Depois de seis anos trabalhando nos Estúdios da Disney, onde participou de filmes como "Mulan" e "A Nova Onda do Imperador", a ilustradora e roteirista Rosana Urbes esteve em Londrina no último dia 1º de setembro para uma aula no curso de pós-graduação em Ilustração, da Unopar. Na ocasião, Rosana, que se prepara para lançar um curta-metragem falou aos alunos sobre seu trabalho, o mercado brasileiro e a produção de curtas-metragens. Confira:
- Você trabalhou na Disney em produções de sucesso como "Mulan" e "A Nova Onda do Imperador". Qual foi seu maior desafio e qual foi seu trabalho preferido?
Rosana: Todo trabalho é um desafio porque cada trabalho, filme ou livro é um universo próprio que você tem que explorar e desvendar. Sempre começo do zero, parece que eu nunca desenhei na vida, nunca sei o que vou fazer, tenho que descobrir tudo de novo. Além disso é preciso se apaixonar por tudo que você está fazendo e no momento em que você está fazendo alguma coisa, parece que ela é a coisa mais bacana do universo, a coisa mais incrível que já foi feita. Em termos de grandes produções, "Mulan" foi especial porque foi a minha chegada num grande estúdio, e teve o deslumbramento de ver uma produção dessa proporção, com uma média de 200 pessoas trabalhando juntas. O desenvolvimento visual era inacreditável, o acervo de imagens de inspiração que existia para que o universo do desenho fosse construído foi uma coisa que me empolgou muito. Foi um grande aprendizado.
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- Você abriu uma produtora em São Paulo e está bancando sua primeira animação, "Dona Guida". Quando o filme será lançado?
Rosana: "Guida" é um projeto de curta-metragem, meu primeiro filme autoral e a idéia é lançar no ano que vem. Ele fala de uma sexagenária que tem um trabalho burocrático mas que descobre uma veia artística adormecida e resolve posar como modelo vivo para aulas de desenho.
- É um filme infantil?
Rosana: Não exatamente. Eu mostrei o trabalho para crianças, funciona bem mas não tem um tema infantil. Vamos ver o que o público vai dizer.
- A presença da mulher é marcante nos seus trabalhos, assim como as personagens gordinhas. Isso é proposital?
Rosana: O universo feminino me interessa muito. As gordinhas, descobri com o tempo, têm um carisma especial. Essa história com elas começou por causa de uma amiga, Marina, que dá aulas de canto. Eu comecei a organizar aulas de modelo vivo na Disney e tinha uma modelo chamada Sandra que era bem gordinha e era incrível, tinha uma leveza extraordinária. Comecei a desenhar as gordinhas pensando nela e mandava os desenhos para a Marina. Ela colocava os desenhos na parede e as alunas diziam que só de olhar as gordinhas ficavam mais relaxadas e cantavam melhor (risos). A gordinha é uma das minhas revoluções particulares – eu ainda acho que vou mudar o mundo (risos). Tem um aspecto da beleza que é a manifestação da força de vida através da forma e eu fiquei fascinada com a ideia de evidenciar isso no desenho. Vejo tantas mulheres sofrendo dessa dor de não aceitar o próprio corpo, a grande maioria
das mulheres se acha gorda, e vão se travando e perdendo a capacidade de se expressar fisicamente. Suspeito que isso possa interferir na capacidade de
se expressar de uma forma geral.
- Além de se preparar para lançar um filme você também está ilustrando livros. Você acha que o mercado brasileiro mudou nesse tempo em que você ficou fora? Tem mais espaço para a ilustração profissional?
Rosana: O Brasil avançou nessa área, é inegável. Quando saí havia 4 ou 5 estúdios de animação. Hoje aparecem novas produtoras todos os dias e estamos produzindo longas e séries de animação. Os livros também aqueceram o mercado. Visitei a Bienal e tem muita gente produzindo, acho que o mercado editorial é promissor, assim como os festivais de animação. E aqui há uma questão importante que é o investimento em curta-metragem. É no curta que se desenvolve uma escola de animação. É complicado arriscar novas linguagens e desenvolver um sistema de trabalho para um longa ou para uma série, por que produzir animação é um processo longo e laborioso. É na produção de curtas que reside a riqueza cultural do universo de animação no país. Não podemos pular essa etapa. Num formato menor, como o curta, você tem oportunidade de experimentar e conseguir trabalhos viáveis. Acho que o Governo e realizadores precisam entrar mais nessa jogada, retomar investimentos, porque estamos vivendo um momento de expansão da indústria da animação no Brasil e investir na produção de curtas, é investir em cultura.