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Brasil não é seguro para LGBTs, diz diretor de ONG de refugiados

Angela Boldrini - Folhapress
21 jun 2021 às 10:51
- Pixabay
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Para o canadense Kimahli Powell, diretor-executivo da ONG Rainbow Railroad, o Brasil não é um país seguro o suficiente para pessoas LGBT. "O Brasil, por exemplo, aceita refugiados, mas dado o clima em relação às pessoas LGBT, nós pensaríamos muito antes de colocar alguém no país", afirmou ele à reportagem em entrevista por meio de videoconferência.

A ONG ajuda pessoas LGBT perseguidas em seus países a se mudarem para lugares onde não serão agredidas devido à sua orientação ou identidade de gênero.

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Na última terça-feira (15), um evento virtual sobre migrantes LGBT organizado por entidades do Paraná foi interrompido por ataques racistas e gritos de "Bolsonaro 2022".

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De acordo com Powell, o governo Jair Bolsonaro é um dos principais focos de preocupação da ONG. "Quando um agente estatal, seja a polícia, o governo ou o chefe de Estado, como é o caso do Brasil, fala contra os LGBTs, isso gera perseguição", afirmou.

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"Prefiro que um filho meu morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí", disse em 2011 o então deputado federal, por exemplo.


Powell chamou a atenção para a situação da população transexual brasileira, que frequentemente sofre violência e é vulnerável economicamente. "Você pode ter um milhão de pessoas na Parada Gay e ainda assim ter uma parte da comunidade que seja alvo de perseguição."

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O diretor-executivo foi um dos participantes do Fórum de Direitos LGBTQ2+, reunião virtual organizada pelo governo do Canadá nesta semana para discutir a situação dessa população na América do Sul.


Pergunta - Como funciona o trabalho da Rainbow Railroad?

Kimahli Powell - Somos uma organização internacional baseada no Canadá e que também opera nos EUA, e nosso objetivo é providenciar segurança para pessoas LGBT que estão em risco. Nós recebemos pedidos de socorro todos os anos, verificamos todos os casos e vemos se e como podemos ajudar.

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Nosso principal foco é o suporte emergencial para viagem, ou seja, a realocação de pessoas para um país onde elas não sejam perseguidas com base na sua orientação ou identidade de gênero. Em muitos casos, porém, nós também ajudamos a pessoa a se realocar dentro do próprio país e ajudamos com recursos para que ela se mantenha segura.


Como são escolhidos os países de destino?

KP - Nós escolhemos países onde há uma vontade ativa de acolher imigrantes LGBT. Não vamos escolher um país que aceita refugiados, mas que não tem políticas de proteção à população LGBT. O Brasil, por exemplo, aceita refugiados, mas dado o clima em relação às pessoas LGBT, nós pensaríamos muito antes de colocar alguém no país.

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Qual a preocupação com o Brasil?

KP - Nós sabemos que no Brasil principalmente as pessoas trans são alvos desproporcionais de violência. Você pode ter uma Parada Gay com um milhão de pessoas e ainda assim ter uma parte da comunidade que seja alvo de perseguição. Isso se reflete nos pedidos que temos por ajuda. E nós estamos muito preocupados com o Brasil, principalmente nos últimos anos, com a administração atual, que sinalizou políticas mais agressivas contra os LGBTs.


O presidente Jair Bolsonaro já deu declarações homofóbicas em diversas ocasiões. Em uma delas, disse que seria incapaz de amar um filho gay. Qual o impacto disso para as pessoas LGBT brasileiras?

KP - Em vários países nós já encontramos relação entre o discurso de órgãos estatais e o aumento da violência. Quando um agente estatal, seja a polícia, o governo ou o chefe de Estado, como é o caso do Brasil, fala contra os LGBTs, isso gera perseguição. Quando há "permissão" do chefe de Estado, pessoas em comunidades pequenas acabam se tornando alvo de violência da noite para o dia.

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A pandemia trouxe dificuldades para os LGBTs? E para o trabalho da Rainbow Railroad?


KP - A nossa principal preocupação, que acabou se confirmando, era a de que os governos usassem a pandemia como desculpa para atacar a comunidade LGBT. Nós sabemos que grandes eventos sísmicos no mundo geram essa oportunidade.

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O caso mais explícito aconteceu em Uganda, onde a polícia invadiu um abrigo para LGBTs sob a acusação de que eles estavam ferindo o lockdown por estarem em um abrigo. E eles ficaram presos três semanas. Nós tivemos que ajudá-los a se realocar dentro do país depois. E soubemos que houve uma nova invasão de casas de acolhida em maio.


Além disso, existe a questão de que os defensores de direitos humanos não conseguem atuar por causa da pandemia. E nós também sempre viajamos para fazer contatos, trabalhamos muito com organizações locais para ajudar no suporte e isso se tornou muito mais difícil, principalmente quando é preciso fazer esses encontros de forma discreta.


Existe alguma região do mundo que traga mais preocupação a vocês no momento?

KP - Nós temos olhado com cuidado para a situação da América Central e da América do Sul. Na Venezuela, a crise econômica criou a maior crise de refugiados desde a Síria. E de uma forma única, porque não é um país formalmente em guerra. Na América Central, você tem El Salvador, Guatemala e Panamá, onde há uma questão climática e também de violência que resvala nos LGBTs. E o Brasil é um país onde era esperado que as pessoas LGBT pudessem viver tranquilas, mas, dado o clima político, isso não é tão certo.


No Brasil, a população trans é majoritariamente empregada em setores precários, com alta informalidade ou baixos salários. Além disso, grande parte das pessoas transexuais trabalha no mercado sexual. Como isso ficou durante a pandemia?


KP - Isso era uma preocupação para nós em países como o Brasil, em que o governo apoiou medidas que não visavam proteger a população contra o coronavírus. Porque, sem apoio do governo, essas pessoas não podem ficar em casa e não trabalhar.


Isso não ocorre só no Brasil. Ao redor do mundo, nós sabemos que as pessoas mais vulneráveis e que morreram mais de Covid foram aquelas que não puderam ficar em casa.


O nome da organização é inspirado na Underground Railroad [rota de fuga usada por escravos nos Estados Unidos]. Nos casos recebidos, o senhor vê uma intersecção entre racismo e homofobia?

KP - Sim, com certeza. Nós estamos no meio de uma crise global de refugiados –e é importante colocar que isso não é culpa dos refugiados, mas dos governos que não atuam–, e a maior parte das pessoas afetadas são pessoas racializadas. Isso é um fato.


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