com eles, quando se trata de desinformação; 14% apontam ativistas; 13%, os próprios jornalistas e veículos.
No Brasil, o percentual dos que se preocupam com as notícias falsas geradas por políticos chega a 50%. Nos EUA, 42%. Na Alemanha, só 25%.
"Brasil, EUA, Turquia, Filipinas, todos esses são países com líderes que têm a sua própria mídia social, fazem seu próprio barulho", afirma Newman.
Até a maneira como se expressam teria efeito sobre os consumidores de notícias. Sem nomear o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o pesquisador do Instituto Reuters diz que "políticos daí, você sabe, dizem algumas coisas em mídia social".
O estudo, com o avanço da pandemia, separou seis países (Alemanha, Argentina, Coreia do Sul, Espanha, EUA e Reino Unido) para uma pesquisa complementar três meses depois. Registrou aumento médio de 5% no consumo de notícias por televisão, e de 2%, online.
Também na média dos seis, constatou em abril uma confiança mais elevada em "cientistas e médicos" (83%) e "organizações globais de saúde" (73%) e mais baixa em "políticos individualmente" (35%). O "governo nacional" e as "organizações jornalísticas" ficaram no meio, ambos com 59%.