Ele foi um dos reis do humor de Hollywood e da história do cinema. Blake Edwards criou a série da Pantera Cor-de-Rosa, oferecendo a Peter Sellers o inesquecível personagem do Inspetor Clouseau, e só isso bastaria para consagrá-lo. Mas Edwards também dirigiu Peter Sellers em "Um Convidado Bem Trapalhão", ofertou aquele papel para Audrey Hepburn em "Bonequinha de Luxo" e ainda fez muitos filmes com uma certa noviça rebelde, com quem se casou, e Julie Andrews estava a seu lado quando ele morreu, num hospital de Hollywood, de complicações provocadas por uma pneumonia. Tinha 88 anos.
Edwards morreu anteontem de manhã, horário local, mas o anúncio foi feito somente ontem, mais de 24 horas depois. Ele nasceu em Tulsa, cidade de Oklahoma, em 1922. Filho de atores, iniciou-se cedo no cinema, frente às câmeras. Descobriu a escrita e foi roteirista de rádio, antes de se ligar ao diretor Richard Quine, para quem escreveu muitos filmes, incluindo "Aconteceu num Apartamento", de 1960, com Jack Lemmon e Kim Novak.
O próprio Edwards já vinha dirigindo desde 1954 - "Sorria para a Vida" -, mas foi preciso esperar por "De Folga para Amar" e "Anáguas a Bordo", em 1958 e 59, para que os críticos o descobrissem. Também dirigiu para TV e formatou séries como Mr. Lucky e Peter Gunn. Apesar desse currículo e tanto, a consagração só veio com Bonequinha de Luxo, Breakfast at Tiffany?s, com Audrey Hepburn, em 1961.
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O próprio autor da história, o escritor Truman Capote, preferia Marilyn Monroe no papel, mas Edwards bancou a esguia Audrey e, se ela já era um ícone de elegância, seu longo preto, o chapelão e os óculos escuros, mais a piteira, criaram uma mitologia moderna. Logo veio a série da Pantera Cor-de-Rosa, que criou duas belas personagens - a própria Pantera, que deu origem a uma série animada, e o desastrado Inspetor Clouseau de Peter Sellers -, ambas evoluindo na tela ao som da trilha de Henry Mancini, que já compusera o tema de "Bonequinha". Em 1974, Edwards fez "Sementes de Tamarindo" com Julie Andrews. Casaram-se e ficaram mais de 35 anos juntos. Ao Estado, ela declarou no ano passado que isso não teria sido possível se não tivesse humor. Edwards não era homem de perder uma piada, na vida como na arte.
Seu melhor filme com a mulher foi "Victor/Victória", mas também são bons "Lili, Minha Adorável Espiã" e "Assim É a Vida". Edwards foi um crítico ácido da vida norte-americana, mas praticava como poucos a sutileza. Ele se autodefinia - dizia que buscar a simplicidade das gags havia levado os críticos a afirmarem que era ''sofisticado''. Entre as homenagens que recebeu, está a de Cannes, que se vestiu de gala para lhe dar um prêmio de carreira em 1992.