A equipe de advogados de Alberto Youssef, considerado um dos líderes do esquema de desvios da Petrobras, vai concentrar a defesa na alegação de que o doleiro serviu apenas como uma peça no sistema político criado para dar sustentação ao projeto de poder do PT.
O documento deve ser apresentado à Justiça Federal do Paraná, onde tramitam os processos da Lava Jato, na próxima terça-feira. "É um projeto de poder para sustentação do PT. Não há dúvida disso. Vou citar isso na peça, claro. Não tem dúvida. PT e a base aliada como PMDB, PP", diz o advogado Antônio Augusto Figueiredo Basto. "É a corrupção sustentando um esquema de poder. Não há menor dúvida de que esse esquema é um grande sistema de manutenção de grupos políticos. Vamos sustentar isso na nossa defesa. Meu cliente foi mera engrenagem. Não era a peça fundamental do esquema."
Na delação realizada por Youssef no âmbito da Lava Jato, ele citou políticos como beneficiários do esquema da Petrobras. Confirmou também a partilha de desvios de contratos com as empreiteiras entre três partidos: PT, PMDB e PP.
Leia mais:
Gerson Guariente avalia que o Orçamento de 2025 será difícil de ser realizado por Tiago Amaral
Isenção de IR para quem ganha até R$ 5.000 só ocorrerá com condições fiscais, dizem Lira e Pacheco
Código de Posturas será debatido em audiência pública na Câmara de Londrina
Kassio rejeita notícia-crime de Boulos contra Tarcísio no TSE por fala sobre PCC
O posicionamento de Figueiredo Basto ocorreu um dia depois de os advogados do empresário Gérson de Mello Almada, vice-presidente da Engevix Engenharia, afirmarem em documento entregue à Justiça Federal que a Petrobras foi usada para bancar o "custo alto das campanhas eleitorais" e para financiar a base de apoio do governo federal nos "últimos 12 anos".
Segundo a defesa de Almada, preso pela Operação Lava Jato desde 14 de novembro de 2014, "a Petrobras foi escolhida para geração desses montantes necessários à compra da base aliada do governo e aos cofres das agremiações partidárias".
O esquema de pagamento de propina a parlamentares, em troca de apoio ao governo, descrito pelos defensores, se assemelha ao ocorrido no processo do mensalão, que levou integrantes da cúpula do PT e da base à prisão.
O advogado de Youssef ressalta que não há combinação na linha de defesa com outros defensores. "Não há nenhuma harmonia entre as defesas, trabalhamos de forma individual. O que há é a verdade, o esquema vem de cima. Agora todo mundo já está falando porque é notório, as empreiteiras estão servindo de bode expiatório. É verdade que não tem inocente nesse jogo, ninguém foi extorquido, achacado, todos entraram de forma consciente. Mas é evidente que, se o sistema não funcionasse, haveria prejuízos para as empreiteiras. Vinha de cima e era para sustentar, sim, um esquema político. Se você não tem os corruptos, não tem esquema. E quem nomeava os corruptos? Os políticos. É uma lógica irrefutável", diz Basto.
Apesar da tentativa de associar o escândalo apenas ao PT e aos partidos da base, as investigações apontam que o esquema também abasteceu o PSB e o PSDB. Depoimentos do ex-diretor Paulo Roberto Costa na delação premiada citam o nome de Sérgio Guerra, ex-presidente do PSDB morto no ano passado, que teria "extorquido" a Petrobras em 2010 e pedido R$ 10 milhões para encerrar a CPI mista que investigava a estatal na época.
Além disso, Costa também mencionou o repasse de R$ 20 milhões para o caixa 2 da campanha de Eduardo Campos (PSB) ao governo de Pernambuco em 2010.
Além da apresentação da defesa na próxima semana, os advogados de Youssef preparam um segundo documento para ser apresentado no início de fevereiro para que o doleiro passe a cumprir pena em regime domiciliar. Youssef está preso desde março do ano passado, em Curitiba. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.