Na noite de encerramento do Festival Kinoarte de Cinema – 15ª Edição Londrina, dezenas de troféus Udihara serão entregues aos curtas-metragens vencedores das sessões competitivas nacional, paranaense e londrinense. O troféu que leva o nome do pioneiro nos registros cinematográficos de Londrina será também entregue a dois homenageados especiais. O primeiro deles é Caio Cesaro, uma dos fundadores da Mostra de Cinema de Londrina, hoje Festival Kinoarte. O outro é conhecido no país inteiro por sua relevância artística: o cantor e ator Ney Matogrosso, tema do documentário Olho Nu, filme de encerramento do Festival.
O discurso e as performances de Ney são usados como espinha dorsal do documentário. No filme, ele é um ator social e político de uma história que transcende sua biografia e que atravessa períodos marcantes da cultura brasileira, como a era do rádio, a bossa nova, a diversão dos anos 70, o tropicalismo, a luta contra a censura e pelas Diretas-Já, a militância ecológica. "Como o próprio Ney afirma no filme, tudo o que ele tem pra dizer está nas letras que ele elege e no corpo que vira linguagem para transfigurar som e imagem em arte de cantar a liberdade", pontua Joel Pizzini, diretor de Olho Nu.
Os homenageados
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Ney Matogrosso
Natural de Bela Vista, Mato Grosso do Sul fronteira com o Paraguai, onde nasceu em 1º de agosto de 1941, Ney de Souza Pereira cresceu com uma personalidade moldada pelos cantores de rádio, pelo cinema de Grande Otelo e Oscarito, pela voz da mãe cantando pela casa e pela forte presença do pai militar. Na adolescência, já morando em Brasília, Ney perdeu a vergonha de sua voz quando se deu conta de que atingir a região de contralto era uma coisa que tinha valor.
Até então, Ney focava no teatro e não pensava na música como algo que fosse conduzir sua vida. Entrou no grupo Secos & Molhados no início dos anos 70 buscando espaço, querendo transcender a figura do simples cantor. "A coisa aconteceu mesmo quando eu cheguei no Secos. Nós íamos estrear e perguntei: ‘o que vai sobrar de espaço pra mim?’. Não queria ser crooner - eu vinha do teatro, assumia três personagens na mesma peça. Então, quando entrei no palco pela primeira vez, assumi aquela persona", afirma ele no filme.
Em meados dos anos 80, um momento de profunda importância em sua carreira é retratado: Ney pára sua locomotiva, que vinha a toda desde sempre, e resolve não repetir mais aquela fórmula. O artista surpreende a todos mais uma vez, quando deixa de lado o figurino exuberante, veste um terno e encontra outro personagem, a partir de um convite de Arthur Moreira Lima para o show que foi batizado de O Pescador de Perólas.
"Sempre me entendi como um personagem, mas que liberava uma parte do meu inconsciente. Como eu não era alguém, isso me deu uma liberdade impressionante. E percebi, então, com essa coisa de não ter rosto, que eu desenvolvi uma coragem para a exposição física, que eu não supunha que existisse dentro de mim. Foi uma coisa de psicanálise, de catarse."
Ney no cinema
O cinema se conecta definitivamente à carreira de Ney Matogrosso a partir do filme Sonho de Valsa, de Ana Carolina, rodado em 1987. No ano seguinte, o cantor encarou novamente as câmeras no curta experimental Caramujo-Flor, interpretando o poeta Manoel de Barros. O filme recebeu vários prêmios em importantes festivais de cinema, como os de Brasília e Gramado. Recentemente, Ney atuou em dois curtas (Depois de Tudo, de 2008; e Homem-Ave, de 2010) e nos longas Diário de um Novo Mundo, de Paulo nascimento, de 2005; e em Luz nas Trevas, de 2010 (continuação do prestigiado filme O Bandido da Luz Vermelha, de Rogério Sganzerla, filmado em 1968), com direção de Helena Ignez e Ícaro Martins.
Caio Cesaro
Um dos fundadores da Mostra Londrina de Cinema, hoje Festival Kinoarte, Caio Julio Cesaro é doutor em Multimeios pelo Instituto de Artes da Unicamp (2007) e mestre em Comunicação e Mercado (2001) pela Faculdade de Comunicação Social Casper Líbero (1997). Seu principal trabalho acadêmico apresenta uma perspectiva técnica e crítica da aplicação da tecnologia na recuperação de acervos cinematográficos. É docente desde 1999. Ministra cursos e realiza palestras sobre a produção e a circulação audiovisual e a gestão de projetos culturais.
De 2004 a 2013, Caio Cesaro trabalhou na Kinopus Audiovisual, ocupando diversas funções. É produtor de inúmeros filmes, como Saudade, Cine Paixão e Satori Uso, premiados em diversos festivais nacionais e exibidos no exterior. Tem textos publicados em veículos como Revista de Cinema, Revista Filme Cultura e Ensaios Fotográficos. Entre 2006 e 2013, foi coordenador de Comunicação e Circuitos da Programadora Brasil, sendo responsável pelo cadastramento e acompanhamento de mais de 1.500 pontos de exibição audiovisual de circuitos não comerciais de todo o País. Desde 2010, integra o Conselho Editorial da Revista Alterjor, vinculada ao Grupo de Pesquisa em Jornalismo Popular e Alternativo da ECA/USP. Atualmente é coordenador geral de Fomento e Incentivo às Atividades Audiovisuais da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura.
Serviço:
O quê: Exibição do filme "Olho Nu", com presença de Joel Pizzini e Ney Matogrosso
Quando: 29 de setembro
Horário: 19h30
Onde: Cinesystem do Londrina Norte Shopping
Quanto: R$ 7,00 (inteira) e R$ 3,50 (meia)