Um filme ''alto astral'' baseado na história verdadeira de um grupo feminino australiano que lutou contra o preconceito e que causou sensação no Festival de Cannes já é um sucesso na Austrália.
O longa The Sapphires se baseia na história verdadeira de um grupo integrado por mulheres de uma mesma família aborígene que deixou a Austrália para cantar para cantar canções de soul music para soldados americanos durante a Guerra do Vietnã.
A estreia britânica se deu após a produção ter sido aclamada em Cannes e no Festival de Cinema de Londres, realizado no mês passado.
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O diretor Wayne Blair, que é de ascendência aborígene, admite que histórias sobre indígenas que ganham fama internacional muitas vezes falham nas bilheterias em seus países natais.
Sucesso de bilheteria
Mas o filme é um sucesso indiscutível na Austrália, já tendo faturado 14 milhões de dólares australianos (R$ 29,5 milhões) em apenas nove semanas de exibição.
''A Austrália está pronta para mais histórias sobre indígenas. Acho que já estávamos prontos há 30 ou 40 anos. Não são apenas as grandes cidades que estão vendo esse filme. O resto da Austrália também. É lindo'', comenta.
Quando o filme estreou em Cannes, Chris O'Dowd, um dos protagonistas do longa, chegou a ser repreendido pelo diretor do festival por não parar de dançar a canção Soul Man no tapete vermelho.
Mas o ator irlandês que interpreta o empresário da banda, Dave, tinha todos os motivos para celebrar, após o filme ter sido aplaudido de pé por dez minutos e o produtor americano Harvey Weinstein ter fechado um acordo de distribuição do longa.
''Eu sabia que o filme era bom e eu realmente adorei fazê-lo. Mas eu achava que era apenas um filminho independente australiano que, se muito, emplacaria na Nova Zelândia e na Tasmânia. Não pensava que seria algo que iria tentar fazer sucesso mundial'', afirma O'Dowd.
O êxito despertou interesse pelas Sapphires verdadeiras, duas das quais fizeram na vida real o mesmo que as personagens que inspiraram nas telas.
Lois Peeler e sua irmã Laurel Robinson foram ao Vietnã, mas suas duas primas, Beverley Briggs e Naomi Mayers, permaneceram na Austrália.
Em entrevista à BBC, Lois Peeler relembra a experiência como tendo sido ''bem assustadora''. ''Não tinha pensado o suficiente que estávamos indo para uma zona de guerra. Quando desembarcamos em Saigon, momentos depois houve um bombardeio ao aeroporto'', conta.
Laurel Robinson deixou seu filho Tony, de 2 anos, em casa para excursionar com a banda. Mais de 30 anos depois, seu filho assinou o roteiro no qual The Sapphires é baseado.
Antes de chegar às telas, a história assinada por Tony Briggs inspirou um musical de sucesso nos palcos de Melbourne e Sydney.
Sensação do soul
O diretor Wayne Blair afirma que as Sapphires originais se tornaram uma sensação da soul e uma fonte de inspiração até para artistas negros americanos. Ela lembra que as cantoras que inspiraram o filme chegavam até a participar de churrascos com os Jackson Five.
A atriz Shari Sebbens, que interpreta uma das cantoras, preza o pioneirismo do filme. ''É a primeira vez que indígenas australianos, como nós, ou ao menos uma das primeiras vezes, em que somos capazes de expressar nossas próprias identidade por conta própria'', comenta.
O filme aborda a chamada ''geração roubada'' da Austrália - vítimas de uma política governamental de assimilação forçada de aborígenes que vigorou até a década de 1960.
Milhares de crianças aborígentes foram retiradas à força de suas famílias e enviadas para instituições públicas ou entregues a famílias brancas.
Em 2008, o governo australiano pediu oficialmente perdão às suas comunidades aborígenes. Mas a atriz Miranda Tipsell, que interpreta outra cantora do quarteto, afirma que quando o pedido do governo foi feito muitas das pessoas afetadas já haviam morrido.
''Sinto que ainda estamos muito para trás como país. Demorou muito para que a Austrália média tomasse conhecimento de nós. Temas ligados aos indígenas são retratados no filme, mas estes não vendem bem porque não são populares e as pessoas se sentem confrontadas por eles'', afirma.
Para Shari Sebbens, o longa traduz a natureza dos aborígenes, um povo que conseguiu superar contratempos e tragédias por meio da alegria, diz ela. ''O filme bate em todos estes temas duros de forma bem humorada e celebratória e não faz com que ninguém se sinta atingido ou culpado. É como sobrevivemos, por meio de nossa família, de nossas risadas e alegria'', comenta.
Assista o trailer oficial: