Quanta história existe enraizada por debaixo dessa terra vermelha? Quem trafega pelas ruas e praças de Londrina, e pisa por esse chão, talvez não imagine que até mesmo uma árvore possui, em seu passado, uma história.
E árvores têm vida longa; depois de semeadas, crescem como crianças que, quando se vê, já ultrapassaram nossas alturas e a longevidade de nossas vidas; mas, apesar da grandiosidade de suas copas, o que elas jamais podem encobrir é o pioneirismo de suas raízes. É por isso que, enquanto houver árvores em Londrina, a memória do alemão Erich Franz Kühnlein estará viva na cidade.
Filho de lavradores, Erich nasceu em 16 de março de 1929, na Alemanha. Integrante de uma família de oito filhos, aos 14 anos ele já trabalhava e se dedicava ao cultivo de plantas, o que, mais tarde, culminou na formação como paisagista - o curso foi feito lá mesmo, na Europa.
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Erich (em pé, de óculos) seus irmãos e a mãe, Franziska, na Alemanha.
Em 1952, vindo de um país destruído pela guerra, o jovem paisagista aportou em terras tupiniquins em busca de uma nova vida. E depois de trabalhar por cerca de um ano em São Paulo, aceitou o desafio do então prefeito de Londrina, Milton Menezes, de arborizar a "pequena Londres".
Com um caminhão de lixo cedido pela prefeitura, o alemão da Bavária percorria a cidade, para lá e para cá, carregando suas preciosas sibipurunas e as sementes que trouxera da Europa. Foi Erich também quem teve a ideia de cultivar o primeiro horto florestal do município, próximo ao Hospital Universitário (HU), área que, atualmente, está loteada.
"Ele procurava fazer o trabalho dele com muita qualidade para não ter de voltar e fazer duas vezes. Era ao mesmo tempo exigente e carinhoso com os funcionários e até tomava uma cervejinha com eles depois do trabalho", lembra a filha Rosani Cavalcante Kühnlein.
Erich (à direita) acompanhando a realização de um serviço.
Se Erich trouxe vida para Londrina, Londrina também construiu a vida de Erich em uma espécie de amor mútuo. Foi aqui que o alemão conheceu a mulher com quem se casou e teve cinco filhos. Em 2017, Lindinalva e Erich comemoraram bodas de diamante, seis décadas depois das primeiras mudas de árvore plantadas pelo alemão na rua dela.
"Em 1956 eu morava na Rua Piauí esquina com a Rua Pernambuco e ele estava plantando árvores na rua quando nos conhecemos. Mais tarde uma vizinha me disse 'nossa você vai namorar com uma pessoa que trabalha na rua?', porque meu pai era considerado rico na época", conta Lindinalva, rindo da lembrança.
Erich e Lindinalva se conheceram em 1956 e se casaram um ano depois.
Rosani, a filha do meio do casal, formou-se em Biologia e Carlos, seu irmão, em Paisagismo, assim como o pai. Rosani explica que o ambiente em que cresceram e o amor do pai pela profissão influenciaram na escolha de suas carreiras. "Nosso parque de diversões era a chácara, e à noite [quando Erich chegava do trabalho] a gente ajudava ele a desenhar os projetos com papel de seda e lápis de cera."
Família Kühnlein
A bióloga destaca ainda que o pai nunca fizera distinção de gênero no que diz respeito às obrigações e aos direitos. "Ensinou todos, tanto os filhos homens como as filhas mulheres, a dirigir e a cozinhar, e sempre gostou muito de comer bem, festar, dançar e unir a família."
Flagrante da filha Erika, que registou a relação do pai com o Urutau que voltava todo ano para procriar.
Há cerca de sete anos, Erich sofria de Mal de Alzheimer, que colocou em risco seus mais de 80 anos de memória. Em 2015, Erich assustou a todos depois de ser atacado por um enxame de abelhas enquanto caminhava em sua empresa de paisagismo, na zona sul. Com cerca de 800 ferroadas, ele foi levado em estado grave ao Hospital do Coração, mas sobreviveu.
Erich ficou os últimos cinco anos sem visitar parte da família na Alemanha, sua terra natal; viagem que desejava muito fazer, mas que não o pôde.
A grande árvore cultivada por Erich e Lindinalva, comemorando 60 anos de casamento.
A Missa de Sétimo Dia de Erich Franz Kühnlein será realizada nesta quinta-feira (1º), às 18h30, no Bosque do Centro de Londrina. Caso chova, será transferida para a Catedral.
Deixa esposa e cinco filhos. Dia 23 de fevereiro de 2018, aos 88 anos, por falência múltipla dos órgãos.
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