De tempos e tempos, notícias sobre mortes durante cirurgias plásticas obtém grande repercussão na mídia e comove a população porque na maioria das vezes os pacientes são jovens. A última que ganhou grande destaque na mídia foi da jornalista Lanusse Martins. Ela morreu no dia 25 de janeiro durante uma cirurgia de lipoaspiração em uma clínica de Brasília (DF).
De acordo com a delegada que preside o caso, Martha Vargas, ela foi vítima de erro médico e cirurgião Hackel Cabral deve ser indiciado por homicídio doloso com dolo eventual (quando o médico assume o risco de matar). A pena para estes casos vai de seis a 20 anos de detenção.
Quatro dias após morte da jornalista, o Conselho Federal de Medicina (CFM) anunciou no dia 29 a elaboração de um novo protocolo de segurança para cirurgia plástica, que irá indicar procedimentos que devem ser seguidos em plásticas.
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Segundo o CFM, o protocolo será uma espécie de "check list", com todos os procedimentos que devem ser adotados nas diferentes etapas de uma cirurgia plástica. O documento deve abranger orientações de indicações cirúrgicas, os exames pré-operatórios necessários em cada caso, informações sobre anestesia e atendimento pós-cirúrgico e as condições ideais do local para a realização da operação.
Além do protocolo, o CFM irá fiscalizar os cursos de formação de profissionais para a prática da lipoaspiração. De acordo com o coordenador da Câmara Técnica de Cirurgia Plástica do CFMA, Antonio Gonçalves Pinheiro, a medida será tomada haja visto que na maioria dos casos em que houve complicações, os médicos haviam feito apenas cursos de lipoaspiração de fim de semana, com um dia de atividade teórica e dois dias de atividade prática.
O que pode tornar a cirurgia plástica mais segura?
1) Na hora da escolha do profissional, título de especialista é fundamental
Segundo o cirurgião plástico, Ruben Penteado, uma das maiores preocupações dos cirurgiões, hoje, é explicar à sociedade que o sucesso de uma cirurgia plástica também envolve a escolha de um profissional gabaritado pelo paciente. "Dados do Conselho Regional de Medicina de São Paulo, Cremesp, revelam que cerca de 97% dos médicos que respondem a processos éticos-profissionais relacionados a cirurgias plásticas e procedimentos estéticos não possuem título de especialista na área", diz o médico.
Os planos de saúde, hospitais e o SUS exigem o título de especialista quando contratam um médico especialista. "Mas quando a procura envolve a cirurgia plástica e os procedimentos estéticos, que não contam com cobertura dos convênios e do SUS, o próprio paciente faz a escolha destes profissionais. Temos que educar a população para que ela possa escolher apropriadamente estes profissionais. É importante fazer alertas constantes sobre os riscos dos tratamentos com profissionais não habilitados", defende o cirurgião plástico, que dirige o Centro de Medicina Integrada, em São Paulo.
2) Não acreditar em propagandas enganosas
A publicidade médica irregular é a infração mais recorrente nos processos analisados pelo Cremesp que envolvem a cirurgia plástica e os procedimentos estéticos. Esta prática abrange a exposição de pacientes (mostrando o "antes" e o "depois"), a divulgação de técnicas não reconhecidas, de procedimentos sem comprovação científica e a mercantilização do ato médico (anúncios em quiosques de shoppings, promoções onde o "prêmio" é uma cirurgia plástica, consórcios e crediários para realização de cirurgias plásticas).
Ao se deparar com anúncios que prometem ‘maravilhas’ e ‘facilidades’, o paciente deve ficar alerta. "A cirurgia plástica não pode ser oferecida como uma vantagem, uma bagatela, um grande negócio... Ela é uma cirurgia como outra qualquer, com todos os riscos envolvidos em qualquer cirurgia. Você escolheria num quiosque de shopping um cirurgião cardiovascular para operar o seu coração? Você aceitaria ganhar numa promoção um transplante de um órgão que você necessita muito? Certamente, não. O pensamento em relação à cirurgia plástica deveria ser o mesmo, mas não é", afirma Ruben Penteado, que é membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.
Quando o assunto é lipoaspiração, a propaganda enganosa pode confundir o paciente e comprometer sua escolha. "Minilipo, Lipinho ou Lipo Light... Os nomes seduzem e podem até confundir quem deseja melhorar o contorno corporal, mas tem medo de se submeter a uma cirurgia. Não considero apropriado ‘mascarar’ o procedimento, lipoaspiração é sempre lipoaspiração, com os seus riscos e benefícios", afirma o cirurgião plástico.
O que aparentemente pode ser traduzido como uma vantagem para o paciente - o preço reduzido - pode tornar-se uma chateação a longo prazo. Segundo o cirurgião plástico, é desaconselhável fazer várias lipoaspirações de pequeno porte por ano, ou seja, se submeter a várias ‘minilipos’ pode sair o mesmo preço de uma lipoaspiração habitual, só que com muitos mais riscos à saúde, pois são vários pós-operatórios.
"As ‘minilipos’ estão sujeitas às mesmas complicações de uma cirurgia de grande porte. Entre os riscos ligados à lipoaspiração estão a possibilidade de retirar gordura demais e deixar o local lipoaspirado um pouco afundado ou de a pele não se retrair e restar um excesso de pele ou gordura, principalmente quando não há elasticidade suficiente", alerta o médico.
3) A lipoaspiração deve ser sempre muito bem indicada
De acordo com Ruben Penteado, a lipoaspiração é um dos procedimentos mais realizados no mundo. Entretanto, não é recomendado para quem deseja emagrecer. A cirurgia é indicada para os que desejam remodelar o corpo, retirar a gordura localizada, após o emagrecimento. Sendo assim, ela é ideal para pacientes próximos de seu peso ideal e precisa ser muito bem indicada. "Para garantir a segurança do procedimento é aconselhável solicitar todas as orientações, certificar-se sobre a escolha de profissionais capacitados para realizar o procedimento e ter ciência de que a lipoaspiração somente poderá ser realizada por cirurgião plástico habilitado, segundo normatização do próprio Conselho Federal de Medicina", recomenda Ruben Penteado. A lipoaspiração deve ser feita sempre em um ambiente cirúrgico - um hospital ou uma clínica muito bem equipada - respeitando os procedimentos de assepsia e preparados para qualquer intercorrência.
4) Clínica ou hospital?
Uma dúvida muito comum em relação à cirurgia plástica é se o melhor é fazer o procedimento numa clínica ou num hospital. Na verdade, "o local onde o cirurgião plástico decide fazer a cirurgia depende do tipo de procedimento a ser realizado e do estado de saúde do paciente", explica o médico, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.
Do ponto de vista da legislação, imposta pelo Ministério da Saúde e fiscalizado pelos Conselhos de Medicina e pela Vigilância Sanitária, tanto as clínicas de cirurgia, quanto os hospitais estão habilitados para executar o procedimento operatório e também para prestar o pronto-atendimento de urgência no caso de complicações. A Resolução CFM N°1.886/2008 dispõe sobre as normas mínimas para o funcionamento de consultórios médicos e dos complexos cirúrgicos para procedimentos com internação de curta permanência. A íntegra do documento pode ser lida em: http://www.portalmedico.org.br/resolucoes/cfm/2008/1886_2008.htm
Segundo Penteado, os órgãos regulatórios são severos na fiscalização rotineira, de acordo com o risco oferecido pela atividade, observando as exigências relativas à estrutura física, equipamentos, profissionais e contratos de prestação de serviços com terceiros. O médico explica que nenhuma clínica ou hospital é obrigado a manter uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), mas o Ministério da Saúde requer das empresas que atuam nesse ramo pelo menos um pacto com prestações de serviços de pronto-atendimento de urgência para casos de complicações. "A obrigação é oferecer o pronto-atendimento, não importa se próprio ou de terceiros. Quando a clínica ou hospital não dispõe de UTIs, há os contratos com empresas que prestam o serviço de apoio móvel", explica Ruben Penteado.
Saiba
No Brasil, a lei não exige que médicos tenham especialização em cirurgia plástica, ou em lipoaspiração para realizar o procedimento. Mas, o CFM recomenda que os pacientes procurem profissionais com qualificação específica.
De 2004 a 2008, o CFM julgou 238 denúncias de erros médicos ocorridos durante cirurgias plásticas. Resultado: seis profissionais tiveram o registro cassado 35 médicos tiveram censuras públicas (advertências) e 89 processos foram arquivados.