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A vida num clique

Internet: casais se encontram e desencontram na rede

Micaela Orikasa - Folha da Sexta
04 set 2009 às 09:27

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- Marcos Zanutto/Equipe Folha
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Um clique, hoje em dia, é suficiente para traçar um rumo em nossas vidas, e em outros casos, até mudá-lo. O envolvimento com a web chega a ser tão profundo que as pessoas encaram duas vidas: a real e a virtual.

Basta entrar no site de busca mais popular e colocar o nome de uma pessoa. Em segundos, um mundo de informações se abre diante da tela e revela dados pessoais, alguns até muito íntimos.

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Essa é a realidade de quem se expõe demasiadamente na internet. Porém, o que pode ser problema e incômodo para muitas pessoas, para outras acaba sendo um aliado nas relações interpessoais e até profissionais.

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É o que aponta um estudo publicado pelo IDGNow! nos Estados Unidos. Segundo a pesquisa, 45% dos usuários de internet no país (número que corresponde a quase 60 milhões de internautas) dizem que a web ajudou-os a tomar decisões importantes ou negociar a entrada de momentos marcantes de suas vidas.

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Essas informações, colhidas pelo Centro de Pesquisa Pew Internet & American Life Project, serviram para medir o crescimento do impacto da internet na vida das pessoas. Partindo desse contexto, até que ponto a rede pode influenciar no relacionamento entre casais?


Para as psicólogas Ana Cristine Ruppenthal e Mariana Amaral, essa é uma questão que deve ser estabelecida entre os parceiros e vai depender muito de como se relacionam e como lidam com a exposição nos sites de relacionamentos.

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''É necessário que o casal defina algumas regras claramente, pois hoje a comunicação está voltada para a internet e, quando não há um contrato adequado entre ambas partes, ela passa a ser uma fonte de queixa'', observa Ana.


Outro ponto importante é preservar a individualidade e saber que em uma relação alguém sempre terá de ceder um pouco para que o compromisso tenha equilíbrio. ''É legal que cada um mantenha sua privacidade, mas é preciso ficar atento o quanto a internet está influenciando na tomada de decisões, insegurança e ciúmes do casal'', ressalta Mariana.

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Para as psicólogas, a vida on-line é semelhante à real, pois ambas passam por rotinas e mudanças. ''Muita gente já está percebendo que esse processo de hiperexposição não é bom e, aos poucos, começa a mudar e até evitar. Com o passar do tempo, acredito que as pessoas vão acabar se adaptando à vida virtual, mas diferenciando-a muito bem da real. E passarão a ter mais cuidado com o relacionamento on-line'', observa Ana.


Desconectados

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Um recado muito intimista levou o casal Paula Marques, de 25 anos, e Fabrício Lobrigatte, 26, a rever sua participação em sites de relacionamento. ''Eu não gostei de um recado que deixaram para a Paula e, por isso, achamos que era hora de repensar se deveríamos ou não nos manter conectados'', explica.


E a decisão foi romper com os perfis online. Como foi em comum acordo, eles garantem que não houve arrependimentos. ''Uma relação, por mais que seja boa e bem resolvida, sempre está sujeita a ciúme e insegurança provenientes destes sites de relacionamentos. Muitas vezes, nem existe um motivo forte, mas já é algo que compromete a confiança e o conforto do casal'', argumenta Paula.

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Porém, o casal não nega que exista um lado ruim pela perda de contato, principalmente com amigos que moram muito longe ou então, que não encontram há muitos anos. ''Mesmo assim, a gente consegue manter as relações de outra maneira, através do e-mail. Até porque não é do nosso perfil ficar muito tempo na internet'', diz Fabrício.


Entre e-mails e cartas

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Durante um ano, o amor que move Jéssica Lane dos Santos, de 20 anos, e Francisco Castilho, 23, teve de ser alimentado por muitas noites de saudade e longas conversas pela internet.


‘Em 2007, ele foi morar em Paranavaí para jogar futebol profissional, e eu fiquei em Matinhos com minha família. Nesse período, tivemos de usar a web para alimentar nossa paixão’, conta ela, que entre diversos e-mails, recados apaixonados no Orkut e madrugadas adentro teclando no MSN, ainda não estava contente. ‘Escrevia muitas cartas também. Acho muito mais romântico, mas é claro que não é prático como a internet, então foram poucas’, diz.


Hoje, Jéssica e Francisco estão de volta à Londrina, mas continuam adeptos dos sites de relacionamento. Questionados sobre ciúme e insegurança, o casal afirma lidar bem com a exposição virtual, mas confessa que foi preciso ter uma conversa para chegarem a um acordo.


‘A gente sabe dividir muito bem essa questão, até porque procuramos não fazer nada que o outro não vá gostar. Sempre que aparece algum problema relacionado a isso, sentamos e conversamos. É o mais sensato’, confessa ela.


Completados três anos de namoro, o casal decidiu trocar alianças de noivado e espera subir ao altar no ano que vem. Para eles, a distância não conseguiu separar o amor que os move, mas se não fosse a internet ficaria um pouco mais difícil.


Unidos pelo Orkut


Uma distância de 600 quilômetros e a presença de mais de mil pessoas os separava, mas mesmo assim, eles garantem que foi amor à primeira vista. Ana Caroline Vecchia, de 26 anos, descreve sua história como um conto de fadas, que surgiu através da internet.


‘Participei de uma comunidade de música, que tinha mais de mil membros cadastrados. Assim que entrei na página, olhei para uma foto em especial e me interessei na hora’, conta.


Ele, Arthur Giacomin, de 21 anos, que morava em Americana, interior de São Paulo, adicionou Ana à sua rede de amigos, mas nem imaginou que ela seria a mulher com quem iria, nos próximos dias, teclar durante várias madrugadas.


‘Teclamos durante dois meses. Nesse tempo, eu já nem queria mais saber de outra pessoa. Para mim, ela já era minha namorada’, revela. O encontro real mesmo, só aconteceu quando Arthur veio para Londrina e trouxe consigo uma aliança de compromisso.


‘Voltei para Americana com uma aliança no dedo e planos de morar aqui. Enquanto isso não se concretizava, nós utilizávamos o Orkut e o MSN para conversar’, diz ele.

O namoro durou seis meses e logo veio o casamento e um filho, Felipe, de 1 ano e dois meses. ‘Muita gente achava que não ia dar certo, que era uma furada. Hoje, no entanto, essas mesmas pessoas acham nossa história linda’, comenta Ana, que continua utilizando os sites de relacionamento, porém com mais cautela para preservar a privacidade e não criar motivos de discussão entre eles. ‘O próprio Orkut criou ferramentas para restringir pessoas, recados e acessos. Hoje, a gente continua usando a web para se comunicar com amigos’, acrescenta.


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