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'Novo normal'

Indústria têxtil corre para produzir roupas que barram o contágio pelo coronavírus

Pedro Diniz - Folhapress
20 jul 2020 às 08:36
- Reprodução/Pixabay
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A dúvida de Noel Rosa no samba "Com que Roupa Eu Vou" assume novos contornos na pandemia. Saber o que vestir não é mais questão de gosto, mas de saúde. E, a depender da moda, fugir da "praga de urubu" lembrada nos versos dele não vai se resumir a usar máscaras, mas a todo um look feito sob medida.

Corre desde abril nas entranhas das indústrias química e têxtil e, já no mês passado, na ponta da confecção, uma corrida para lançar peças capazes de evitar a infecção cruzada – quando o vírus passa de uma superfície infectada para contaminar alguém.

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A largada da competição se justifica. Imagens de pessoas indo ao mercado paramentadas com luvas, duas máscaras sobrepostas, "face shield" e roupas fechadas pipocaram nas redes ao mesmo tempo em que infectologistas passaram a recomendar a lavagem imediata das peças usadas na rua.

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O ápice foi a abertura em junho de uma loja em Miami, a Covid Essentials, que vendia de máscaras e termômetros hi-tech até esterilizadores de superfície, dando verniz moderninho à demanda por proteção no tal "novo normal".

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O primeiro anúncio veio da firma suíça HeiQ, ainda em março, quando lançou o Viroblock NPJ03, um tipo de resina feita com nitrato de prata aplicada no tecido que, segundo testes, retém mais de 99% de diversos tipos de vírus e bactérias em até meia hora.


Na sequência, tecelagens da Itália, país fornecedor de matéria-prima e produtos acabados para a indústria do luxo, abraçaram a ideia e passaram a testar o químico em tecidos.

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Em paralelo, no Brasil, a empresa TNS Solutions passou a projetar uma versão de sua própria tecnologia bactericida na tentativa de chegar a uma substância antiviral.


"Ninguém imaginava que chegaríamos a esse estado do vírus, por isso a potencialidade virucida dos íons de prata não havia sido testada. Fomos os primeiros a ganhar a certificação e, desde abril, passamos de cinco para 70 projetos por mês de empresas interessadas", afirma o gerente comercial da TNS, Gustavo Miranda. Ao todo, ele diz, 15 países já compram a versão em pó, resina e líquido do composto.

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Os testes nos tecidos foram realizados com a Universidade Federal de Santa Catarina e a Unicamp, com tipos de coronavírus anteriores ao atual. Os resultados foram similares aos da experiência suíça e logo começaram testes de lavagem em laboratórios, financiados pela malharia Dalila Têxtil.


Atualmente, testes indicam eficácia na retenção de vírus como os da família do novo coronavírus, em até 30 lavagens. Mas o CEO da Dalila, André Klein, tem esperança que os novos experimentos aumentem esse número para até 50.

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"Proteção é uma questão urgente da indústria. Com novos laudos, esperamos que haja um efeito cascata no varejo e a tecnologia esteja disponível. Para as marcas, é uma oportunidade de oferecer algo relevante e, para as têxteis, uma solução para diminuir o impacto da queda dos pedidos", afirma Klein, que já investiu cerca de R$ 200 mil na empreitada.


Ele diz que acaba de fechar parceria com o colégio Bandeirantes, em São Paulo, para a confecção da malha antiviral dos uniformes dos alunos.

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Essa nanotecnologia com íons de prata já é usada para, por exemplo, espantar mau cheiro da roupa. A revolução havia chegado à roupa esportiva, mas até o fim do ano deve chegar aos grandes players do varejo em outros segmentos.


Segundo fornecedores, a varejista C&A, a marca masculina Aramis, a de moda íntima Lupo e parte da elite criativa nacional, como a estilista Gloria Coelho, já têm projetos avançados para criar peças antivirais.

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"Mesmo com a vacina, a preocupação permanece e a indústria tem de estar pronta. Já falamos de tecnologia vestível, mas a aplicação virou urgente", diz a diretora de marketing da Lupo, Carolina Pires.


O fio de poliamida usado pela marca é do grupo Rhodia, que conseguiu criar um polímero que, aplicado na confecção do próprio fio, resiste ao tempo e, a empresa afirma, não sai com lavagens caseiras.


O senso de urgência já levou outras etiquetas à guerra das vitrines, como a de roupa íntima Hope, a de moda masculina Oriba, a de peças tecnológicas Insider e de moda sem gênero Jay Boggo. Todos lançaram há poucas semanas suas próprias linhas antivirais.


Segundo Rodrigo Ootani, da Oriba, a questão sobre têxteis antivirais é que não faria sentido aplicar a tecnologia a qualquer peça. "Qual é a utilidade de ter uma camiseta que com 20, 30 lavagens perde suas propriedades? Se pensarmos em peças que não se lavam com frequência, como calças, casacos e jaquetas, tudo bem", diz.


A marca lançou moletons mais pesados, com tecidos da Dalila embebidos da tecnologia da TNS. Enquanto o mercado trabalha com gramatura média de 200 gramas, os moletons da grife são quase armaduras de 350 gramas feitos de matéria-prima orgânica. Em agosto, uma jaqueta de sarja será lançada no site da marca.


Mas o grande propulsor da onda deve ser a brasileira Vicunha, que planeja lançar sua linha de tecidos antivirais. Uma das maiores fornecedoras para grifes de jeans, ela desenvolveu junto à suíça HeiQ sarja e denim com tecnologia antiviral.
Essa parceria se deu pelos níveis de certificação exigidos pelo varejo internacional, principalmente o da Europa, um dos mercados-chave da empresa.


"Nesse momento, a função primordial da moda é diminuir o medo de comprar e usar roupas", diz o diretor comercial da Vicunha, German Silva.


Ele acrescenta, no entanto, que a nova tecnologia não invalida os cuidados pessoais com a higiene e que as inovações são só uma precaução adicional.


"O denim e a sarja não poderão passar por lavanderias", afirma Silva. "E, em casa, o consumidor terá de ter cuidado com a temperatura da água."

Ou seja, rasgos, manchas fashionistas e aplicações nas peças de jeans estão, por ora, proibidas nesse novo uniforme. Mas, parafraseando Noel Rosa, se "a vida não está sopa" e "o terno virou estopa", qualquer ajuda já é alguma coisa.


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