Se depender da aprovação popular, o Festival de Brasília já tem um campeão. O documentário Kátia, exibido na noite de ontem, foi ovacionado pelo público ao término da sessão. Muito graças à sua protagonista, Kátia Tapety, o primeiro travesti eleito na história da democracia brasileira.
A própria Kátia esteve presente no Teatro Nacional Cláudio Santoro e foi bastante assediada ao término da sessão. Eleita três vezes vereadora e uma vez vice-prefeita da pequena cidade de Colônia do Piauí, ela é um símbolo local na luta contra a discriminação aos homossexuais. Este na verdade foi o grande motivo de tamanha badalação, já que o filme em si não faz jus à sua personagem.
Kátia, o filme, é resultado de 20 dias em que a diretora Karla Holanda e sua equipe passaram com a protagonista em Colônia do Piauí. Além de mostrar seu dia a dia, repleto de muito trabalho pesado ao cuidar dos animais e da casa em que mora, o longa-metragem ressalta o lado espirituoso e decidido da protagonista. Entretanto, o filme se sustenta principalmente nas tiradas de Kátia e em seu histórico de embates com a família por ter assumido a homossexualidade, deixando de lado o caráter político e sua representatividade perante a cidade.
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Divertido e contundente em certos momentos, mas também cansativo devido à falta de foco, Kátia acaba sendo um filme irregular. Entretanto, há uma cena marcante: quando Kátia vem ao Rio de Janeiro e é atendida pelo dono de uma loja, que aproveita a chance para mandar um recado indignado contra os políticos corruptos. Logo após o discurso improvisado, muito aplaudido pelo público, o próprio vendedor é flagrado em dúvida sobre se deveria ter gravado a mensagem. Impagável.
O próximo documentário da mostra competitiva de longas a ser exibido será Otto, novo trabalho do diretor Cao Guimarães (O Fim do Sem Fim e Andarilho).