O americano Graham Moore roubou a cena na entrega do Oscar, na noite de domingo, 22. Vencedor do prêmio de melhor roteiro adaptado por seu trabalho em O Jogo da Imitação, ele disse, emocionado: "Quando eu tinha 16 anos, eu tentei me matar porque eu me sentia esquisito, diferente. É como se eu não me encaixasse. E agora eu estou aqui. Eu queria que esse momento fosse dedicado à criança que está lá fora e que se sente estranha, e diferente, e que sente que não se encaixa em lugar nenhum. Sim, você se encaixa. Continue esquisita e continue diferente". Nascido em 1981, Moore é autor de The Sherlockian, best-seller nos Estados Unidos, integrou a equipe de escritores de 10 Coisas Que Odeio Em Você e ganhou notoriedade agora, com o filme sobre Alan Turing, cuja atuação foi decisiva para o fim da Segunda Guerra Mundial, mas cujo destino foi marcado por sua orientação sexual. Naquela época, ser gay era crime na Inglaterra e ele foi condenado.
Moore não foi o único ir além dos agradecimentos usuais. Patricia Arquette, vencedora do Oscar de atriz coadjuvante por Boyhood, fez um discurso em favor da igualdade de direitos para homens e mulheres. "A todas as mulheres que dão a luz e pagam seus impostos, é chegado o momento de termos os mesmo salário dos homens e os mesmos direitos", disse. Foi aplaudida pela plateia, sobretudo por Meryl Streep, indicada na mesma categoria de Arquette. Ela completou depois da premiação: "Não tem desculpa que justifique sairmos pelo mundo falando sobre igualdade em outros países quando não temos os mesmos direitos nos Estados Unidos".
Selma, filme sobre os direitos civis americanos, ganhou apenas o Oscar de melhor canção original - Glory, de Common e John Legend. O discurso dos dois também emocionou a plateia. "O espírito dessa ponte conecta o menino de Chicago sonhando com uma vida melhor, as pessoas na França defendendo a liberdade de expressão e em Hong Kong protestando por democracia. Essa ponte foi construída sobre esperança, soldada com compaixão e erguida com amor por todos os seres humanos", disse Common. "Dizemos que Selma é agora porque a luta por justiça acontece agora. "Sabemos que o movimento pelo direito do voo empreendido 50 anos atrás está sendo comprometido neste país hoje. Sabemos que agora a luta por liberdade e justiça é real. Vivemos no mais encarcerado país do mundo. Há mais homens negros presos hoje do que durante a escravidão, em 1850", discursou John Legend.
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A jornalista e cineasta Laura Poitras, vencedora do Oscar de melhor documentário por Citizenfour, sobre Edward Snowden, disse que as revelações de seu biografado "não expõem apenas ameaças à nossa privacidade, mas também à nossa democracia". Nesta segunda, em nota, o ex-analista da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos, acusado por seu país de espionagem e exilado na Rússia, disse que o documentário pode mostrar às pessoas que se elas se unirem podem mudar o mundo.
A noite foi encerrada com uma fala do diretor mexicano Alejandro González Iñárritu, de Birdman, sobre imigração e respeito - ele, no entanto, não mencionou os estudantes raptados e mortos em Guerrero. Tudo começou com uma brincadeira - considerada por muitos como infeliz e racista - de Sean Penn, escolhido para anunciar o melhor filme desta edição da premiação. Ao abrir o envelope, ele disse: "Quem deu o green card para esse cara?" Iñárritu não viu maldade e disse, depois da cerimônia, que aquilo era só uma "piada brutal entre velhos amigos". Os dois trabalharam juntos em 21 Gramas, de 2003. "Nós temos esse tipo de relação selvagem em que só a verdadeira amizade pode sobreviver", disse o diretor, que confessou ter feito piadas pesadas como essa com o ator.
Iñárritu já tinha subido ao palco para receber o prêmio de melhor roteiro original e de melhor direção - aliás, ele foi o segundo mexicano a ser eleito o melhor diretor. E fez piada com isso, logo após ouvir a gracinha de Sean Penn, dizendo que é possível que no próximo ano o Governo imponha alguma regra de imigração à Academia. "Dois mexicanos em anos seguidos? Suponho que isso seja suspeito." Alfonso Cuarón ganhou em 2014 por Gravidade.
Depois dos agradecimentos tradicionais, ele voltou, mais sério, ao tema da imigração. "Quero dedicar este prêmio aos meus compatriotas mexicanos - aqueles que vivem no México. Rezo para podermos encontrar e construir um governo que todos merecem. E para os que vivem nos Estados Unidos e que fazem parte da mais nova geração de imigrantes, rezo para que sejam tratados com a mesma dignidade e o mesmo respeito dos que vieram antes e construíram esta incrível nação de imigrantes".