Filmes de resistência em uma mostra igualmente combativa - a terceira edição do Hollywood Brazilian Film Festival terminou ontem (5), em Los Angeles, depois de cinco dias em que a meca do cinema americano abriu espaço para longas brasileiros ainda desconhecidos até do público e crítica nacionais.
Uma cruzada bem ao estilo da organizadora Talize Sayeg, que vive em Los Angeles há 20 anos. "O Brasil está em alta enquanto os Estados Unidos ainda combatem sua crise. Assim, nada melhor que exibir nossos projetos de alta qualidade e que foram concebidos com baixo orçamento."
Pode parecer uma nova versão da famosa luta de Davi contra Golias, mas o fato é que, já na abertura do festival, quarta-feira, quando foi exibido "Riscado", de Gustavo Pizzi, boa parte da parcela americana da audiência deixou a sala do Egyptian Theatre com ares da aprovação. "Boa aquela atriz", comentou uma senhora com a amiga, referindo-se a Karine Teles que, pela excelente atuação, foi premiada no Festival do Rio do ano passado.
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Também corroteirista do filme, ela está exuberante como a atriz que deixa uma pequena produção teatral da qual é a principal razão de ser para se aventurar em um grande filme, uma coprodução francesa. Um salto gigantesco mas com consequências desastrosas. "É um filme sobre a busca do céu enquanto estamos varrendo o chão", define Pizzi, casado com Karine e pai de gêmeos, que também estiveram na cerimônia de abertura.
De uma certa forma, essa também é a busca de Talize Sayeg, ainda que, por sorte, sua história está longe de um final infeliz. Uma das vítimas financeiras do plano econômico do presidente Fernando Collor de Melo, que provocou tragédias familiares em 1990, ela decidiu buscar nova chance nos Estados Unidos. Passou por diversos apuros até adquirir o conhecimento necessário para organizar, em 2009, o primeiro Hollywood Brazilian Film Festival. "O segredo do sucesso é que sou versátil como brasileira, mas com pensamento americano."
Sua ideia logo capitalizou a adesão de estrelas do cinema nacional, como Reinaldo Gianecchini e Mariana Ximenes e a top Camila Alves, que compareceram às edições do festival. Também da cantora Bebel Gilberto, que fez o show de abertura na quarta-feira. Assim, em vez de apostar em títulos certos, consagrados no Brasil e em festivais internacionais, ela decidiu investir no futuro: dar espaço para jovens talentos que ainda não receberam o devido reconhecimento. Por conta disso, o Hollywood Brazilian tornou-se não apenas uma vitrine mas também uma possibilidade de negócios.
Para a programação deste ano, Talize selecionou títulos diversos, como "A Fuga da Mulher Gorila", de Felipe Bragança e Marina Meliande; "Estrada para Ythaca", de Guto Parente, Luiz Pretti, Pedro Diógenes e Ricardo Pretti, que teve rápida passagem no circuito de São Paulo; "Por el Camino", uma coprodução com o Uruguai dirigida por Charly Braun; "Bollywood Dream", de Beatriz Seigner, ainda em cartaz nos cinemas paulistanos; "Rosa Morena", de Carlos Augusto Oliveira, outra coprodução, agora com a Dinamarca; e "A Alegria", de Felipe Bragança, além de curtas e médias-metragens. "Fazer cinema é amor, mas realizar um festival é uma paixão", acredita a organizadora.