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Mulheres relatam pressão por priorizar liberdade e carreira a ter filhos

Leonardo Volpato - Folhapress
25 ago 2020 às 10:33
- Reprodução/Freepik
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Ter um filho é um dos momentos mais bonitos da vida de qualquer pessoa. Mas há quem decida não ter essa experiência, seja por priorizar a carreira ou a vida social ou por ter passado por algum trauma, seja por não ter encontrado o parceiro que julga ideal.


Um pouco disso tudo moldou a posição da empresária e influenciadora digital Eliana Amaral, 40. Com apenas um ano de vida, ela perdeu a mãe. Aos seis anos, veio o baque da morte do pai, e esse cenário na infância fez com que Amaral rejeitasse a ideia de gerar um bebê. Ela sempre teve medo, por exemplo, de não ser presente na vida do filho e dar a ele tudo o que merecesse.

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Quando completou 33 anos, a empresária concluiu que era a hora de decidir se queria ou não engravidar. Mas, como não se viu em uma relação bacana, decidiu que teria dois cachorros. Hoje, ela se diz realizada como mãe de pet. "Fui criada pelos meus irmãos e minha avó. Há sete anos, resolvi ter meus bichinhos. Todos me criticam pela maneira como trato os dois.Quando viajo, eles ficam com babá. Faço festas de aniversário para eles ", diz Amaral sobre Chanel, uma yourkshire, e Léo, um maltês.

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De família grande, Eliana Amaral tem mais de 15 sobrinhos e diz ser a única da turma que não tem filhos e que ninguém nunca a pressionou a ter. De toda a forma, ela achou melhor congelar os óvulos, caso mude de ideia.

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Aos 59 anos, a escritora e blogueira Ellen Dastry afirma que nunca sentiu vontade de ter uma criança e resolveu seguir por outros caminhos. Em seu primeiro casamento, o trabalho a fez adiar a gestação. Após a separação, postergou mais uma vez a ideia até perceber que a maternidade não era um sonho.


Hoje casada há quase 20 anos com o engenheiro civil e administrador Hugo Sterman, 70, Dastry decidiu usar o tempo com ele para viajar, passear e curtir a vida. "Uma sobrinha minha, que também não se anima a ter filhos, um dia me perguntou se eu me arrependi de não ter tido os meus. Minha resposta foi não. Tive uma irmã generosa, que dividiu comigo a maternidade."

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O marido dela já tinha dois filhos do primeiro casamento, e ela se considera avó. "A vida me proporcionou o melhor da criação: dou amor, passeios, bolos, comidas especiais, brinquedos incríveis, momentos inesquecíveis. Não preciso mandar escovar os dentes, ir para a escola. Sou o momento da transgressão. Quer melhor?"


O desejo de ter um filho também nunca fez parte da relação entre o coordenador artístico Ricardo Seguro Duarte Geraldes, 32, e a assistente de direção Priscilla Moretto, 41, juntos há oito anos. Eles afirmam que sabiam desde o início que não queriam abrir mão da liberdade e da vida social agitada.

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"Claro que, como mulher, há um certo tempo de validade e isso virou uma questão aos 36 anos. Pensei em congelar os óvulos, mas eu e o médico decidimos que era melhor não. Sempre ouvi que era um problema eu não querer ser mãe. Mas não consigo ver uma criança em minha vida", diz Moretto.


Geraldes diz que até pensava em ter filho antes de conhecer Priscilla, mas que com a convivência, tomaram juntos a decisão. "Temos nossa liberdade, viagens e mochilões que gostamos muito. Priorizamos isso. E temos sobrinhos lindos que amamos."

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Para a atriz e sócio-diretora de uma plataforma de streaming Luciana Damasceno Soares Ribeiro, 36, e o ator Daniel Jaber dos Santos Rodrigues, 34, a decisão de não ter filhos faz parte de uma missão. Juntos há 16 anos, eles dizem que difundir a arte e viver disso é algo mais importante.


Ribeiro conta que aos 12 anos já sabia que trabalharia com arte e não teria filhos. "Decidi dedicar a vida a isso. Sabia que queria ser atriz, bailarina, estudar cinema e fazer do mundo um lugar melhor. Quando encontrei Daniel compartilhamos do mesmo desejo."

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Ela afirma que, por ser mulher, sofre mais com o julgamento alheio, fruto do machismo. "Para a mulher é um julgamento maior e mais grave essa escolha. Parece que você só é completa como mulher se for mãe. Escuto isso de familiares, amigos, conhecidos, e isso dói."


Para Rodrigues, é difícil saber se os tempos vão mudar a ponto de as pessoas entenderem melhor as escolhas de cada um ou se eles próprios terão de continuar se afirmando. "É é a nossa escolha. Temos isso bem resolvido. Fui criado com alguns valores e questões religiosas e tradicionais, mas, com o tempo, a arte me ajudou a ter poder de escolha."

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Famosas gostam mais de ser madrastas


A atriz e cantora Samantha Schmütz, 41, se diz muito bem resolvida com a decisão de não ter filhos. Ela diz que nunca teve o sentimento aflorado para virar mãe e se considera uma pessoa que gosta de se dedicar 100% para realizar suas coisas e não consegue se ver dedicada ao máximo na carreira e ao filho, ao mesmo tempo.


"A minha carreira, naturalmente, é uma coisa que me consome e me alimenta de uma forma que me faz sentir completa. É claro que ter um filho deve ser uma experiência maravilhosa, mas não caio no clichê de dizer que uma mulher só é completa quando engravida", afirma.


Casada com um americano, Samantha diz que adora crianças e que sempre teve uma relação incrível com os seus sobrinhos. "Mas eu tenho um pouco de medo dessa responsabilidade de ser mãe. Sou uma pessoa muito preocupada, dramática. Eu iria sufocar a criança, teria medo de deixar ela cair, de machucar. Imagino que o trabalho mais difícil do ser humano é o de educar uma criança e prepará-la para o mundo."


A atriz Mariana Xavier, 40, compartilha do mesmo sentimento. Ela conta que desde pequena a ideia de parir e de ser submetida a uma cirurgia e injeções a assustava. Com a maturidade foi esquecendo o medo, mas não a ideia de deixar a maternidade de lado.


"Nunca descartei completamente [a ideia de ser mãe], mas nunca foi sonho. Fui casada uma vez, meu ex botava pilha, e naquele momento me passou pela cabeça, pela paixão. Só que graças a Deus eu fui muito firme quando disse que só teria com vontade minha. Porque esse relacionamento, depois eu vi, era muito abusivo, minou meu psicológico", relembra.


Hoje, Xavier afirma que adora cuidar dos dois filhos do namorado, Diego Braga, e que ser madrasta é a melhor opção para ela. "Cada pessoa tem que descobrir seu próprio modelo de felicidade. Nesse momento, prefiro ser madrasta a ser mãe. Importante é termos liberdade para decidir o que queremos. Amo as crianças e, sendo madrasta, posso ser a melhor pessoa que eu consigo ser para eles. Até porque tem hora para devolver", diverte-se.


Sobre a velha pergunta que muitos fazem para quem não tem filhos, 'e quem cuidará de você quando envelhecer?', Mariana é taxativa. "É sério que acham razoável colocar uma vida no mundo para que ela cuide de você? Acho de muito egoísmo. Queremos que eles tenham autonomia e coragem, e não sirvam para suprir as expectativas de alguém. E ter filho não é garantia de que você será bem cuidado, senão não teríamos tantos idosos abandonados e em depressão."


Pressão não é saudável


Especialista em terapia cognitiva e comportamental, a psicóloga Ana Paula Ribeiro Imbuzeiro afirma que a pressão de familiares "não é saudável e gera desconforto. "As pessoas são livres para escolher o que é melhor para elas. Pressão pela maternidade gera desconforto. Contudo, vai de cada casal se colocar à frente dessa discussão para que todos ao redor entendam seus pontos de vista e respeitem."


A especialista afirma que ter ou não um filho é uma questão de individualidade. "Percebo que essa individualidade pode ter uma questão cultural. As mulheres têm menos necessidade de se realizar como mãe."


Além de não ser nada salutar a tal pressão social, também é ruim rotular as mulheres sem filhos como egoístas. "Estamos em uma cultura diferente. Antes era quase que uma norma você ser mãe. Hoje as pessoas têm o direito de ter outras prioridades. É preciso entender a nova conjuntura social que nos cerca e as novas perspectivas."

Para a psicóloga, é possível, sim, ser feliz sem filhos, mas aconselha que a decisão seja tomada após muita reflexão. "O arrependimento pode ser frustrante caso a mulher não consiga mais engravidar. É muito relevante que esses riscos sejam dosados antecipadamente. É uma questão de diálogo continuo com o parceiro."


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